A notícia do WO do Figueirense pela segunda divisão do campeonato Brasileiro despertou dúvidas e questionamentos quanto ao modelo de clube-empresa.
Primeiramente, é importante frisar que o modelo, por si só, não é a solução para que um clube tenha sucesso financeiro e desportivo. E a recíproca é verdadeira: um clube de caráter associativo também não está fadado ao fracasso.
Em relação à segunda afirmativa, é possível encontrar exemplos de sucesso de clubes brasileiros no modelo associativo. Tais clubes, entretanto, iniciaram seus processos de melhoria de gestão anos atrás e apresentam características específicas, como grandes torcidas, cota de televisão diferenciada, patrocinador atuando como mecenas, entre outras.
Podemos dizer, com razoável grau de certeza, que a manutenção do modelo associativo para os clubes que atualmente enfrentam problemas financeiros os levará, no mínimo, à falência desportiva, ou seja, dificilmente terão capacidade de disputar títulos de relevância.
Clubes com esse perfil têm grande dificuldade de captação com investidores, fluxo de caixa asfixiado por penhoras e baixa capacidade de investimento no futebol.
É fundamental estarmos atentos ao fato de que a "culpa" da situação do Figueirense não é propriamente o modelo, mas sim a falta de planejamento, recursos financeiros, governança e gestão. Clubes-empresas podem ser mal geridos, assim como empresas "regulares" também são.
A transformação para um clube-empresa deve prever algumas etapas: (i) discussão sobre o modelo ideal, considerando-se o perfil do clube; (ii) estratégia de funding; (iii) estratégia, de acordo com o perfil do clube; (iv) modelo de governança com prestação de contas; (v) gestão profissional, sem interferência política.
O mercado, incluindo-se aí investidores, dirigentes, torcida, patrocinadores e imprensa, precisa refletir sobre a necessidade urgente de impulsionar a indústria do futebol. Para tanto, é indispensável uma mudança no atual modelo dos clubes brasileiros.
*Daniel Kalume, sócio do Mota Kalume Advogados; Gustavo Hazan, líder da área de Esportes da EY