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Caso Evergrande: lições para o investidor

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Por Sofia Gancedo
Atualização:
Sofia Gancedo. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A Evergrande Group, uma das maiores construtoras da China, colocou o mundo em alerta. Com uma dívida de US$ 300 bi - maior que o PIB de 150 países - está à beira da falência porque não pode pagar os empréstimos e os juros que vencem esta semana. O espectro da inadimplência gera muita preocupação e o governo chinês ainda não se pronunciou sobre um resgate que evite o efeito dominó em setores que estão muito além do mercado imobiliário.

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Nos últimos anos, a Evergrande fez empréstimos para financiar sua divisão de construção. Também se aventurou em negócios como parques de diversões, veículos elétricos e um time de futebol, por exemplo. Da mesma forma, corre o risco de perder 20 mil colaboradores diretos e 3,8 milhões de indiretos. Como se não bastasse, suas dívidas chegam a 171 bancos chineses e 121 financeiras.

Os próximos dias serão decisivos. A empresa deve pagar US$ 83,5 milhões em juros relativos a um título de cinco anos, de acordo com relatórios da Bloomberg. Enquanto isso, os principais índices de ações de Nova York - Dow Jones, S&P e Nasdaq ficaram no vermelho diante do que parecia ser um crash iminente para a Evergrande.

Diante desse cenário, surge naturalmente uma pergunta: como uma empresa desse porte chega a tal situação? Em primeiro lugar, o modelo de negócios da Evergrande tem uma grande fonte de receita com imóveis em construção. No contexto da pandemia, as vendas abrandaram e a empresa não consegue terminar as propriedades comprometidas e nem vendê-las, o que repercute na quebra da arrecadação e no não pagamento dos fornecedores, que, por sua vez, não fornecem materiais por falta de pagamento. Isso cria um ciclo vicioso e um fluxo de caixa de alta pressão, causando impacto nos setores nos quais a empresa tem interferência.

O nível gigantesco de endividamento da Evergrande expôs a empresa a grandes riscos. A crise não é de um setor específico, o imobiliário, porque nesse mercado existem outros modelos de negócios muito mais seguros. A raiz do problema está nos elevados níveis de endividamento e no impacto que uma eventual queda de Evergrande pode acarretar em vários setores, a começar pelos bancos e entidades financeiras a quem a empresa deve dinheiro.

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Acumular dívidas tão altas reduz muito a margem de ação de qualquer companhia, principalmente quando surge uma crise como a da Covid-19, que atinge quase todos os setores da economia mundial. É como dirigir um carro a 200 quilômetros por hora e ter que frear até zero para evitar bater em uma grande barreira.

O caso Evergrande deixa uma mensagem clara para o investidor. Ao escolher onde investir o dinheiro, você não deve apenas olhar para o setor em que ele está investido, mas também para o modelo de negócios da empresa que oferece a oportunidade. Existem perguntas que ajudam: o modelo é de alto risco? Como você poderia responder a uma crise? Quais pessoas e organizações estão em cada projeto? O investidor tem o direito de perguntar e saber.

O caso da Evergrande serve para refletirmos sobre a importância de que os projetos sejam construídos sobre bases sólidas, longe de fraudes ou dívidas insustentáveis. E essa lição pode ser útil a todas as áreas da vida.

*Sofía Gancedo é COO da Bricksave e licenciada em Administração de Empresas pela Universidade de San Andrés e mestre em Economia pela Eseade

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