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Câncer de fígado, um dos tipos de câncer mais letais, precisa de alerta urgente

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Por Paulo Bittencourt
Atualização:
Paulo Bittencourt. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Outubro marca uma chamada global pela conscientização sobre câncer de fígado que, segundo estimativas mundiais, ocupa a 6ª posição entre os tipos de câncer mais frequentes, porém é um dos três tipos de câncer mais letais.

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O Brasil segue esta estatística global, mas aqui o cenário ainda é mais sombrio: 67% dos pacientes acometidos pela doença são diagnosticados no estágio avançado, com poucas perspectivas de tratamento e sobrevida média de apenas 3 meses.

Entretanto, o câncer de fígado é passível de prevenção e tem tratamento quando diagnosticado em estágio precoce, o que faria com que muitas pessoas impactadas pudessem ter suas vidas salvas com informação e acesso a diagnóstico e tratamento.

O câncer de fígado é um tumor silencioso nos seus estágios iniciais. Quando a doença se manifesta, são poucos - ou nenhum - os tratamentos que podem levar à cura ou ao seu controle, como cirurgia, transplante ou radiofrequência. Segundo dados da International Liver Câncer Network (ILCN), o câncer de fígado matou mais de 800 mil pessoas em 2020 - apesar da ciência contar com estratégias eficazes de diagnóstico e tratamento há décadas.

Entre as principais causas para o câncer primário (isto é, que se origina no próprio fígado), estão a cirrose pelas hepatites virais, B e C - a primeira conta com imunização eficaz há quase três décadas no Brasil e tratamento capaz de suprimir a replicação viral - e a hepatite C, que tem tratamento curativo há pelo menos cinco anos. Para ambas, os testes de diagnóstico e tratamentos são disponíveis gratuitamente pelo SUS.

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Basta um exame feito na ponta do dedo, com resultado pronto em menos de 15 minutos.

O IBRAFIG - Instituto Brasileiro do Fígado - encomendou pesquisa ao Instituto Datafolha, para entender o conhecimento da população brasileira sobre câncer de fígado e o descompasso entre frequência e mortalidade. O resultado nos mobiliza ainda mais a integrar e fazer parte de campanhas de conscientização, para evitar que tantas vidas se percam por uma doença que pode ser evitada e, uma vez diagnosticada, controlável se descoberta em seus estágios iniciais.

Pela pesquisa Datafolha, realizada em setembro 2021, 8 em 10 pessoas sabem que é possível fazer testes para as hepatites virais B e C (que estão no topo das principais causas paro câncer de fígado) gratuitamente pelo SUS, mas quase a metade dos entrevistados - 46% e 47%, respectivamente, não o fazem por não sentir necessidade ou dor, ou simplesmente por falta de interesse. (As hepatites virais se desenvolvem na maioria dos casos de forma assintomática, sem dor).

Esse desinteresse pode ser atribuído à falta de informação e de campanhas efetivas e perenes de conscientização.

Apesar do fácil acesso da população, de todas as faixas de renda, aos testes para hepatites virais, o mesmo não acontece com a realização periódica de testes de diagnóstico da saúde hepática - medida principalmente por exames laboratoriais e de imagem (como ultrassom).

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Os dados coletados pelo Datafolha sobre realização de check-up de saúde hepática seguem o padrão de outras doenças: quanto mais alta a renda e a escolaridade, melhores os índices de cuidados com a saúde. No caso do câncer de fígado, 54% de quem tem curso superior, 56% das pessoas das classes AB, moradores do Sul (43%) e Sudeste (41%) formam a parcela da população que realiza exames periódicos para medir a saúde hepática. Entretanto, vale reforçar, uma vez mais, que o acesso à saúde é universal e passa pela informação correta.

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A conscientização esbarra em três fatores: prevenção, rastreamento para aquelas pessoas com fibrose avançada ou cirrose hepática e acesso aos cuidados com a saúde. Portanto, há ainda muito o que fazer e uma necessidade constante de reforçar e estar presente em esforços conjuntos para aprimorar a conscientização e cuidado com a saúde.

O IBRAFIG faz parte da força tarefa global para eliminação das hepatites virais até 2030, pactuada entre a Organização Mundial de Saúde e o Estado Brasileiro, e de campanhas públicas de conscientização sobre câncer de fígado, integrando, a partir deste ano de 2021, a International Liver Câncer Network. Para isso, mantém à disposição da população o número de WhatsApp e telefone 0800 882-2222, para informações sobre locais de atendimento mais próximos, esclarecimentos de dúvidas e envio de material educativo sobre doenças do fígado. Precisamos aumentar esse alcance e reverter essa percepção de que sem dor não há necessidade de cuidar da saúde do fígado.

Por isso, é necessário mais. Contamos com a participação de todos - profissionais de saúde, autoridades sanitárias mídia, para reverter mais este quadro. Nunca a participação coletiva pelo bem comum é tão importante como agora.

Cuide de seu fígado e conte como a todos!

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*Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado; especialista em hepatologia e transplante; coordenador do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Português da Bahia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia

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