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Câmeras de segurança registraram senador acusado de estupro chegando com modelo em flat de SP; veja vídeo e detalhes de depoimentos

Ocorrência contra Irajá Silvestre Filho (PSD-TO), que é filho da também senadora Kátia Abreu (PP-TO), foi registrada na madrugada da última segunda-feira, 23; parlamentar, modelo, amigos dela e funcionários do hotel foram ouvidos ao longo de semana

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Por Fausto Macedo , Rayssa Motta , Pepita Ortega e Paulo Roberto Netto
Atualização:

Câmeras de segurança registraram momento em que o senador Irajá Silvestre Filho e a modelo que o acusa de estupro chegam a hotel em São Paulo. Foto: Reprodução

Imagens de câmeras de segurança obtidas pela Polícia Civil no inquérito que apura a ocorrência de estupro registrada por uma modelo de 22 anos contra o senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO) mostram o momento em que os dois deixam juntos a casa noturna Café de La Musique e chegam a um hotel no Itaim Bibi, na zona sul da capital paulista, na noite do dia 22 de novembro.

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Procurada pela reportagem, a defesa do senador informou que vai esperar o fim das investigações e a 'conclusão da sua plena inocência' para pedir apuração de crime de denunciação caluniosa e falsa comunicação de crime supostamente cometidos pela modelo.

Os registros das câmeras da boate mostram que os dois entregam as pulseiras que usavam e, em seguida, vão até a porta para deixar o local. Outra filmagem do estabelecimento mostra quando os dois caminham pela calçada após saírem da casa noturna. Ele estava com o braço sobre os ombros dela e depois se deram as mãos.

Na recepção do hotel, uma câmera registrou a entrada dos dois, ainda de mãos dadas. Ele, com um copo na outra mão. O senador fala com a recepcionista e recebe a chave de uma suíte que pertence à família dele. Depois, segue com a modelo em direção ao elevador.

O senador abre a porta, mas eles não entram de imediato. Irajá coloca uma das mãos na cintura da mulher. Pela câmera instalada no interior do elevador é possível ver que a modelo mexia no celular. Eles ficam parados por 35 segundos.

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Segundo o depoimento da recepcionista, obtido pela reportagem, os dois aparentavam estar alcoolizados e a modelo hesitou antes de entrar no elevador. Ela teria perguntado ao senador 'onde é que estou' e ele teria respondido: 'você está no meu prédio'. Ainda de acordo com o relato da funcionária, a mulher voltou a perguntar onde estava e, naquele momento, o senador deu a ela o endereço do flat.

Aos policiais, a recepcionista disse também que, diante da hesitação da modelo, chamou um segurança do hotel, achando que a moça não ia querer subir até o quarto do senador. Quando o colega chegou, a funcionária relatou que havia estranhado que a mulher não queria entrar no elevador e perguntou duas vezes onde estava. Pelas imagens dá para ver que os dois funcionários acompanham a movimentação da modelo e do senador pelas câmaras de segurança da recepção.

Ainda de acordo com o depoimento da recepcionista, os dois decidiram que seria melhor que o segurança esperasse cerca de dez minutos e depois fosse até o andar do apartamento. O funcionário teria voltado dizendo que a porta estava entreaberta e que 'estava tudo normal, que não havia escutado qualquer barulho fora do comum'. Em seu depoimento, o segurança confirmou a versão.

A Polícia Militar foi chamada pouco mais de duas horas depois, às 1h36, pelo 190. A ligação partiu da recepcionista depois que um casal de amigos da modelo recebeu pedidos de socorro por mensagem e foi até o hotel. Acompanhado pelo segurança do estabelecimento, o amigo subiu até o quarto e, quando os dois desceram, o funcionário sugeriu que a PM fosse acionada, porque 'haviam escutado uma mulher chorando e pedindo ajuda dentro do apartamento' do senador, contou a recepcionista.

No entanto, antes que os dois tivessem descido, a amiga da modelo também subiu até o quarto e, quando voltou à recepção, já estava acompanhada da vítima. Segundo a funcionária do hotel, a jovem aparentava estar 'em desespero'.

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Quando os policiais chegaram ao hotel, o senador já havia deixado o local. Posteriormente os agentes analisaram as câmeras de segurança e constataram que Irajá havia saído pelo subsolo do estabelecimento. A recepcionista também contou, na delegacia, que um amigo do parlamentar esteve no local e tentou conversar com a modelo, mas foi impedido pelos agentes.

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Um agente publicitário conhecido da modelo também foi chamado a prestar depoimento por ter participado, horas antes do suposto crime, de um almoço no Jockey Club, na zona sul da capital paulista, ocasião em que a jovem e o senador se conheceram. Ele contou aos policiais que um grupo de cerca de dez pessoas esteve junto no evento e que todos estavam consumindo bebidas alcoólicas. Por volta de 18 horas, eles teriam ido a uma festa no apartamento de outra modelo da agência, onde continuaram bebendo e a vítima e o senador se beijaram. Na sequência, já pelas 20h30, apenas o senador, a modelo que alega ter sido estuprada e um amigo dela foram ao Café de La Musique. Às 1h19, o publicitário recebeu um pedido de socorro pelo WhatsApp: "Jean me ajuda, manda a polícia o Senador está me estuprando" (sic), dizia a mensagem, acompanhada da localização do hotel, que só visualizada por ele por volta de 3h.

Embora não tenha ido até o hotel, o publicitário deu detalhes sobre o momento em que a vítima foi retirada do quarto. Isso porque a amiga da modelo teria lhe contado que bateu na porta e o senador abriu para que ela entrasse. Ao ser questionado sobre a vítima, o parlamentar teria respondido: "Está passando mal no banheiro". Após a chegada da amiga, a modelo, nua e 'descontrolada', teria saído do banheiro e tentado agredir o parlamentar.

A versão da modelo

A modelo foi ouvida na última terça-feira, 24. Na ocasião, apresentou aos policiais 'prints' das mensagens enviadas aos amigos pedindo ajuda.

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No depoimento, ela contou que trocou beijos e abraços de forma consensual com o senador durante a festa no apartamento da amiga, já que ele pareceu ser uma pessoa 'confiável, bacana e legal'.

Depois disso, recebeu um convite dele para ir ao Café de La Musique. Ela disse que se lembra da chegada à casa noturna e que, pelo que se recorda, chegou a ingerir bebida alcoólica no local, mas não soube informar o tipo.

Ela afirmou, ainda, que sua última lembrança foi de quando estava dançando. A partir de então afirmou ter tido um 'apagão', um período de amnésia, não se recordando, 'nem mesmo por flash', do que aconteceu.

Ainda de acordo com o depoimento, ela informou à polícia que começou a recobrar a consciência, já com o senador em cima dela, mantendo 'conjunção carnal', a penetrando sem preservativo, e dizendo frases como: 'você é minha', 'estou apaixonado' e 'eu vou te fazer um filho agora'. Ela relatou à polícia que ficou com medo de ser agredida e, por isso, não resistiu ao abuso, mas pedia para ir ao banheiro, tomar água e se comunicar com amigos e com a mãe, sem sucesso, porque ele a mantinha deitada.

Quando conseguiu sair da cama, após dizer que estava passando mal, a vítima se trancou no banheiro e começou a pedir socorro aos amigos através de mensagens pelo celular. Segundo o depoimento, o senador batia 'insistentemente' na porta do banheiro e ela só saiu quando a amiga chegou ao local. Nesse momento, admitiu que tentou agredir o senador.

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A modelo acrescentou que 'teme a exposição indevida de seu nome, pela sua segurança e de sua família, bem como teme por eventuais prejuízos em sua carreira e que deseja que a investigação se mantenha em absoluto sigilo'.

A versão do senador

O senador Irajá foi ouvido na última segunda-feira, 23, e confirmou que conheceu a modelo no almoço e que a conversa evoluiu para uma 'paquera'. Depois do evento no Jockey Club, segundo o parlamentar, a modelo o convidou para a festa na casa da amiga, onde se beijaram e trocaram carícias recíprocas.

O senador acrescentou que, por volta das 20h, foram para a o Café de la Musique. Conforme o depoimento, na casa noturna, eles 'instigaram um ao outro sexualmente' e resolveram caminhar até o flat. Irajá confirmou que os dois tinham bebido, mas disse que nenhum dos dois estava inconsciente.

Questionado sobre o momento em que, já no hotel, a modelo fica parada na porta do elevador e parece relutar em subir ao quarto, o parlamentar disse que ela demorou porque estava enviando mensagens e temia perder o sinal do celular ao entrar.

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Ainda segundo o parlamentar, eles mantiveram relações sexuais de forma consensual e em nenhum momento a modelo demonstrou resistência ou falou que queria ir embora do flat.

O senador afirma que, depois disso, ela demorou no banheiro até que ele recebeu mensagens da amiga da modelo dizendo que a jovem estava pedindo ajuda, porque havia sido agredida. Ele contou que chegou a bater algumas vezes na porta para saber se ela estava bem e que ela 'entrou no banheiro de um jeito e saiu de outra forma'.

Quando a amiga da modelo chegou ao quarto, ela teria informado ao senador que os policiais já estavam no térreo. Ele também contou que recebeu uma ligação de um amigo dizendo que a jovem havia mandado mensagens para outras pessoas pedindo ajuda. Esse amigo foi até o hotel, cruzou com a vítima na recepção e lhe disse que ela 'parecia transtornada'.

Na sequência, Irajá teria ligado para o advogado Daniel Bialski em busca de orientação, porque 'não estava entendendo o que estava acontecendo'.

Em nota, a defesa do senador, composta ainda pelos advogados João Batista Augusto Júnior e Bruno Borragine, informou que o senador se apresentou espontaneamente no mesmo dia para prestar depoimento e se submeter aos exames de corpo de delito e toxicológico.

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Os advogados disseram que as imagens 'revelam justamente o contrário' do que afirmou a modelo. "Eles chegaram de mãos dadas, caminhando tranquilamente, e, mais que isso, mostram que ela manuseara seu celular, conduta incompatível com alguém que estaria alegadamente sem a capacidade e discernimento de seus atos", dizem os advogados.

A defesa sustenta ainda que uma perícia no celular da modelo foi solicitada e que os conteúdos serão peça chave para fornecer detalhes ainda não totalmente esclarecidos.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO DANIEL BIALSKI, JOÃO BATISTA AUGUSTO JÚNIOR E BRUNO BORRAGINE, DEFENSORES DO SENADOR

Procurados pela reportagem, os advogados do senador informaram que vão esperar o fim das investigações e a 'conclusão da sua plena inocência' para pedir apuração de crime de denunciação caluniosa e falsa comunicação pela modelo.

Na última quarta-feira, 25, a defesa divulgou a seguinte nota à imprensa:

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1 - O Senador Irajá Silvestre prestara todos os esclarecimentos necessários desde o episódio, comparecendo espontaneamente no mesmo dia e prestado depoimento à Autoridade Policial, se submetendo aos exames de corpo de delito e toxicológico;

2- O resultado do exame de corpo de delito do nosso constituinte foi negativo, fulminando, de pronto, a alegação da vítima de que teria entrado em luta corporal com ele;

3- A denunciante disse que teria sido supostamente "dopada", "estaria inconsciente" ou com "amnésia" quandoainda estava na companhia do Senador Irajá desde o momento em que estavam com amigos num restaurante da Capital Paulista, o que não condiz com a realidade;

4 -Todas as imagens de CFTV requisitadas, de todos os locais em que estiveram naquela data, revelam justamente o contrário, ou seja, de que eles chegaram de mãos dadas, caminhando tranquilamente, e, mais que isso, mostrando que ela manuseara seu celular, conduta incompatível com alguém que estaria alegadamente sem a capacidade e discernimento de seus atos.

5) Os conteúdos do celular da acusadora serão peça chave para esclarecer detalhes e mistérios ainda não totalmente esclarecidos deste episódio. Destacando que nas duas primeiras idas à delegacia, a acusadora se recusou a entregar o aparelho. Por fim, a defesa peticionou, requisitando a oitiva de diversas testemunhas e diligências, afora as outras que serão produzidas no âmbito do Inquérito Policial, e, aguarda que ao final das apurações, a verdade prevalecerá e a inocência do Senador Irajá Silvestre restará devidamente comprovada.

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COM A PALAVRA, O ADVOGADO JAIR JALORETO, QUE DEFENDE A MODELO

Como advogado da jovem vítima de crime sexual sofrido entre a noite de 22 e a madrugada de 23 de novembro de 2020 em um flat em região nobre da na Cidade de São Paulo, a seu pedido e da sua família, tenho a declarar o seguinte:

Profundamente abalada com todo o ocorrido e com a repercussão do caso, a vítima não se pronunciará sobre o assunto, tampouco concederá entrevista a qualquer veículo de imprensa.

Expressamos nossa indignação com o vazamento - seletivo - de imagens que fazem parte de um procedimento investigatório, que tramita em absoluto sigilo.

Quanto ao teor das imagens, entendemos imprudente fazer qualquer juízo de valor a seu respeito antes da conclusão das investigações, pois tais filmagens (bem como outras provas, ainda não divulgadas pela imprensa) serão objeto de perícia.

Outrossim, permanecemos confiando no trabalho da Polícia Civil do Estado de São Paulo, certos de que ao final a Verdade e a Justiça prevalecerão.

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