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Brasileira, umbandista e destruída: um ato político interno

Por Caroline Arnold
Atualização:
Caroline Arnold. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Hoje amanheci destruída, em cólera e febril. Não foi exatamente pela morte de um dos maiores humoristas do Brasil, mas pela gota de água que faltava.

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Logo eu, "Quem é mais sentimental que eu?", não havia chorado, mas nesta manhã, meus joelhos caíram, emancipados, ao chão. As lágrimas correram impetuosamente, já não tem mais o que fazer, e há tempos, estamos vulneráveis.

Hoje, a mesma dúvida que um dia me fez ousar o pior, quando a morte sem muitos precedentes levou uma das pessoas mais importantes da minha vida, me fez questionar Deus, eu a tenho hoje. Mas pela manhã não ousei, só supliquei. Mesmo assim, confesso que depois disso tudo mudou, já não aceito a morte sem inquietude, nenhuma delas, nem do Zé do bar, nem do passarinho que bateu no vidro da janela. Não aceito mais.

Estamos falando em luto, coletivo, solitário e sem adeus. Entendo. Mas o que mais me maltrata é a precocidade. Como pode estar em um dia gozando de plena vida e saúde, e no outro morto. Morreu, acabou, veio uma doença sem freio, uma sentinela do diabo, e traz a finitude. Fica difícil ser cristão.

Aliás, como cristã e, mais icástica ainda, umbandista, eu deveria entender. Prever que tudo tem um fim, mas não quero. O mundo deveria ser um lugar muito melhor, mas não é.

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Quando penso em colocar os pés no chão, adentrar um terreiro, deixo tudo para traz, levo meu coração vazio e cansado para ser curado, fortalecido e se encher com o dom da caridade. Mas o mundo é exatamente o que queríamos abraçar por completo, mas não dá.

Fazer da fé um ato político é legitimo, desde que o processo seja interno, no mais fundo do seu ser. Aceitar quem acredita na vida é um grito, uma subversão, uma luta diária e sem fim. Espero, com o pouco que me resta, voltar a dormir em paz. Afinal, eu tentei.

Talvez, de alguma forma e dentro da minha ignorância, eu tenha sangue nas mãos, mas não é esse dilúvio carmim que assola nosso país em pleno mal agouro. Sim, as vezes penso que uma feiticeira daninha jogou uma maldição.

Não posso me calar, não vou. O genocídio está completo! Matar é a ordem do progresso. Hoje eu acordei cansada! Mas sou brasileira, umbandista e corajosa. Vou tirar a roupa quebrantada que me vestiu e colocar a máscara valente no meu coração. Vou pegar meus Orixás e continuar, até que o mundo fique curado.

Religião é um ato político interno e vagarosamente categórico. Pergunte ao seu Deus, antes de ser ativo na sociedade e na política.

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*Caroline Arnold, umbandista, empresária e relações públicas na Enxame de Comunicação

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