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Brasil tem uma alta carga tributária?

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Por Bruce Martins
Atualização:
Bruce Martins. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Notório e popular que a carga tributária no Brasil é alta, "uma das maiores do mundo". Será?

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Depende. O Brasil está entre os países da OCDE que menos tributam a renda, a herança e os ganhos de capital, mas está entre os primeiros que mais arrecadam sobre o consumo. É uma soma de tributos (IPI, PIS, COFINS, ICMS e ISS) que compõe o preço do bem e do serviço, o que faz parecer um fenômeno de mercado para quem paga, quando na verdade é uma decisão política.

Mesmo unificados, como propõe as PECs 45 e 110, ainda representarão em média 50% de tudo que é gasto no comércio, quando não mais a depender do serviço consumido.

Uma maior pressão fiscal sobre o consumo significa um menor poder de demanda das famílias, que representam mais de 60% do PIB. Aliás o Brasil foi desenhado para onerar a economia real, que produz e emprega, e desonerar o rentismo, o retorno do investimento em títulos e da especulação na compra e venda de ativos. Portanto temos 34% de IR/CSLL sobre o lucro das empresas, mas 15% a 22,5% de IR sobre a renda fixa (títulos públicos, por exemplo) e isenção, vale lembrar, nas LCI e LCA.

Aqui a média da tributação sobre a herança é 4%. Isto é 1/10 da alíquota média de tributação na Inglaterra (40%) e 1/3 no Chile (13%). Na França, essa alíquota atinge 60%, enquanto na Alemanha, Suíça e Japão ela atinge 50%. Nos EUA a alíquota média é de 29%. Aumentar a tributação da herança é um princípio liberal, lembrando aqui John Stuart Mill.

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Por causa do nosso sistema tributário os que ganham menos além de não se utilizarem dos benefícios de uma carteira de ativos financeiros, de modo a se proteger da inflação, ainda são os maiores financiadores dos que se beneficiam dos títulos públicos, por exemplo, cujos rendimentos são tributados proporcionalmente menos. Temos a engenharia perfeita para produzir desigualdades sociais.

Sem dúvidas a tributação deve ser simplificada e proporcionar racionalidade para a tomada de decisão dos empresários. Mas esta agenda tributária não pode perder de vista relações fiscais mais justas e a necessidade de gerar uma maior propensão marginal para o consumo do povo, sem o que não há crescimento econômico. E uma renda básica universal há muito tempo já deveria ser praticada.

*Bruce Martins, advogado - B.I Tax / Lobo & Vaz

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