Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Bolsonaro aciona PGR após Toffoli negar notícia-crime contra Moraes

Presidente investe em ações contra o ministro do STF no Judiciário para desviar o foco do debate público dos problemas do governo

PUBLICIDADE

Por Weslley Galzo/BRASÍLIA e Pepita Ortega/SÃO PAULO
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro, após audiência com o presidente do STF, ministro Luiz Fux. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou nesta quarta-feira, 18, uma representação contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na Procuradoria-Geral da República (PGR), horas após ver rejeitada uma notícia-crime. Mesmo derrotado no Supremo, o chefe do Executivo decidiu insistir na ofensiva depois que o ministro Dias Toffoli, do STF, negou dar prosseguimento ao alegado abuso de autoridade cometido pelo colega de toga na condução do inquérito das fake news .

PUBLICIDADE

A manobra insistente de Bolsonaro contra Moraes -- primeiro no Supremo, depois na PGR -- tem como pano de fundo o objetivo político de insuflar a militância bolsonarista nas redes para desviar o foco do debate público dos problemas do governo. Como mostrou o Estadão, a notícia-crime contra o ministro e o recurso ao Ministério Público mobilizaram a base de apoiadores do presidente no Twitter, que chegou a ter 104 mil publicações com menções ao magistrado.

A representação contra Moraes foi encaminhada pelos advogados do presidente e se encontra na Central de Relacionamento e Atendimento ao Cidadão (CRAC) da PGR, órgão responsável por fazer a análise preliminar da denúncia e verificar se há elementos suficientes para prosseguir com a investigação -- ou seja, ainda não houve autuação para levar o caso ao gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras. O caso encontra-se temporariamente sob sigilo.

Bolsonaro viu um de seus poucos interlocutores no Supremo, o ministro Dias Toffoli, negar em menos de 24 horas a notícia-crime contra Moraes, sob a justificativa de que não é tolerável tornar "juiz em réu pelo simples fato de ser juiz". O relator do caso explicou que os fatos descritos na ação do presidente não traziam indícios, ainda que mínimos, de condutas delituosas. O magistrado apontou a necessidade de serem apresentados fatos concretos de que Moraes teria tido a finalidade específica de se beneficiar da relatoria do inquérito das fake news ou prejudicar investigados.

Ao apresentar a ação contra Moraes ao Supremo, Bolsonaro disse que a condução do inquérito das fake news pelo ministro não respeita o contraditório e trata-se de uma investigação injustificada, pois, segundo ele, não haveria fato ilícito que sustentasse a instauração. O presidente argumentou que a apuração está em curso por prazo exagerado e não permite à defesa acessar os autos.

Publicidade

O inquérito das fake news foi instaurado em 2019, durante a presidência de Dias Toffoli, para apurar ameaças aos ministros do Supremo. A abertura da investigação foi alvo de críticas por ter sido feita de ofício, ou seja, sem a apresentação de denúncia pela PGR. Após dois anos de tramitação, o procedimento investigatório segue sigiloso.

Sob comando de Moraes, a investigação se tornou uma das principais ameaças a Bolsonaro e aos seus apoiadores suspeitos de integrar milícias digitais. O presidente passou a ser investigado no ano passado, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por causa da live em que prometeu apresentar provas de fraudes nas urnas eletrônicas.

Na mira do Poder Judiciário em outros inquéritos, Bolsonaro acusa Moraes de cometer "sucessivos ataques à Democracia, desrespeito à Constituição e desprezo aos direitos e garantias fundamentais". O presidente acusou o ministro de aplicar medidas não previstas no Código de Processo Penal contra investigados nos inquéritos sob sua alçada, contrariando as regras do Marco Civil da Internet.

Na manhã desta quarta, os presidentes do Supremo, Luiz Fux, e do TSE, Edson Fachin, se uniram em defesa de Moraes. Os magistrados também foram firmes ao defender o inquérito das fake news. Fachin, que tem o Moraes como seu vice-presidente no TSE, disse que o ministro conduz as investigações com destemor frente a "qualquer ataque".

Fux, por sua vez, disse que Moraes tem conduzido o inquérito das fake news com "seriedade e competência". Para o ministro, o inquérito das fake news está 'em ótimas mãos' com o colega.O presidente do Supremo ainda destacou a importância da investigação diante de suspeitas de preparação de atos terroristas contra os ministros e a Corte.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.