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'Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça da boa'

Mensagem de arquiteto da OAS sobre encontro com Lula em sítio de Atibaia integra laudo da Polícia Federal que aponta que, em 2014, presidente da empreiteira cuidou de reforma da cozinha da propriedade, sob orientação do ex-presidente

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:
 

"Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça da boa Havana mineira e uma (sic) 15 cervejas." A frase é do arquiteto da empreiteira OAS Paulo Gordilho. O relato é sobre encontro com Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro de 2014, no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). Laudo da Polícia Federal aponta que os dois trataram de reforma da cozinha do imóvel, que para a Operação Lava Jato é do ex-presidente. Ele nega.

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Documento anexado nesta quinta-feira, 28, a um dos inquéritos que têm Lula como alvo da Lava Jato, em Curitiba, informa haver evidências de que a obra foi realizada "mediante indicação de 'Léo Pinheiro' (José Aldemário Pinheiro), presidente da OAS, e, segundo as comunicações extraídas, com conhecimento de Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia Lula da Silva".

O encontro regado na cachaça teria ocorrido no dia 9 de fevereiro de 2014, na área de churrasqueira da propriedade. Segundo o laudo, foram encontradas 10 fotos com registro da reunião no sítio de Atibaia. "Tais registros são condizentes com o conteúdo das comunicações identificadas no Relatório 329/2016."

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"Peritos apontam evidências substanciais que a Cozinha Gourmet foi (do sítio) foi reformada e instalada entre o período de março a junho de 2014, tendo sido acompanhada por arquiteto da OAS, sob comando de Léo Pinheiro e, segundo consta nas comunicações do arquiteto da Construtora, com orientação do ex-presidente Lula e sua esposa", registra o Laudo 1475/2016, da PF, em Curitiba.

 

 

O relatório citado no laudo de engenharia da PF aponta que ficou evidenciada a participação de Gordilho "na execução da reforma da cozinha".

Na sequência de mensagens trocadas por whastsapp, Gordilho fala sobre a visita ao Sítio Santa Bárbara "exclusivamente para dirimir dúvidas do casal Lula da Silva". Nelas, o arquiteto pede "sigilo absoluto" ao interlocutor, ao informar que iria até a propriedade com o presidente da OAS.

"Sigilo absoluto hem. Amanhã vou em um churrasco em Atibaia com Léo é na fazenda de lula e vamos encontrar com ele na estrada e vou passar o dia lá com ele e D. Mariza", escreveu Gordilho. "Rsrsrs só Mari e Lucas e vc que sabe."

 

Pelo teor de mensagens analisadas de Gordilho, os peritos concluíram que houve "divergência quanto a reforma entre 'ele' e Mariza".

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"Ele quer uma coisa e Mariza outra e lá vai eu e Léo dar opinião. Rsrs."

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Cartel. A Lava Jato aponta que duas empreiteiras do cartel - OAS e Odebrecht - que fatiava obras na Petrobrás, mediante pagamento de propinas a agentes públicos e políticos, e o pecuarista José Carlos Bumlai patrocinaram e executaram as reformas no Sítio Santa Bárbara.

O imóvel foi comprado no final de 2010 e está no nome de Fernando Bittar, filho do ex-prefeito de Campinas e amigo de Lula Jacó Bittar, e seu sócio Jonas Suassuna - ambos sócios de um dos filhos do ex-presidente. A partir de 2011 foi iniciada a principal reforma, que deu um lago, mais espaço e cômodos para a propriedade rural.

Exames periciais, afirma o documento, constataram 'que as primeiras reformas do sítio contaram com a participação do engenheiro Frederico Horta, funcionário da Odebrecht'.

 

"Após concluída a primeira fase das reformas, ainda no ano de 2011, algumas outras intervenções foram realizadas no Sítio ao longo dos anos seguintes. A que mais se destaca pelo valor imobilizado foi a instalação da cozinha gourmet, pelo valor estimado de R$ 252 mil cuja execução foi coordenada por arquiteto da empreiteira OAS, Sr. Paulo Gordilho, com conhecimento do presidente da OAS, Léo Pinheiro, e com orientação do ex-presidente Lula e sua esposa, conforme identificado nas comunicações do arquiteto da empreiteira e de Fernando Bittar", informa o documento.

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O laudo aponta que o empresário Fernando Bittar não tem rendimentos suficientes para bancar a compra e a reforma do imóvel.

"Ainda que necessária a realização de exames periciais contábeis específicos para apurar evolução patrimonial de Fernando Bittar, montante de aproximadamente RS 1,7 milhão, dispendidos na compra e ampliação do sítio entre os anos de 2010 e 2011, apresenta-se discordante frente aos rendimentos, bens e direitos declarados no seu imposto de renda", aponta o documento assinado pelos peritos criminais federais João José de Castro B. Vallim e Ior Canesso Juraszek.

 

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