Lauriberto Pompeu e Daniel Weterman/BRASÍLIA
07 de julho de 2021 | 20h13
O ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante depoimento à CPI Foto: Gabriela Bilo/Estadão
O documento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que trata da prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias aponta as contradições que basearam a decisão. Segundo o auto de prisão, em ao menos doze ocasiões durante seu depoimento Dias prestou “falso testemunho”, o que levou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-BA) a determinar que ele fosse conduzido à Polícia Legislativa. (veja a lista abaixo)
O documento diz que caberá à Justiça Federal a decisão sobre dar prosseguimento ou não à detenção. Dias pode ser liberado da prisão após pagar fiança – o valor ainda não havia sido estabelecido. A possibilidade estava sendo discutida pela cúpula da CPI logo após a prisão.
O Código Penal, em seu artigo 342, classifica o crime de perjúrio como o ato de fazer afirmação falsa em investigação como crime punível com reclusão de dois a quatro anos e multa.
Para Aziz, Dias cometeu “perjúrio” em seu depoimento ao negar que havia combinado um encontro com o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que o acusou de pedir propina para vender vacinas ao governo.
Em seu depoimento, Dias disse que conheceu o policial após ele aparecer em um restaurante de um shopping de Brasília em que jantava com um amigo. Na versão do ex-diretor, o encontro não havia sido agendado e Dominguetti se juntou à mesa porque estava acompanhado de Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde. O policial, então, se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply e disse que gostaria de fechar negócio com o governo para vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.
A quebra de sigilo do celular de Dominguetti, porém, sugere que o encontro não foi por acaso, como afirmou Dias, mas estava previamente combinado. Em mensagens de áudio, divulgados pela CNN Brasil, o policial já tratava do encontro dois dias antes. A um interlocutor identificado como Rafael, o PM mencionou, no dia 23 de fevereiro, o encontro, que aconteceu no dia 25. “Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… E a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”. Roberto Dias alega que encontrou Dominguetti por acaso, sem ter agendado.
“Não aceito que a CPI vire chacota. Temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina. Por que não teve esse empenho para comprar Pfizer naquela época. Ele está preso por perjúrio. Nós não estamos aqui para brincar e ouvir historinha de servidor que pediu propina”, afirmou Aziz, ao justificar sua ordem de prisão.
Veja as 12 contradições de Dias apontadas no auto de prisão da CPI:
Mensagens obtidas do celular de Domingueti apontam que o depoente teria, sim, acesso e influência no MS e no Planalto. E, ainda, relações diretas com Blanco, Cristiano e Domingueti. Mensagens obtidas do celular de Domingueti indicam, ainda, que Amilton teria acesso ao Presidente da República, aos altos escalões do MS e a fabricantes de vacinas. E, também, à Diretoria de Logística, ocupada pelo Depoente”.
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