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Auto de prisão elenca 12 contradições de ex-diretor em depoimento à CPI; veja quais

Documento registra que, em ao menos doze ocasiões durante seu depoimento Dias prestou 'falso testemunho', o que levou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-BA) a determinar que ele fosse conduzido à Polícia Legislativa

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Por Lauriberto Pompeu e Daniel Weterman/BRASÍLIA
Atualização:

O ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante depoimento à CPI Foto: Gabriela Bilo/Estadão

O documento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que trata da prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias aponta as contradições que basearam a decisão. Segundo o auto de prisão, em ao menos doze ocasiões durante seu depoimento Dias prestou "falso testemunho", o que levou o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-BA) a determinar que ele fosse conduzido à Polícia Legislativa. (veja a lista abaixo)

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O documento diz que caberá à Justiça Federal a decisão sobre dar prosseguimento ou não à detenção. Dias pode ser liberado da prisão após pagar fiança - o valor ainda não havia sido estabelecido. A possibilidade estava sendo discutida pela cúpula da CPI logo após a prisão.

O Código Penal, em seu artigo 342, classifica o crime de perjúrio como o ato de fazer afirmação falsa em investigação como crime punível com reclusão de dois a quatro anos e multa.

Para Aziz, Dias cometeu "perjúrio" em seu depoimento ao negar que havia combinado um encontro com o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que o acusou de pedir propina para vender vacinas ao governo.

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Em seu depoimento, Dias disse que conheceu o policial após ele aparecer em um restaurante de um shopping de Brasília em que jantava com um amigo. Na versão do ex-diretor, o encontro não havia sido agendado e Dominguetti se juntou à mesa porque estava acompanhado de Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde. O policial, então, se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply e disse que gostaria de fechar negócio com o governo para vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

A quebra de sigilo do celular de Dominguetti, porém, sugere que o encontro não foi por acaso, como afirmou Dias, mas estava previamente combinado. Em mensagens de áudio, divulgados pela CNN Brasil, o policial já tratava do encontro dois dias antes. A um interlocutor identificado como Rafael, o PM mencionou, no dia 23 de fevereiro, o encontro, que aconteceu no dia 25. "Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias... E a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério". Roberto Dias alega que encontrou Dominguetti por acaso, sem ter agendado.

"Não aceito que a CPI vire chacota. Temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina. Por que não teve esse empenho para comprar Pfizer naquela época. Ele está preso por perjúrio. Nós não estamos aqui para brincar e ouvir historinha de servidor que pediu propina", afirmou Aziz, ao justificar sua ordem de prisão.

Veja as 12 contradições de Dias apontadas no auto de prisão da CPI:

  • O depoente informa que não sabe que tentaram exonerá-lo.
  • O depoente não explica quem viabilizou sua permanência no cargo, após sucessivas trocas de ministros.
  • A esse respeito, é de conhecimento público as notícias de que houve tentativas de exoneração do depoente, inclusive por Pazuello, e que este não se concretizava por pedidos de políticos. Evidente, pois, a falta com a verdade sobre esse tema.
  • O depoente não teria marcado com Blanco e Domingueti. Afirma que não sabe como Blanco saberia que ele estaria lá. Não demorou mais do que uma hora e meia.
  • O Luiz Domigueti afirma que o jantar foi marcado para tratar de vacinas; mensagens no celular do denunciante mostram que ele falava sobre o depoente antes do jantar e demonstra conhecimento.
  • Mensagens divulgadas pela Folha de São Paulo mostram conversas entre Dias e Cristiano (Davati) semanas antes do jantar.
  • A reunião no Ministério da Saúde foi marcada para o dia seguinte ao jantar.
  • Declarou que nunca ocorreu o pedido de propina relatado por Domingueti.
  • Desconhece a participação de outros militares envolvidos na, supostamente, falsa denúncia.
  • A exoneração do depoente ocorreu logo depois de tornada pública a denúncia de pedido de propina por Luiz Dominguetti.
  • Apesar de tentar se manter distante de Coronel Blanco, admite que se relacionavam e que "soube" que depois de deixar o ministério, o coronel estava atuando em negócios farmacêuticos. SENADO FEDERAL CPI da Pandemia - O depoente declarou que não conhece, nem teria acesso ao Presidente da República.
  • O depoente declarou que não teve relações com Amilton Gomes de Paula, mas que o encontrou oficialmente quando recebeu a informação de que Amilton teria acesso a 100 milhões de vacinas. Mas, Amilton não possuía representação oficial do fabricante de vacinas.

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Mensagens obtidas do celular de Domingueti apontam que o depoente teria, sim, acesso e influência no MS e no Planalto. E, ainda, relações diretas com Blanco, Cristiano e Domingueti. Mensagens obtidas do celular de Domingueti indicam, ainda, que Amilton teria acesso ao Presidente da República, aos altos escalões do MS e a fabricantes de vacinas. E, também, à Diretoria de Logística, ocupada pelo Depoente".

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