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Autismo na pandemia: o que podemos fazer para amenizar os prejuízos

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Por Jaqueline Bifano
Atualização:
Jaqueline Bifano. FOTO: LECA NOVO Foto: Estadão

Desde 2007, a ONU - Organização das Nações Unidas - instituiu abril como o mês do ativismo em favor do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo é chamar a atenção da sociedade e governantes para esse problema do neurodesenvolvimento, mais comumente conhecido como autismo.

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A criança com TEA demanda atenção, cuidado e carinho extras e, no cenário da pandemia, o que já era desafiador para pais, responsáveis, familiares, amigos e professores, tornou-se ainda mais delicado e cheio de surpresas.

Quem convive com o transtorno, sabe como as rotinas são importantes, independente do grau de acometimento e idade, e como as interrupções no dia a dia geram crises, ansiedades, nervosismo, agitação e agressividade.

Nem todo mundo sabe, mas a pessoa com autismo é considerada também pessoa com deficiência (PcD). Mesmo entre o ativismo de minorias, ganham mais destaque as questões de gênero e cor, enquanto causas a favor de pessoas com deficiências (PcD) já não costumam receber tanto destaque, menos ainda quando falamos de uma "deficiência invisível", como é o caso do autismo.

Nesse contexto, o mês da conscientização é essencial para que a sociedade entenda que as deficiências existem inclusive no campo do neurodesenvolvimento e que essas pessoas, por mais que em alguns casos não pareçam portar alguma deficiência, precisam ter suas limitações respeitadas e seus direitos assegurados. Autistas de grau mais leve muitas vezes não são nem ao menos identificados e, como consequência, a sociedade tende a exigir deles comportamento típico.

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Quando diagnosticado, o transtorno costuma ser identificado ainda na infância e, se para um adulto com autismo a convivência com a sociedade já é difícil, imagine os prejuízos que isso poderia trazer a uma criança. É preciso que todos saibamos acolher e apenas através da conscientização é possível ensinar à sociedade como lidar com a situação.

Exigir comportamento típico de uma criança que tem limitações do neurodesenvolvimento só vai trazer sofrimento e pode agravar o quadro. Por isso, é importante estar alerta aos sinais: estereotipias (comportamento repetitivo); seletividade alimentar, dificuldade de comunicação verbal e não verbal; dificuldade de interação empática, rigidez de comportamento e/ou agressividade podem ser alguns deles.

O tratamento é multidisciplinar e precisa ser feito em conjunto, com o diagnóstico do(a) psiquiatra infantil e encaminhamento para fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo comportamental.

Com a rotina modificada pelo contexto social atual, o comportamento também mudou e, em alguns casos, houve a regressão dos ganhos gerados por anos de intervenções na terapia! Por isso é importante tentar, de alguma forma, imprimir o que era realizado antes da chegada da pandemia, ao mesmo tempo, realizando as alterações necessárias.

As aulas, que eram presenciais, voltaram-se para dentro de casa ou estão acontecendo de forma híbrida e trouxeram mudanças significativas. Pais e professores tiveram de entender qual a melhor maneira para incluir o aluno autista durante as atividades da escola, refazer cronogramas e estabelecer horário para cada tarefa.

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Outra mudança importante é a atenção redobrada à higienização de utensílios, já que, pacientes com autismo têm o hábito de pegar nos objetos, seja para sentir o cheiro, o sabor ou a textura dos mesmos. Manter tudo muito limpo é importante para evitar que o paciente com o transtorno esteja em contato com o vírus e  tenha alterações de suas funções sensoriais, que podem gerar ainda mais estresse.

Mesmo com tantas mudanças severas e restritivas, nem tudo pode ser visto de forma negativa. Por passarmos mais tempo em casa, descobrimos mais sobre o outro e temos a oportunidade de aprofundar os laços afetivos, ressignificar valores e criar a possibilidade de interações lúdicas com mais frequência, isso sim poderia ajudar muito uma criança autista.

Se antes as coisas pareciam complicadas, tornaram-se, com o tempo, desafiadoras, mas contornáveis e solucionáveis.

Estamos todos vendo a nossa vulnerabilidade diante de uma situação que continua pegando a humanidade de surpresa a cada dia.

Precisamos nos ajudar e dar suporte a quem precisa, em especial, às crianças com deficiências como o autismo. Tudo vai passar, mas já passou da hora de entendermos que os transtornos de neurodesenvolvimento também são um tipo de deficiência, demandam atenção e dedicação da sociedade, e essas crianças e pessoas, independente da idade, precisam ter seus direitos garantidos e suas necessidades preenchidas.

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*Jaqueline Bifano, psiquiatra da infância e adolescência

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