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Atualizar o ensino é entender a realidade que se apresenta

Por Arthur Buzatto
Atualização:
Arthur Buzatto. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Não é de hoje que a dinâmica cotidiana tem passado por uma verdadeira revolução, reflexo da democratização da tecnologia. E isso, vamos ser sinceros, tem acontecido a uma velocidade alucinante. Daí que o mercado de trabalho é diretamente impactado: Quais serão as novas profissões? Que comportamentos, habilidades e conteúdos serão exigidos de nós, como cidadãos e profissionais? E, tão importante quanto, onde preparar-se para esse futuro?

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Assim como a comunicação, que mudou radicalmente com a chegada de smartphones e aplicativos de mensagens, por exemplo, somos forçados a uma adaptação constante. Parece intuitivo, portanto, que o ensino tenha que acompanhar essa transformação e, impreterivelmente, seja atualizado.

Mas, se é tão difícil prever o que está por vir no mercado de trabalho, como preparar crianças e adolescentes de hoje, os cidadãos do futuro, para o mundo corporativo de amanhã, que exigirá profissionais qualificados para cargos que ainda nem existem?

A necessidade de renovação na educação brasileira, seja ela pública ou particular, é inegável. Os números recentes do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) mostram que os índices dos alunos de elite do Brasil são piores do que os estudantes pobres de países como a China, colocando o país em 54º lugar em uma lista com 79 nações. Apesar de leve melhora em relação à última edição, há três anos, os índices brasileiros estão muito abaixo da média mundial em Leitura, Ciências e Matemática, disciplina em que ocupa a 70ª posição.

Os dados evidenciam a urgência por mudanças na grade da educação básica, a fim de preparar crianças e adolescentes, de forma integral, para enfrentar os desafios da vida. É preciso solidificar os componentes curriculares tradicionais e ir além, incentivando o desenvolvimento de competências atemporais e alinhadas com as principais tendências do mercado corporativo.

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Habilidades socioemocionais que conectem o estudante ao mundo são, assim, indispensáveis: autoconhecimento, autogestão, determinação, curiosidade, otimismo, gratidão, empatia e colaboração. Temos ainda os valores, igualmente relevantes: respeito, solidariedade, convívio democrático, senso de justiça e responsabilidade. Ser e pertencer é premissa da vida. É obrigação da escola formar pessoas em suas muitas dimensões e não apenas alimentando seus aspectos cognitivos, embora eles sejam, evidentemente, fundamentais.

Disciplinas tradicionais, como Português, Inglês e Matemática, nunca perderão sua importância. Mas é vital o trabalho no letramento em suas diferentes concepções, como a compreensão oral e escrita da língua portuguesa e da língua inglesa (com trabalho diário ligado à rotina de vida do estudante). Há também que se trabalhar o desenvolvimento da Matemática não apenas de maneira teórica, mas utilizando-a no dia a dia, desmistificando-a.

Tão relevante quanto essas matérias, é a necessidade de fomentar o pensamento crítico, estimulando a avaliação do ambiente para que os estudantes desenvolvam soluções criativas e colaborativas e, com isso, consigam sustentar seus argumentos com dados e evidências. Trabalho em equipe, pesquisa, argumentação, investigação e aplicação devem ser rotinas do jovem.

Muito além de entender "o quê" deve ser ensinado, precisamos discutir o "como": as escolas devem - ou deveriam - investir no protagonismo dos estudantes, mobilizando-os a questionar, pesquisar e aplicar seus conhecimentos para resolver problemas conectados à realidade. Devem ensinar a importância de assumir responsabilidades, como o cuidado com a limpeza de espaços, a mediação de conflitos e de temas de interesse. Em outras palavras, os estudantes devem ter vez e voz. Sala de aula é o lugar onde se aprende a ler o mundo e a escrever a própria história.

No entanto, esse tipo de ensino só é possível com acompanhamento personalizado e investimento intensivo no corpo docente. A mudança na educação só acontece com a transformação dos educadores, que devem agir como influenciadores do conhecimento e não protagonistas. O professor precisa atuar como transmissor-mediador-descobridor, permitindo ao estudante trilhar a busca pelo saber.

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Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Quase um quarto dos jovens brasileiros (23%) nem estuda nem trabalha, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad contínua) sobre educação divulgada em junho de 2019. O percentual é ainda mais alto entre jovens de 18 a 24 anos, idade em que, teoricamente, deveriam estar na universidade, chegando a 27,7%. Segundo a PNAD contínua, o Brasil tem 11,3 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais - uma taxa de analfabetismo de 6,8%.

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O atual quadro educacional brasileiro é, portanto, preocupante. Por isso, é preciso romper estruturalmente o status quo e ampliar em larga escala o modelo - hoje restrito - para escolas de qualidade, que consigam desenvolver os estudantes na complexidade exigida pelos novos tempos.

Chegou o momento de nos mobilizarmos em torno de soluções que atendam às necessidades da população no que se refere à educação básica e que deem conta do momento transformacional que vivemos. Só é possível combater a expressiva desigualdade do Brasil ao elevar a instrução e a qualificação dos jovens.

Não é tarefa fácil construir cidadãos críticos, conscientes de sua participação na sociedade e que sejam capazes de transformar não somente a sua realidade, mas, também, todo o ecossistema social em que estão inseridos. Sem dúvida, esse "novo" modelo pedagógico é o único capaz de preparar crianças e adolescentes de hoje para o mercado de trabalho do futuro.

*Arthur Buzatto, presidente da Vereda Educação

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