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Até quando a comunidade LGBTQIA+ será invisibilizada nas leis e no asseguramento de seus direitos?

Por William Callegaro
Atualização:
William Callegaro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

No dia 17 de maio, será o Dia Internacional Contra a LGBTfobia, data que representa a luta constante da comunidade por direitos, respeito e, principalmente, pela vida. O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas LGBTs+ no mundo, evidenciando uma sociedade que violenta e invisibiliza este grupo em tantos âmbitos como saúde, segurança, educação e, especificamente, na política.

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Mesmo com avanços em Projetos de Lei pensados para esta população, as iniciativas não passaram de proposituras e ainda não foram suficientes para atender às necessidades e demandas escancaradas na sociedade. Atualmente, a representatividade de pessoas LGBTs+ no legislativo é baixíssima, apenas 160 parlamentares foram eleitos em 2018, sendo quatro Deputados Estaduais, segundo dados da Antra.

Assim, pautas LGBTs+ também são sub-representadas no Congresso e apenas com muita resiliência e luta que avanços foram conquistados. Só em 1995 surge o pioneiro Projeto de Lei sobre direitos LGBT+ elaborado pela então Deputada Federal Marta Suplicy, do Partido dos Trabalhadores. Na época, a comunidade ainda era representada pela sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) e a proposta disciplinava a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Outros projetos tiveram destaque, como a criação de mecanismos de proteção para pessoas em situação de violência baseada na orientação sexual e identidade de gênero; o enquadramento do LGBTcídio no rol dos crimes hediondos e a instituição do programa "Escola Sem Mordaça"; que estabelece a livre opinião para professores, funcionários e alunos das escolas.

Um fato interessante é que, até os dias atuais, os partidos de esquerda são praticamente os únicos que criaram Projetos de Lei para a população LGBT+. Mais de 90% dos PLs deste segmento foram elaborados por Deputados Federais de partidos de esquerda e centro-esquerda, na Câmara Federal. Sendo o PT e o PSOL os partidos que lideram essas iniciativas.

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Pautas pensadas, exclusivamente, para pessoas trans também foram incluídas. Em 2020, foram 175 travestis e pessoas transexuais assassinadas violentamente, no Brasil, sendo a maioria travestis negras (78%), com idade entre 15 a 24 anos (56%) e envolvidas na prostituição (72%), de acordo com os dados da Antra. Diante disso, algumas propostas já foram elaboradas, como a reserva de emprego e estágio para mulheres transexuais, travestis e homens transexuais, nas empresas privadas; a criação de espaços específicos em estabelecimentos penais e a isenção das taxas de retificação de nome e gênero.

As iniciativas entre 2014 e 2021 são todas favoráveis à população LGBT+, visando à positivação de direitos. Contudo, o Congresso Nacional, até hoje, não legislou nada sobre a temática para o segmento LGBT+, deixando que esta população viva à base de entendimentos do STJ, STF e CNJ. Ao mesmo tempo, crimes contra a comunidade também avançaram - a pesquisa do Fórum Brasileira de Segurança Pública mostrou que, no ano de 2020, houve um crescimento de 20,9% em denúncias de lesões corporais dolosas; 20,5% nos estupros e 24,7% nos homicídios dolosos.

É sabido que à medida que Projetos de Lei buscaram avanços e melhorias para a qualidade de vida e sobrevivência para este grupo, a falta de legislação impede, verdadeiramente, este avanço. Um questionamento necessário para fazermos, neste ano eleitoral, é justamente: até quando a comunidade LGBT+ será invisibilizada nas leis e no asseguramento de seus direitos?

*William Callegaro, advogado e especialista em direitos LGBT+. Coordenador jurídico e coordenador administrativo adjunto estadual da Aliança Nacional LGBTI em São Paulo. Presidente do segmento LGBT Socialista do Estado de São Paulo

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