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As visitas de Humberto Costa ao delator que o denunciou na Petrobrás

Segundo petição do ex-procurador-geral da República, de fevereiro, senador e o empresário Mário Beltrão mantiveram encontros com ex-diretor de Abastecimento da estatal e também com ex-diretor de Serviços, Renato Duque

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Por Luiz Vassallo
Atualização:

Humberto Costa. Foto: Andre Dusek/Estadão

O senador Humberto Costa (PT), líder da oposição no Senado, e o empresário Mário Beltrão, apontado como interposto do petista em supostas propinas de R$ 1 milhão na Lava Jato, visitaram juntos a Petrobrás, segundo apontou o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em documento datado de fevereiro. Além dos registros oficiais da estatal petrolífera, Costa aparece na agenda de encontros do ex-diretor Paulo Roberto Costa, da área de Abastecimento, foco central do esquema de corrupção e cartel instalado na companhia entre 2004 e 2014. Em depoimento, o petista e o empresário admitiram encontros com o ex-diretor, mas negaram ilícitos.

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Documento

VISITAS

As informações constam de petição do ex-procurador-geral da República, em fevereiro. No documento, ele pedia que o inquérito sobre Humberto Costa não fosse enterrado, como sugeriu a delegada da Polícia Federal Graziela Machado. "Após detida análise detida dos autos, certo é que a linha investigativa erigida pela autoridade policial restou insuficiente, o que culminou no encerramento prematuro da apuração policial", concluiu o procurador, à época.

Em agosto de 2016, Graziela pediu o arquivamento do inquérito por entender que não havia informações que corroborassem com a fala do delator Paulo Roberto Costa, que acusava o senador de usar o seu amigo Beltrão para pedir R$ 1 milhão em propinas da empresa White Martins com o fim de abastecer a campanha de 2010.

Meses depois do parecer, a Odebrecht firmou acordo de delação premiada e seus executivos revelaram pagamentos, por meio de contratos supostamente fictícios com empresas do suposto operador de Humberto Costa.

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As investigações foram retomadas em março a mando do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo. Endereços ligados a Beltrão foram alvo de busca e apreensão ainda naquele mês, no âmbito da Operação Satélites, primeira embasada nas delações dos 77 executivos da maior empreiteira do país.

Ainda antes da ação da PF, quando Janot apontou a 'insuficiente' investigação da delegada Graziela Machado sobre o caso, se embasou, entre outros argumentos, em registros de visitas oficiais de Márcio Beltrão à Petrobrás.

"Mário Beltrão tem diversos registros de entrada no prédio da Petrobrás como representante da Engeman, constando, para 2010, 18 visitas a Paulo Roberto Costa (10/03/2010, 24/05/2010, 26/05/2010, 15/06/2010, 16/06/2010, 15/07/2010, 18/08/2010, 18/08/2010, 25/08/2010, 09/09/2010, 29/10/2010, 16/11/2010 e 25/11/2010) e 6 visitas para Renato Duque (26/01/2010)", anotou Janot.

Duque, que não é delator, confessou ter participado de esquemas de corrupção na Petrobrás.

Janot ainda aponta que 'identificou-se três registros na agenda de Paulo Roberto Costa de cafés da manhã'. Um deles, no Hotel Sofitel Copacabana, com Mário Beltrão, cujo registro aparece como 'secret. Humberto Costa' para o dia 29/01/2010'.

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Em outro registro na agenda do delato, Humberto Costa teria se encontrado com ele no dia 19 de março de 2010, 'em local conhecido por ESBRAS'

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Ainda em julho, pouco antes da campanha, Paulo Roberto registrou um café da manhã com Humberto e Beltrão no Copacabana Palace no Rio de Janeiro.

"Há outros registros anteriores a 2010 (2006 e 2008) com Humberto Costa e Mário Beltrão (representando White Martins e Schahin) e 2009", argumentou Janot.

Em seu depoimento, Beltrão admitiu 'que já esteve, com Humberto Costa, na sede da Petrobras para tratar com Paulo Roberto Costa temas de desenvolvimento de Pernambuco, enquanto presidente da associação das empresas desse Estado'. Já Humberto Costa afirmou que 'seu trabalho junto à Petrobras era realizado com seu amigo de infância Mário Beltrão, presidente da associação das empresas pernambucanas, que concentra as pessoas juódicas que atuam no entorno do Porto do Suape'.

Atualmente, o inquérito sobre o senador trabalha com duas linhas de investigação. Uma delas, embasada na delação de Paulo Roberto Costa, de que a empresa White Martins teria repassado R$ 1 milhão em propinas para obter vantagens junto ao Comperj. Para tanto, teria se utilizado de contratos com empresas de Bletrão. A Engeman e a MSM Consultoria, de propriedade do empresário, chegaram a ter vínculos contratuais.

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Em outra linha de investigação, a Odebrecht também diz ter mantido contratos supostamente fictícios nos valores de R$ 687 mil e R$ 659 mil com a MSM Consultoria em benefício de Humberto Costa (PT), supostamente oriundos de um suposto caixa de R$ 30 milhões com o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa.

Os valores correspondem a 1% dos contratos de contratos firmados entre a Petroquisa e o Grupo Odebrecht.

COM A PALAVRA, WHITE MARTINS

A White Martins esclarece que jamais fez doação para qualquer campanha do senador Humberto Costa do PT-PE.

COM A PALAVRA, BELTRÃO

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A reportagem tentou, sem sucesso, contato com Mário Beltrão. O espaço está aberto para sua manifestação.

COM A PALAVRA, HUMBERTO COSTA

"O senador Humberto Costa espera há quase três anos pela conclusão das apurações, com as quais colaborou em todos os sentidos e em todas as etapas. É um inquérito baseado na acusação de um réu confesso, que mudou seis vezes sua versão sobre o fato inicial. A própria Polícia Federal solicitou o arquivamento do caso, que recebeu, por parte do então procurador-geral da República, um pedido de prorrogação. No entanto, até a presente data, nada de conclusivo foi apresentado e o inquérito segue aberto à espera de um desfecho, que o senador tem certeza ser favorável a ele, em razão de serem absolutamente inverídicas as acusações em que se funda."

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