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As várias formas de criação de valor na economia compartilhada

Recentemente, o jornal americano The Washington Post publicou uma reportagem, cuja autora Abha Bhattarai pressupunha, na escolha do título, "um novo extremo" para a economia compartilhada, ao reportar o fato de a DSW, uma das maiores cadeias americanas de sapatos, ávida por atender a seu público alvo, ter passado a oferecer o serviço de aluguel de sapatos, principalmente para eventos especiais (leia-se, luxuosos).

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Por Lilian Miguel
Atualização:

Bem, isso não é exatamente uma ideia nova. A Prettynew, a exemplos de outras empresas do mesmo ramo, oferece o mesmo serviço para bolsas, roupas e acessórios, entre outros, focando, especialmente, no segmento luxo - muito luxo.

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Tais exemplos mostram que as empresas estão buscando formas de atender às necessidades de seus consumidores, utilizando um conceito cuja prática se iniciou nos Estados Unidos, na década de 1990: a economia compartilhada (sharing economy), ou economia colaborativa, como alguns a denominam, dando origem a novos modelos de negócios que possibilitam às pessoas e empresas dividir (compartilhar) o consumo e/ou uso de produtos e serviços, sem que, necessariamente, precisem adquiri-los.

É bem verdade que as práticas relacionadas à economia compartilhada não são exatamente novas. Entretanto, passaram a se expandir e a assumir novas configurações a partir do momento que a tecnologia, centrada especialmente nos recursos oferecidos pela Internet, passou a fazer parte da vida das pessoas de forma acentuada, permitindo o acesso à informação e a interação, em tempo recorde.

O fato é que a economia compartilhada promove condições de igualdade de consumo, movimentando recursos que formam o grosso da "riqueza" de pessoas de posses moderadas, mas que podem utilizar seu patrimônio limitado para gerar renda. Este é, por exemplo, o escopo da plataforma Airbnb, que ajuda proprietários de imóveis a alugarem quartos em suas residências para viajantes, que por sua vez, também buscam custos reduzidos de hospedagem, o componente mais caros de uma viagem.

Existem inúmeros exemplos como esse, envolvendo o aluguel de carros, de bicicletas. O próprio Uber é um modelo de economia compartilhada, em que os proprietários dos carros rentabilizam seus veículos, transportando pessoas, por um custo bem reduzido, o que intensificou o uso desse tipo de serviço por pessoas que não o faziam, por conta do alto custo do serviço tradicional de taxis.

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O ponto principal é que a economia compartilhada cria valor em várias esferas - movimenta recursos ociosos, gerando renda e reduzindo custos de produção, transforma pessoas em empreendedores, fomenta a inovação em modelos de negócios, conectando pessoas, vendedores e compradores, e reduzindo sensivelmente os custos de transação, evitando que paguemos pelo que não usamos.

Torna-nos, inclusive, minimalistas, uma vez que compartilhar leva à redução de consumo desenfreado e desnecessário, conduzindo-nos a um comportamento de consumo mais consciente. Cria valor para o planeta, logo, para nós. Uma série de recursos estão-se tornando escassos e, por isto, onerosos. Por que produzir mais do mesmo, duplicando coisas cujo uso podemos simplesmente compartilhar?

Quando os empresários adaptam o conceito original de economia compartilhada para o varejo, fica evidente que buscam não só atender uma necessidade de seus consumidores, mas buscam criar valor para esses consumidores por meio do atendimento de seus desejos. Afinal, o consumidor é rei.

Nesse contexto, necessidade e desejo se confundem. A necessidade de ir a uma festa bem vestido e na moda pode ser tão somente uma necessidade oriunda de uma regra social imposta. No entanto, vestir um sapato de luxo, para atender a essa necessidade, é, na verdade, um desejo, cuja origem possui infinitas implicações sociais e psicológicas, mas cujo atendimento cria o que se tem atualmente caracterizado como uma experiência, cujo valor só pode ser avaliado pela própria pessoa que a vivencia - o próprio consumidor.

No mundo do consumo, nem sempre somos detentores dos recursos necessários para fazermos frente a nossas necessidades, quiçá a nossos desejos. Mas, se uma empresa cria meios para que isto ocorra, nós a teremos em nossa mente para sempre, conectada com a lembrança da experiência vivida. E este valor não tem preço.

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A economia compartilhada, em suma, cria valor, econômico e social - para quem produz, comercializa, rentabiliza e, principalmente, para quem consome um bem ou serviço que, talvez, não conseguisse consumir, sem ela.

*Lilian Miguel é pesquisadora do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica e professora do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie

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