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Aras pede ao Supremo investigação de protesto com Bolsonaro que pediu fechamento do Congresso

Segundo o Estado apurou, Bolsonaro não é alvo do inquérito pois até o momento não há indício de participação dele na organização dos atos; um integrante da Cúpula da PGR informou à reportagem que o inquérito 'não tem alvo' e sim 'investigação para apurar autorias'

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Por Pepita Ortega , Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA e Fausto Macedo/SÃO PAULO
Atualização:

Manifestação em frente ao Quartel General do Exército teve participação do presidente Jair Bolsonaro, pediu fechamento do Congresso e do Supremo, deposição de governadores e intervenção militar Foto: Gabriela Biló/Estadão

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu nesta segunda-feira (20) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para apurar "fatos em tese delituosos envolvendo a organização de atos contra o regime da democracia participativa brasileira". O objetivo é verificar se houve violação à Lei de Segurança Nacional nos protestos ocorridos no último domingo.

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Aras não cita especificamente o presidente Jair Bolsonaro, que participou de uma manifestação em Brasília em que se pedia a intervenção militar, mas alegou ao STF que os atos foram cometidos "por vários cidadãos, inclusive deputados federais". Os parlamentares possuem prerrogativa de foro perante a Suprema Corte.

O pedido do procurador será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes. Moraes vai avaliar o pedido do procurador e examinar se há justificativa para deixar a investigação na Corte - como os indícios de envolvimento de parlamentares na organização dos atos, por exemplo.

A presença de Bolsonaro na manifestação, em que apoiadores pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou forte repercussão negativa entre políticos, ministros da Suprema Corte e entidades.

Segundo o Estado apurou, Bolsonaro não é alvo do inquérito pois até o momento não há indício de participação dele na organização dos atos. Um integrante da cúpula da PGR ouvido reservadamente pela reportagem informou que o inquérito "não tem alvo" e sim "investigação para apurar autorias".

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A investigação refere-se a atos realizados em todo o país, neste domingo (19), em que participantes pediram o fechamento de instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o STF. Uma das pautas de parte dos manifestantes era a reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar no país.

"O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional", afirmou o procurador-geral, Augusto Aras.

"Patifaria". Bolsonaro elevou no último domingo o tom do confronto com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e, diante do Quartel- General do Exército, pregou o fim da "patifaria" em uma manifestação que pedia intervenção militar no País. Com microfone em punho, o presidente subiu na caçamba de uma caminhonete e fez um discurso inflamado para seguidores que exibiam faixas com inscrições favoráveis a um novo AI-5, o mais duro ato da ditadura (1964 a 1985), e gritavam palavras de ordem contra o STF e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Nós não queremos negociar nada. Queremos é ação pelo Brasil", disse Bolsonaro, aplaudido por centenas de manifestantes. "Chega da velha política! (...) Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder. Vocês têm a obrigação de lutar pelo País de vocês". Dezenas de cartazes sugeriam fechamento do Congresso e do Supremo, além de pedidos para que as Forças Armadas ocupassem as ruas. O grito de "Fora, Maia" era um dos mais ouvidos. Em nenhum momento, porém, o presidente contestou os apelos pela volta da repressão

AI-5 foi o Ato Institucional mais duro instituído pela repressão militar nos anos de chumbo, em 13 de dezembro de 1968, ao revogar direitos fundamentais e delegar ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares, intervir nos municípios e Estados. Também suspendeu quaisquer garantias constitucionais, como o direito a habeas corpus, e instalou a censura nos meios de comunicação. A partir da medida, a repressão do regime militar recrudesceu.

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No domingo, 19, Aras divulgou uma nota pública em que reitera o compromisso do Ministério Público brasileiro de velar "pela ordem jurídica que sustenta o regime democrático, nos termos da Constituição Federal".

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Nota. Em nota divulgada no último domingo, Aras diz reiterou discurso feito na sexta, na solenidade virtual de posse da nova direção do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG), quando a oportunidade de "renovar o compromisso do Ministério Público brasileiro de velar, em todas as unidades da Federação e por meio de todos os seus ramos, pela ordem jurídica que sustenta o regime democrático, nos termos da Constituição Federal".

O procurador ressaltou ainda que, desde que assumiu a Procuradoria Geral da República e a presidência do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), encontrou apoio das entidades de classe e de colegas "que compartilham valores que refletem o fortalecimento de uma carreira de Estado que não pode se dobrar a nenhum governo, mas, deve, sim, fortalecer o Estado brasileiro no universo dos poderes que recebeu do constituinte de 1988".

Aras destacou também a importância da democracia participativa e pediu atenção "para as polarizações, os extremos, internos e externos," que a enfraquecem.

Ainda em seu discurso, Aras afirmou que o Ministério Público tem dado a sua contribuição ao enfrentamento do coronavírus no país e acrescentou que é preciso estar atento "para que uma calamidade pública não evolua para modelo de estado de defesa ou de sítio".

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Segundo ele, "a história revela que nesses momentos podem surgir oportunistas em busca de locupletamento a partir da miséria e da perda da paz que podem resultar em graves comoções sociais".

O procurador concluiu o seu discurso dizendo que, por essa razão, o Ministério Público brasileiro "há de estar atento em defesa da nossa democracia para que se preservem as instituições do Estado brasileiro, pela força normativa da Constituição".

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