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Após um mês do sumiço da cachorrinha Pandora no aeroporto de Guarulhos, Reinaldo quer ampliar buscas até o Rio e oferece recompensa de R$ 7 mil

Exausto e angustiado, mas ainda com esperança e fé, submetido a uma rotina diária que se estende até as 23hs na busca sem trégua à sua cachorrinha, 'tímida, dócil, amorosa', o garçom Reinaldo Júnior já recebeu mais de 2 mil mensagens no WhatsApp com informações desencontradas sobre o destino de Pandora, que tem cinco anos e desapareceu no dia 15 de dezembro, durante uma conexão de viagem à Santa Catarina; Leia o seu relato à reportagem do Estadão

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Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

Pandora está desaparecida desde o dia 15 de dezembro. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Completado um mês após pedir apoio nas redes sociais para encontrar Pandora, sua cadela perdida, Reinaldo ainda não localizou seu animal de estimação. Desde então, o tutor já recebeu mais de 2 mil mensagens no WhatsApp sobre o possível paradeiro de Pandora. A cachorra desapareceu no dia 15 de dezembro em uma conexão da companhia aérea Gol no aeroporto de Guarulhos. A viagem tinha como destino Navegantes (SC). 

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Nos últimos dias um aviso em especial renovou as esperanças de Reinaldo: a possibilidade da cachorra ter ido no sentido do Rio de Janeiro. Agora a ideia é ampliar a rota de buscas para o estado vizinho. "Eu tenho que fazer isso para tentar me acalmar. Divulgar um pouco por lá [Rio de Janeiro] também", diz. 

A rotina exaustiva de Reinaldo começa pela manhã e só termina em torno das 23h. "Eu sei que deve tá muito difícil pra ela, como pra mim tá de continuar." Apesar do cansaço, a estratégia dele se baseia em panfletar em bairros nos arredores do aeroporto e abordar as pessoas na rua. "A gente fica de lá pra cá todos os dias, não tem folga", conta em referência aos grupos que se dispuseram a ajudá-lo diariamente. 

A corretora de imóveis Marcia Chagas, 52, faz parte dessa rede de apoio. Ela acolheu Reinaldo e a mãe dele em sua casa no momento em que a Gol suspendeu o custeio da hospedagem

"Começamos buscando ela [Pandora] na fé, porque nem sabíamos se ela estava viva", explica Marcia. A corretora pediu licença no trabalho para reforçar a procura por Pandora. A divulgação se iniciou em grupos de causa animal no Facebook e depois expandiu para diferentes regiões de São Paulo. Segundo ela, hoje a principal suspeita é de que ela esteja aos cuidados de alguém. Por esse motivo "nós estamos focando não só em Guarulhos, mas também nos municípios vizinhos".

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Os esforços para encontrar Pandora atraíram pessoas comuns e figuras políticas. O vereador de Guarulhos Geleia Protetor (PSDB) doou sete mil reais para incluir na recompensa da cachorra. Reinaldo acrescenta que "a Gol não coloca nada, deixando bem claro". 

A cachorrinha Pandora não tem raça definida e pesa aproximadamente 19 quilos. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Pandora tem cinco anos e não possui raça definida. É de porte médio e tem aproximadamente 19 quilos. A cachorra de cor caramelo também possui pelagem branca em algumas partes do corpo que contrastam com a tonalidade predominante caramelo. Pandora tem três sinais perto do focinho do lado esquerdo, além de uma listra no focinho que vai até a cabeça.

O tutor descarta a hipótese de roubo do animal. Para ele, a cachorra sumiu por irresponsabilidade da Gol. "Porque roubo seria se fosse pego ali dentro do avião lá. Ela não foi pega lá de dentro". Sobre o momento do reencontro com Pandora, ele desabafa "nem sei como vai ser quando a gente se ver..."

Leia a entrevista completa:

ESTADÃO: Reinaldo, como está sendo sua rotina desde o desaparecimento da Pandora?

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Acordo e já saio pra panfletar, buscar pistas, almoço na rua. Umas 23h, 23h30, eu paro. Quando chego ainda fico conversando com algumas pessoas e tentando tirar algo que se enquadra, alguma coisa aqui que tem fundamento. Mas é cansativo dormir e acordar, não por ela, mas pelo vazio que tem de tentar procurar, sabe? 

ESTADÃO: Quais os canais de comunicação que vocês mais recebem notícias?

Instagram e Facebook. Algumas são repetitivas, outras não. Outras não têm fundamento. Alguns mandam: "ah, me dá 500 reais aí, vi a Pandora". É muita mensagem, mais de duas mil desde que começamos [a busca]. E a gente não consegue acompanhar, porque nós passamos o dia abordando pessoas na rua. 

ESTADÃO: Reinaldo, tem ideia em quantos lugares já percorreu?

De lá pra cá todos os dias, né? Sábado, domingo, feriado, Natal e Ano Novo. Então não tem um dia de folga, até porque eu não trabalho aqui. Nem trabalho eu tenho, na realidade. [bairros que percorreu] Tem São João, Nova Portugal, Presidente Dutra, Haroldo Veloso, Malvina, Maria Helena, Praça 8, Paraíso, Anita Garibaldi, Ponte Alta, Santa Isabel, Cumbica, Pimentas. Tem muitos bairros e até agora nada. Tem uma recompensa aí no valor de oito mil. Que é sete mil de um vereador. A Gol não coloca nada, deixando bem claro. 

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ESTADÃO: Você tinha se programado para ir embora a trabalho para a Suíça com a Pandora. Então, como está a situação agora, Reinaldo? Você está em contato com o pessoal de lá?

Eu não tenho mais a vaga. A Suíça é um país sério, não é o Brasil. Desde o dia que eu deixei a vaga em aberto, eu disse que não ia ter tempo. Eles disseram: "Calma, relaxa um pouco, tem até tal dia de janeiro pra você apresentar a documentação". Então deixei claro que o tempo é indeterminado. Poderia sim segurar até o dia que eles me deram lá, porém deixando bem claro que seria indeterminado. Se minha filha aparecesse de imediato, eu iria. Caso não, eu não ia deixar ela aqui e ir embora. O plano era eu e ela. Não tem como.

ESTADÃO: Reinaldo, você tem enfrentado problemas psicológicos devido ao sumiço da Pandora?

Isso é um fato. É muita, muita coisa. Ontem eu apaguei, consegui dormir. Mas esses dias anteriores aí descansei menos de quatro horas. E já levanto meio cansado. Eu já estou no meu extremo de superação. O sistema psicológico e emocional abala muito. Porque no dia do acontecido a pessoa virar e dizer que a cachorrinha destruiu a casinha. Você viu que é mentira. Foi provado. É mentira. Isso mexe. Você pedir câmeras pro aeroporto e pra companhia. E juntos dizerem que não existem câmeras, não existem filmagens. Ou seja, isso aí cria um bloqueio na sua cabeça de que: ou eles pensam que você tem quatro anos de idade num absurdo desse... No caso, eu vi a caixinha, a caixinha está comigo, está intacta. Eu provei também com as imagens, que quem pegou as imagens foi eu. Não foi ninguém da companhia aérea, não foi o aeroporto que me favoreceu aquelas imagens. Foi o delegado Bruno Lima que falou pra mim em particular. Ou seja, isso mexe, isso vira uma chave na cabeça da pessoa. Vão pensar que eu sou louco ou vão me tirar como louco, vai saber...

ESTADÃO: Durante esse período, você em algum momento pensou em suspeita de roubo?

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Eu não vou dizer de roubo, porque ela foi perdida. Ela foi perdida por irresponsabilidade. Então, quem estiver com ela ou quem a pegou, com certeza, eu não vou dizer que é um roubo. Porque roubo seria se fosse pego ali dentro do avião lá. Ela não foi pega lá de dentro. Ela está sendo cuidada por alguém. Então, não é um roubo.

ESTADÃO: Pelas imagens da câmera que você obteve, é possível ver que o portão foi aberto e a Pandora saiu do aeroporto, é isso mesmo?

É. [o porteiro] Ele abre. Ele abre, isso é um fato. Eu perguntei lá, me disseram que ela tinha saído por outro portão. Achei uma contradição, né? Talvez disse isso com medo de alguma coisa, não sei. 

ESTADÃO: Reinaldo tem alguma novidade sobre o caso? Nos últimos dias, teve alguma mensagem mais concreta?

Tem várias, mas a gente só tem a certeza quando chega no local. Milhares são verdadeiras, tipo: "Olha, foi vista aqui assim...". Quando a gente vai lá, eu pergunto se tem vídeo, alguma coisa, dizem que não não deu tempo, que estava sem telefone, que o celular estava descarregado, mas era muito parecida e cria uma esperança. Então a gente vai lá pra tentar eliminar essa informação, né? Então, as mensagens são reais, porém não é a Pandora.

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ESTADÃO: Você tem esperança de reencontrar a Pandora?

Todo dia, todo dia. Não queria nem dormir essas noites. Eu fico pensando que se eu dormir pode acontecer algo pior. Não sei, não sei... É um sonho que se tornou um pesadelo. Mas eu não vou embora. Vou ficar procurando, não sei como vai ser. Não sei se tem o tempo que a justiça vai determinar também alguma coisa. Mas eu vou ficar aqui em São Paulo, como eu também não sei. 

ESTADÃO: Prestes a completar um mês do desaparecimento da Pandora, você tem novas estratégias de busca?

Eu recebi a informação que possivelmente ela estaria no Rio de Janeiro, é possível.  Porque o cachorro anda em torno de 20 a 30 quilômetros por dia. E como eu conheço a Pandora, ela anda muito. Então, como já são mais de 20 dias. Então, 15 quilômetros para 20 dias dá bastante. Foi vista na rua, sentido Rio, muitas informações assim. Como está muito expandido no caso e sem resultado nenhum, com recompensa aí boa, então dá pra pensar sim que ela tá seguindo aí a minha procura. Pode ser que sim, então dá pra tentar aí, dois dias, não sei. Tá se enquadrando onde eu não queria. Então eu tenho que fazer isso aí pra tentar me acalmar. Divulgar um pouco por lá também e depois retomar.

ESTADÃO: Reinaldo, vocês conseguiram criar uma rede de apoio muito grande aqui em São Paulo, seja pessoas engajadas na rede social ou indo pras ruas também em busca da Pandora, a exemplo da Marcia. Me conta um pouco. 

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A Marcia é uma pessoa que Deus colocou na vida, não só ela, mas os outros também. A Marcia abraçou a causa, colocou dentro da casa dela uma pessoa que ela não conhecia de lugar nenhum. Sem palavras, o pessoal de Guarulhos também, né? Porque eu pensei que ia ter resolvido rapidamente, mas não teve o apoio que deveria ter tido, né? Não o povo, o povo me ajuda a toda hora. Agora fica difícil ter alguma direção que a gente nem sabe...  A gente não pode ficar usando o cão pra estar por aí. No começo, o cheiro dela ainda estava ali [no aeroporto de Guarulhos], dava pra fazer alguma ligação. Mas não teve atenção nenhuma da minha cachorra andando dentro do aeroporto. Talvez porque ela não é uma cachorra de raça definida, se ela fosse talvez tivesse chamado mais atenção. Mas ela já chamou a partir do momento que está andando no aeroporto, aquilo não é normal. Aquela imagem ali não é normal ou é normal e não passam pra gente, né? Disseram que estavam atrás [da Pandora], jogaram até a redinha nela, mas ela escapou. Mas é pra se pensar que é mentira, porque tem imagem dela de 7h55. Eu fui avisado às 8h15 da manhã. Faltavam dez minutos para voar. Eu desci por conta própria e fiquei detido lá. Até quase às onze da manhã. Talvez se eu não tivesse descido eu não ia saber de nada disso, ia acreditar que a casinha foi destruída. E que minha cachorra fugiu que nem mágica. E na minha cabeça ia pensar que ela estava morta. E aí, eu ia ficar mais conformado, talvez, né? Ia viver um luto. 

ESTADÃO: Se possível, pode descrever como é a Pandora fisicamente e a personalidade dela?

Ela é tímida, dócil, muito protetora, amorosa. O que eu venho pensando esses dias e não queria acreditar que ela poderia sim estar no centro Rio de Janeiro. Porque o cachorro anda sempre pra frente quando está assustado. E minha cachorra, ela é linda, ela é uma filha, no caso. A cama dela era uma cama de solteiro, ela tinha uma cama dela, mas ela dormia com a gente na cama. Ela fez cinco anos no dia 22 de dezembro de 2021. Porém, como já tem mais de vinte dias ela pode ter ativado o modo de sobrevivência dela que eu não sei como é. Mas eu sei que deve tá muito difícil pra ela, como pra mim tá de continuar...

ESTADÃO: E fisicamente, Reinaldo?

Ela é magra, é uma cachorrinha de dezenove quilos. Alta, porte médio. Caramelo, mecha branca, uma listra no focinho que vai por cima da cabeça e onde se espalha esse ponto branco, né? Ela tem três sinalzinhos perto do focinho do lado esquerdo. Tem dois sinais também com pelos na bochecha, um de cada lado.

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ESTADÃO: Quando os dias estão mais angustiantes, qual lembrança você rememora da Pandora para se manter firme?

Me fortalece olhar os vídeos, muitas vezes não. Nem sei como vai ser quando a gente se ver...

COM A PALAVRA, A GOL

"A GOL se solidariza com o sofrimento do tutor da Pandora. Entendemos a dor de alguém que se vê subitamente separado de seu animal de estimação e sabemos que os laços de afeto que desenvolvemos com os pets são algo extremamente importante em nossas vidas. Assim, lamentamos profundamente o incidente ocorrido, no qual a cachorrinha Pandora escapou da caixa de transporte durante a conexão entre dois voos. Imediatamente após a constatação deste triste episódio, passamos a empreender uma série de medidas para, ao mesmo tempo, amparar e reduzir o sofrimento do tutor do animal, além de acionar diferentes meios para tentar localizar o paradeiro da Pandora.

Toda a estrutura de hospedagem, alimentação e transporte necessárias para acomodar o Cliente e sua acompanhante, próximos ao local do incidente e assim facilitar as buscas, foi providenciada e custeada pela Companhia desde 15 de dezembro de 2021 e, em função de uma determinação judicial permanecerá assim por mais 30 dias, contados a partir de 5 de janeiro. Adicionalmente, apesar de declinada pelo Cliente e sua acompanhante, foi disponibilizada a ambos assistência psicológica profissional. 

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Em paralelo, a GOL contratou duas empresas especializadas no rastreamento profissional de cães e outros pets desaparecidos. A primeira delas foi a "Busca Pet", que conta com cães farejadores e que atuou incansavelmente desde o primeiro dia até quando foi possível seguir os rastros que poderiam levar à localização da Pandora (conforme relatou a própria empresa, depois de alguns dias os rastros foram apagados pelas fortes chuvas). A Busca Pet está mantida em sobreaviso caso surja qualquer nova pista que possibilite que os serviços possam ser retomados.

A segunda empresa acionada foi a "Alerta Pet", que presta serviços de divulgação de casos de cães perdidos e cuja contratação segue mantida pela GOL até o final de janeiro. Foi feita a afixação de cartazes ao longo da área em que Pandora poderia ter escapado, bem como nas redes sociais, em páginas de busca de pets e por anúncios feitos por geolocalização para Guarulhos e região. Além do auxílio profissional e especializado, a GOL também tem mobilizado voluntários da própria Companhia nessa busca. 

Face a este infeliz incidente, a GOL se mantém aberta a tratativas com o tutor da Pandora quando ele assim desejar, e se coloca totalmente à disposição para apoiar iniciativas que efetivamente possam ajudar a encontrar a cachorra além de buscar reparar materialmente e moralmente o dano causado. 

A Companhia mantém um grupo de trabalho permanente, dedicado a participar de estudos e fóruns que possam resultar em melhorias contínuas de processos, normas e protocolos. Nos comprometemos a, à luz desse triste caso, revisar todas as etapas que envolvem o transporte anual de cerca de 200 mil pets a fim de aprimorá-lo, evitando que situações como essa jamais possam voltar a acontecer."

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