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Apontando para cima

Expectativas para o Brasil são positivas, com privatizações e reformas a caminho

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Por Alexandre Pierantoni
Atualização:

O primeiro mês de 2020 chega ao fim com uma lista de pendências e ações que devem, uns mais, outros menos, causar solavancos e manter a incerteza e preocupações dos investidores ao longo do ano todo. Para o Brasil - que não deve ficar isento dos efeitos de nenhum desses problemas -, no entanto, as expectativas não se tornaram mais nebulosas, contrariando aquele certo instinto de esperar pelo pior, fruto de décadas de desempenho decepcionante.

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O coronavirus nem bem se alastrou, mas já afeta a rotina de empresas no mundo todo, e os efeitos vão ser vistos nos balanços (e PIBs de todos países - afirma-se que pode ser 0,5% no PIB mundial. Impacto no Brasil pode ser substancialmente maior dada infeliz combinação de queda de preços de commodities e volume de exportação, ao principal país afetado, a China). A guerra comercial entre EUA e China ganhou um acordo recente (denominada Fase 1), mas ainda há mais incertezas do que certezas sobre o que ela ainda virá a causar na economia global. A aprovação do Brexit aconteceu em cima da hora e trará impactos políticos e econômicos que ainda não se sabe quais serão. A União Europeia, e em particular a Alemanha, estão em desaceleração.

Mesmo neste contexto, há sinais importantes de recuperação à vista para o Brasil, e as expectativas são, afinal, o que move investimentos e investidores (além de suas irmãs, previsibilidade e confiança). Desde a posse do atual governo, um otimismo cauteloso atravessou a comunidade brasileira de negócios. Seguindo a condução do ministro Paulo Guedes, o novo governo propôs reformas que acenderam o interesse de investidores domésticos e estrangeiros. A reforma da Previdência foi aprovada em 2019. A tributária e a administrativa serão objeto de discussão neste ano (que é eleitoral, sempre um percalço para qualquer tema a ser debatido por parlamentares que terão efetivos 120 dias de trabalho), e temos o pacote anticrime, aprovado no apagar das luzes do ano passado.

Juros que nunca foram tão baixos e o movimento rumo a mais privatizações também alimentam novos investimentos. O índice Ibovespa flerta com os 120 mil pontos (apesar da recente retração com a crise de saúde na China). O risco-país apresenta trajetória decrescente (encerrou 2019 a menos de 100 pontos base) e tem valores inferiores à época em que o Brasil era grau de investimento (período de março de 2008 a setembro de 2015), quando o risco país, medido pelo Credit Default Swaps/ CDS 5 anos, teve média de 171 pontos base; após atingir 500 pontos base em março de 2016. O investidor estrangeiro continua a apostar e investir no Brasil.

As tendências de investimentos estrangeiros diretos e a atividade de fusões e aquisições são positivas. Para lembrar alguns números, a B3 registrou 13 ofertas (IPOs e follow-ons) em setembro e outubro de 2019, com R$ 26,6 bilhões negociados. Nos 12 meses até outubro houve 32 ofertas, com R$ 70,4 bilhões no total - um recorde, superando 2007 (quando alcançou R$ 70,1 bilhões). Tudo isso sem considerar IPOs de brasileiras nos EUA.

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Mesmo o acordo comercial EUA-China não chega a ser um risco absoluto. A presença da China tem impacto importante em setores como infraestrutura, logística, alimentos e bebidas e no agronegócio, para nomear só alguns. O Brasil aprendeu com a China. E a China com as oportunidades no Brasil, principalmente em infraestrutura. Competitividade, produtividade e cadeias de fornecimento brasileiras hoje são mais ousadas como consequência das relações e força das relações e dos investimentos entre os dois países. O programa de privatizações e concessões do governo brasileiro está nos radares dos chineses - e deve se reforçar até 2021. Processos recentemente completados em óleo e gás, portos, aeroportos e estradas foram o começo de uma lista com mais de 100 projetos.

O nome do jogo é: expectativa e previsibilidade. Quando o novo governo assumiu, elas eram altas. Se hoje não estão onde estavam há um ano, também não se tornaram desprezíveis. O ano de 2020 será de desafios, que ninguém se iluda quanto a isso. Mas, em meio a tudo que parece apontar para baixo, vemos um Brasil que parece apontar para cima.

*Alexandre Pierantoni é diretor-executivo da Duff & Phelps no Brasil e lidera as operações de Fusões e Aquisições na América Latina

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