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Anotação apreendida na casa de Lula registra 'Aluguel R$ 12 X 3.5000,00'

Documento em papel de escritório de Roberto Teixeira, defensor e comprade do ex-presidente, foi recolhido em março de 2016 pela PF e ajudará a comprovar autenticidade de recibos entregues pela defesa do petista à Lava Jato, sobre apartamento em São Bernardo

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e Luiz Vassallo
Atualização:
 

Na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP), a Polícia Federal recolheu no dia 4 de março de 2016 uma anotação manuscrita sobre o aluguél do apartamento ocupado pela família do petista, vizinho ao seu, comprado em nome de um primo do pecuarista José Carlos Bumlai. A força-tarefa da Operação Lava Jato acusa a ocultação patrimonial do imóvel, que seria um presente dado ao ex-presidente no esquema de corrupção na Petrobrás.

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O material vai ajudar a Polícia Federal a periciar os comprovantes de pagamentos de aluguél entregues pela defesa de Lula, na última semana, para comprovar que o ex-presidente é locatário do imóvel, e não dono. Os comprovantes apresentados pela defesa de Lula referem-se ao período de agosto de 2011 a novembro de 2015. Duas notas têm datas que não existem no calendário: 31 de junho e 31 de novembro.

Segundo Glauco Costamarques Bumlai, dono do imóvel segundo os registros, os recibos foram assinados em um único dia, em novembro de 2015, a pedido do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. Glaucos afirmou que de 2011 a 2015 nunca recebeu aluguél do apartamento, comprado em 2010 a pedido de Bumlai.

A anotação foi feita em um papel timbrado do escritório de Teixeira, Teixeira & Martins Advogados, que tem como sócio seu genro Cristiano Zanin Martins, principal defensor de Lula nos processos da Lava Jato. Nele, há o nome e Glaucos Costamarques, o número de seu CPF e abaixo: "Aluguel R$ 12X3.500,00 R$ 42.000,00".

O documento foi recolhido pela PF no dia 4 de março, quando Lula foi alvo da 24ª fase da Lava Jato. Seus endereços foram alvos de busca e ele conduzido coercitivamente para depor.

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O valor de R$ 3.500,00 é o que consta nos recibos entregues pela defesa de Lula ao juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato, em Curitiba. O valor de R$ 42.000,00 é o mesmo declarado no Imposto de Renda do ex-presidente de gastos com Glaucos Costamarques já de 2012.

Nesse processo, Lula é acusado de receber o apartamento que custou R$ 500 mil como propinas da Odebrecht. O imóvel foi adquirido em 2010 em nome de Glaucos Costamarques, que é primo distante de Bumlai. Para os procuradores, ele é um "laranja" que serviu para ocultar a propriedade do imóvel. A operação de compra teria sido realizada por Bumlai e por Teixeira - também réu na ação. A ação trata também da doação de um terreno de R$ 12 milhões para o Instituto Lula - que acabou sendo cancelada - que contou também com a participação de Bumlai, Glaucos e Teixeria - os três réus no mesmo processo.

 

Compra. Ouvido por Moro, Glaucos afirmou que em meados de 2010 Bumlai o procurou e disse que ele teria que fazer três cheques administrativos para compra do apartamento, que já era usado por Lula. O imóvel estava alugado pela Presidência dos antigos donos e seria usado pelos seguranças.

Glaucos disse que fez três cheques, um de RS 390 mil, outro de R$ 94 mil e outro de R$ 20 mil. "Totalizando R$ 504 mil. Esses cheques eu fiz no dia 11 de agosto de 2010. Fui lá no Banco do Brasil pedi os cheques e entreguei para o Roberto Teixeira."

Segundo o primo de Bumlai, ele foi avisado que o apartamento "ficaria alugado para o Lula". "Então eu fiz um contrato, o Roberto Teixeira que trouxo, eu fiz um contrato com a Dona Marisa."

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Segundo o dono oficial, do apartamento vizinho ao de Lula que é ocupado pela família desde 2011, o contrato começou em 1º de feveiro de 2011. O aluguel não teria sido pago, segundo Glaucos, até novembro de 2015.

"Aguardei, não me pagaram o primeiro mês, não me pagaram o segundo mês. Aí eu fui falar com o José Carlos: 'Zé Carlos, o que está acontecendo que não estão pagando aluguel, será que eles esqueceram, porque eu passei os dados para o Roberto da minha conta."

 

O suposto "laranja" disse que Bumlai teria dito para ele "não esquenta com isso". "Isso mais para frente, a gente acerta, não fica preocupado."

Glaucos explicou a Moro que começou a receber o aluguél só à partir de novembro de 2015. Ele narra que Roberto Teixeira o procurou e informou que o aluguél seria pago. Depois de a defesa apresentar os recibos, como prova de que os aluguéis eram pagos desde 2011, ele disse que os recibos foram todos assinados no mesmo dia, em novembro, quando ele estava hospitalizado.

Os recibos, afirma, foram levados pelo contador João Muniz Leite, a pedido do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. A defesa de Glaucos avalia pedir ao Sírio-Libanês os registros de entrada de Roberto Teixeira.

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Na terça-feira, 26, Glaucos da Costamarques reafirmou ao Estadão que é 'verdadeiro' o que disse ao juiz federal Sérgio Moro.

Em 6 de setembro, Glaucos afirmou em interrogatório perante o juiz federal Sérgio Moro que não recebeu alugueis pelo apartamento 121, mas que declarou à Receita que houve pagamento. "Não recebi", disse taxativamente.

O advogado Cristiano Zanin Martins reagiu nesta quinta-feira, 28, à polêmica sobre os recibos de aluguel do apartamento 121, do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP), ocupado pelo ex-presidente Lula. A defesa do engenheiro Glaucos da Costamarques, dono do imóvel, afirma que todos os comprovantes de 2015 foram assinados no mesmo dia, no Hospital Sírio-Libanês, em novembro daquele ano.

"A responsabilidade pelo documento é de quem o assina", afirmou o criminalista em um vídeo gravado.

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Documento

OS RECIBOS DE LULA

"Pequenos erros em dois dos 26 recibos apresentados não retiram a força probatória dos documentos até porque são justificáveis. No recibo de agosto de 2014, por exemplo, é feito referência à data de 31 de junho de 2014 quando claramente buscou-se fazer referência à data de 31 de julho de 2014. Basta verificar que existe outro recibo com referência ao pagamento do aluguel de junho de 2014", reagiu o advogado.

"De qualquer forma, se houve qualquer dúvida ou questionamentos sobre esses recibos, que seja feita uma perícia, avaliando de quem é a assinatura, de quando os documentos foram feito, dentre outras coisas."

COM A PALAVRA, LULA

"A responsabilidade sobre os documentos, e sobre a veracidade do que eles atestam, é da pessoa que os assinou. Não há questionamento sobre as assinaturas. A tentativa de transformar os recibos no foco principal da ação é uma clara demonstração de que nem o Ministério Público nem o juízo encontraram qualquer materialidade para sustentar as descabidas acusações formuladas contra Lula em relação aos contratos da Petrobrás."

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