Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

América Latina, aço e as mudanças climáticas

PUBLICIDADE

Por Máximo Vedoya
Atualização:
Máximo Vedoya. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Glasgow (COP26) alertou, mais uma vez, sobre a necessidade urgente de reduzir a pegada de carbono em todo o mundo.

PUBLICIDADE

É necessário que todos os setores (governos, indústria e consumidores) atuem sobre o assunto para realizar ações concretas, precisas, mas, acima de tudo, tangíveis e viáveis para reduzir as emissões de CO2.

Nesse sentido, o aço é o protagonista no combate às mudanças climáticas e na transição energética para uma economia descarbonizada. Isso se deve à sua presença em todos os setores necessários a essa mudança como infraestrutura, habitação, mobilidade ou energias renováveis, mas, principalmente, pela sua alta reciclabilidade. No mundo, o aço é mais reciclado do que todos os outros materiais combinados, então o potencial é enorme. Não há substituto para o aço na economia circular e devemos trabalhar para uma produção cada vez mais limpa.

A indústria siderúrgica global está avançando. A América Latina, em particular, também assumiu esse compromisso. As grandes empresas siderúrgicas regionais lançaram planos e programas para reduzir essa pegada até 2030 e continuar esse caminho até 2050, de acordo com o Acordo de Paris.

No entanto, devemos ser realistas. O maior desafio que temos no setor siderúrgico é, principalmente, a redução das emissões dos altos-fornos. No momento, não existe uma solução definitiva para este problema. Existem maneiras de reduzir ligeiramente as emissões, mas ainda não há uma resposta técnica disruptiva no nível do mercado, como o hidrogênio verde, o uso de biomassa ou energias renováveis passíveis de serem implementadas em operações em escala industrial.

Publicidade

Se buscarmos ter uma indústria com menor pegada de carbono que invista em processos mais limpos e sustentáveis, teremos que trabalhar juntos, pois serão necessários investimentos de capital significativos, além de infraestrutura, acesso ao gás como combustível de transição e com baixa emissão, promoção do desenvolvimento de energias renováveis, disponibilização de sucata para reciclagem e promoção da pesquisa tecnológica.

Este é o maior desafio que enfrentamos como indústria e como região, com desafios ou restrições macroeconômicas não menores. Todos nós queremos e investimos na produção de um aço mais verde, mas o caminho é complexo e requer grandes injeções de capital: quem vai arcar com esses custos, a indústria, os governos ou o mercado?

Não existe uma resposta única. Cada parte do mundo é muito diferente e as soluções também deveriam ser. As emissões médias da indústria siderúrgica mundial são de 1,8 toneladas de CO2 para cada tonelada de aço produzida, a China 2,2, enquanto a América Latina gera 1,6 toneladas de CO2 para cada tonelada de aço fabricado. A nossa região, que já apresenta um nível de emissões inferior, tem uma posição ímpar devido às suas condições geológicas e geográficas e ao seu acesso a recursos naturais renováveis.

Se os governos adotarem ações mal planejadas, sem levar em conta as diferenças regionais e desestimulando os grandes investimentos que se fazem necessários, podem gerar um crescimento das importações de outras regiões, em detrimento de uma produção regional mais eficiente em questões ambientais e tão necessárias ao nosso desenvolvimento.

Por isso, e pelo impacto em outras indústrias, o diálogo e a colaboração público-privada são essenciais para definir os mecanismos, incentivos e financiamentos necessários a essa transição. Europa, Canadá e Estados Unidos já têm esses temas em pauta, a China também fez anúncios. É hora de decidir como vamos estruturar esse processo na América Latina e como podemos atrair as futuras gerações de profissionais, engenheiros e engenheiros, para nos ajudar a alcançá-lo.

Publicidade

Na próxima semana nos encontraremos para discutir todas essas questões de São Paulo no Alacero Summit 2021, junto com líderes industriais como Aditya Mittal e Paolo Rocca, e especialistas internacionais como Jeffrey Sachs, Xavier Sala-I-Martín, Moisés Naim e Susan Segal entre outros.

O caminho é claro, como percorrê-lo pode determinar como nossa região pode aproveitar as oportunidades e ser protagonista de um mundo mais sustentável.

*Máximo Vedoya, presidente da Associação Latino-Americana do Aço (Alacero)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.