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Amazônia: aumenta o cerco

Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: ALEX SILVA/ESTADÃO Foto: Estadão

O mundo inteiro se revoltou com o massacre imposto ao maior patrimônio inexplorado desta Nação: a Amazônia. Antes mesmo de conhecido o potencial da biodiversidade contido nessa última grande floresta tropical, acelera-se o processo de seu extermínio.

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Primeiro era o abandono, fruto da ignorância crescente. Em seguida, o estímulo a toda sorte de ilicitudes criminosas: invasão de áreas protegidas, desrespeito à demarcação indígena, proteção a madeireiros clandestinos, porteiras abertas para o garimpo confiado à grande delinquência.

A explicitude do "soltar a boiada" não precisaria de maior ênfase. Mas a ação concentrada foi bastante exitosa: desmanche das estruturas de fiscalização, troca de cientistas que ousassem falar a verdade, substituição de Superintendente da Polícia Federal que detectou a nefasta e incestuosa relação entre o Ministério contra o Ambiente e as quadrilhas de madeireiros.

Enquanto o Brasil permanecia inerte, ressalvadas as vozes solitárias dos biólogos, cientistas heróis que enxergam o que acontece, a comunidade internacional se manifestou. O acordo Mercosul e União Europeia começou a fazer água. A OCDE mandou recado e passou a exigir prestação de contas do descalabro ambiental. Os Fundos mantenedores de uma rede protetiva foram escandalosamente rechaçados e os administradores de trilhões para investimento recuaram no seu interesse pelo Brasil.

Enquanto os Estados Unidos estavam sob a sombra retrógrada, parecia tranquila a permanência da antipolítica ecológica aqui praticada, em evidente retrocesso de toda a lenta e sólida escalada na tutela de nossa natureza. Agora, Joe Biden escolhe John Kerry, um respeitado conhecedor do tema, lúcido para exigir um comportamento moralmente idôneo do governo brasileiro.

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Os Estados Unidos são conhecidos por seu pragmatismo. Sempre souberam trabalhar com as republiquetas cognominada "de banana", sujeitas às vicissitudes eleiçoeiras dos países periféricos. Não aceitarão cartas, promessas retóricas, idas e vindas, e a inconsistência da política externa confiada ao mais medíocre dentre os diplomatas da Casa de Rio Branco.

Se o Brasil tiver um mínimo de vergonha, resignar-se-á a aceitar a sua condição de pária ambiental, além de ser pária no maltrato à população acossada pela pandemia e fará a sua lição de casa.

Os americanos querem resultado e não promessa. E isso não é impossível de se fazer. Basta cumprir a lei. Houve um tempo, no passado recente, em que o Brasil era modelo de nação ecológica. Produziu o mais belo texto constitucional do século XX, o artigo 225 da Constituição que é chamada "verde" ou "ecológica". Ainda era o detentor de 12% da água doce do planeta, de biomas exuberantes e de uma consciência ambiental que começara com José Bonifácio de Andrada e Silva, e prosseguiu em ascensão, até Paulo Nogueira Neto, para mencionar apenas os que já se foram.

Talvez a ignorância não se convença do que deve ser feito. Mas a ganância e o interesse podem suprir a falta de consciência ético-ambiental. A "grande fazenda" só continuará a exportar seus grãos, se o mercado externo se convencer de que nossa soja não provém do desmatamento. Que nosso gado não foi criado em áreas devastadas.

Enquanto a União dá mau exemplo, a forma federativa pode atenuar os malefícios deliberadamente perpetrados. Os Estados-membros podem e devem conferir outro trato ao ambiente. Municípios idem. Não foi por acaso que o constituinte incluiu o Município como entidade da Federação. É urgente mostrar o mundo que a insanidade não é geral. Está localizada e não pode vencer essa luta que envolve milhões de brasileiros.

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Vamos aguardar a postura do Brasil no encontro desta semana. Enquanto isso, é o momento de tomada de posição dos brasileiros que se preocupam com o aquecimento global, não perderam a capacidade de indignação ante o desastre sob a batuta do governo e querem proteger a Amazônia e os demais biomas, para assegurar a subsistência das atuais e futuras gerações.

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Academia, Terceiro Setor, Universidade, Empresariado, Igreja, sociedade civil e indivíduos, todos devem formar uma robusta cruzada em defesa da natureza. As redes sociais têm o seu lado útil e benevolente. Não podem servir apenas para divulgar ódio e inverdades. Exigir vergonha e seriedade do governo. Pois governo é servo do povo e não seu senhor. Proteger o habitat é proteger a vida. O bem deve prevalecer. Sem isso, a humanidade será aquilo que os desalentados já pensam: um projeto fracassado.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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