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Aliados de Fernando Capez não explicam grandes quantias em suas contas

Ouvidos em inquérito da Operação Alba Branca, no Tribunal de Justiça de São Paulo, Jéter Pereira e Merivaldo dos Santos, ex-assessores do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deram versões confusas

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Foto do author Julia Affonso
Por Fausto Macedo e Julia Affonso
Atualização:

Deputado estadual Fernando Capez (PSDB). Foto: Hélvio Romero/Estadão

Movimentações financeiras em valores atípicos nas contas de dois ex-assessores do deputado Fernando Capez (PSDB) intrigam os investigadores da Operação Alba Branca.

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Rastreamento bancário realizado por ordem do Tribunal de Justiça do Estado no âmbito da investigação sobre fraudes com recursos da merenda escolar via cooperativa agrícola familiar revela intenso fluxo de dinheiro em nome de José Merivaldo dos Santos e Jéter Rodrigues Pereira - aliados antigos do tucano -, cuja origem nem eles próprios souberam explicar.

Na conta de Merivaldo, por exemplo, os investigadores encontraram mais de R$ 500 mil.

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Os depoimentos de Jéter e de Merivaldo foram revelados com exclusividade pelo repórter Walace Lara, do SPTV 2.ª Edição.

Os esquecimentos de Merivaldo e Jéter ampliaram ainda mais o mistério que marca essa etapa da Alba Branca, cujo alvo principal é Capez, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo - ele é investigado pelo Tribunal de Justiça, instância que detém competência para eventualmente processar parlamentar estadual.

O tucano teria recebido pelo menos R$ 450 mil em propinas do esquema implantado pela Cooperativa Agrícola Familiar (COAF), carro chefe das fraudes que se infiltrou em pelo menos 40 prefeituras paulistas e mirou, ainda, em contratos da Secretaria da Educação do governo Alckmin.

Capez nega taxativamente o recebimento de valores ilícitos. Ele abriu espontaneamente seu sigilo.

Jéter e Merivaldo foram ouvidos no inquérito conduzido pelo desembargador Sérgio Rui, do TJ.

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Jéter afirma ter trabalhado para o tucano durante cerca de três anos. Merivaldo é funcionário efetivo da Assembleia paulista e também trabalhou no gabinete do parlamentar.

Em contas bancárias de Merivaldo, a Procuradoria-Geral de Justiça encontrou valores aparentemente incompatíveis com sua capacidade financeira.

"O sr. teve uma movimentação a mais em 2015 só da ordem de quinhentos mi reais" questionou um procurador de Justiça na audiência.

Merivaldo respondeu. "Eu não tive."

O procurador insistiu. "Então, o perito mentiu? O perito examinou as suas contas, e viu, não só isso, uma discrepância. O sr não tem capacidade financeira para movimentar seiscentos mil por ano, estou certo?

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"Sim", respondeu Merivaldo.

"O sr. ganha quanto por mês?", insistiu o procurador.

Merivaldo respondeu. "Hoje eu ganho líquido dezesseis mil reais."

"Vamos pôr uns duzentos mil, o sr movimentou quase seiscentos e oitenta, de onde veio esse dinheiro?", indagou o procurador. "O senhor movimentou. Eu estou mentindo?"

Merivaldo. "Não, que eu não vi."

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O procurador foi adiante. "O sr quer que eu mostre o papel aqui?"

Na audiência no TJ, o procurador exibiu, então, cópias dos extratos bancários do ex-assessor de Capez.

"Esses aqui são os depósitos mês a mês que 0 sr fez, esse em dinheiro, mas eu já vou mostrar mais coisa para o sr, aqui ó, total, fora salário, se eu tirar o salário do sr, que o sr falou que é 200 mil, só em dinheiro aqui tem 364 mil de depósito. De onde o sr tirou esse dinheiro?"

Merivaldo disse, então, que 'faz consultoria também'.

"Eu até declarei no meu imposto de renda, está declarado, declarou o que eu recebi."

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"O gasto do sr em 2015 foi de 178 mil, olha o que o sr gastou, isso aqui tirando empréstimo, transferência do sr para o sr mesmo, isso é dinheiro novo aqui, olha o que o sr gastou, 680", prosseguiu o procurador do Ministério Público de São Paulo. "Qual que é a explicação que o sr tem disso daqui?"

"Sinceramente, isso é surpresa para mim", esquivou-se Merivaldo.

"Para mim também é muita surpresa", disse o procurador.

Na audiência com Jéter Rodrigues, o procurador foi incisivo.

"Se nós formos verificar o que entrou na sua conta em 2014 e o que entrou na sua conta em 2015 nós vamos encontrar uma diferença de aproximadamente 122 mil reais e isso está fora qualquer empréstimo, qualquer transação de conta para conta. O que o sr explica essa diferença, onde o sr conseguiu esse dinheiro a mais, montando 122 mil reais?"

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"Sinceramente eu desconheço", disse Jéter.

"Alguém operou pelo sr?", questionou o procurador.

"Eu desconheço, eu nunca depositei 34 mil na minha conta", afirmou o ex-assessor.

"Estou falando que, além disso, tem uma diferença aí de 122 mil reais. De onde veio esse dinheiro, alguém emprestou para o sr, alguém ... o sr tirou debaixo do colchão?", seguiu o procurador.

"Eu desconheço esses 122 mil reais, eu não nunca...", respondeu o investigado.

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No inquérito da Alba Branca, Jéter Rodrigues alegou ter firmado contrato de consultoria com a cooperativa agrícola Coaf. Mas, diante do procurador e do desembargador Sérgio Rui, o ex-assessor se confundiu.

"O sr nega ter recebido qualquer dinheiro por conta desses 200 mil reais, valor do contrato de consulta assinado com a Coaf?", indagou o procurador.

"Nego sim sr", respondeu Jéter.

Seguiu-se um interrogatório marcado pela tensão.

"Não recebeu nada?"

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"Nada."

"Como é que o sr explica uma movimentação anormal, aportes anormais de dinheiro exatamente depois da assinatura desse contrato, é mera coincidência?"

"Eu desconheço esse dinheiro, sinceramente, eu não me lembro desse depósito, não fiz nenhuma movimentação nesse valor, com certeza, só se esse valor de 34 mil foi um empréstimo consignado que eu fiz."

"Não, esse valor está fora empréstimo, isso aqui a contabilidade já excluiu qualquer empréstimo, nós sabemos de todos os empréstimos bancários que o sr tem. O sr não tem outra explicação?" "Não, eu não tenho, eu nunca fiz esse depósito."

"Admite que pegou cheque de 50 mil e negociou com o Merivaldo?"

"Não, eu não negociei, eu passei para ele".

"O cheque passou na sua mão, então, fez contrato, deu recibo, passou cheque na sua mão e não recebeu nada?

"Não senhor."

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