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Afeganistão: próximas gerações serão afetadas pela omissão das mulheres do restante do mundo

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Por Karim Miskulin
Atualização:
Karim Miskulin. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

As cenas vistas recentemente do Afeganistão são chocantes. Desesperadas, pessoas prenderam-se aos aviões em pleno voo e entregam suas crianças de mãos em mãos. A maioria de nós não pode nem imaginar o desespero por qual eles devem estar passando para tomar atitudes como estas.

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Analisando as imagens repetitivamente, um ponto que não sai da minha cabeça é o direito das mulheres. Promessas foram feitas pelos novos líderes políticos de que nada mudaria para elas, desde que respeitadas as leis do islã. Porém, o aposto é o que preocupa.

Não precisa ser um grande estudioso do tema para saber que a Sharia (o sistema jurídico do Islã), em alguns países, é severa demais com pessoas do sexo feminino. As normas determinam, por exemplo, que todos precisam se vestir com modéstia. Em geral, para as mulheres, isso significa que elas precisam cobrir, no mínimo, os cabelos. Já o adultério pode levar à pena de morte por apedrejamento, fato condenável inclusive pela ONU (Organização das Nações Unidas), por entender que a punição trata-se na verdade de tortura.

Vendo que as ameaças contra seus direitos poderiam ficar ainda mais fortes, muitas mulheres já estavam optando por deixar o Afeganistão, mesmo antes do domínio oficial do Talibã. Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de 80% dos que deixaram o país desde o final de maio são mulheres e crianças.

Outro ponto importante a ser lembrado é que, embora o país tenha passado de quase nenhuma menina na escola para dezenas de milhares na universidade, o progresso tem sido lento e instável. Relatórios da UNICEF apontam que, dos 3,7 milhões de crianças afegãs fora da escola, cerca de 60% são meninas.

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Além disso, em julho, a ONU relatou que o número de mulheres e meninas mortas e feridas no Afeganistão nos primeiros seis meses de 2021 quase dobrou em comparação com o mesmo período do ano anterior.

São números alarmantes que podem ficar muito piores, mas nós não podemos deixar que isso aconteça. E digo nós, como um movimento global. Mulheres de todas as partes do mundo precisam se unir em pró desse povo.

Cada uma de nós precisa pegar a "arma" que tem disponível para fazer a sua parte. Mobilizar instituições não governamentais, entrar em contato com representantes do setor público, usar redes sociais, escrever manifestos... Seja o que estiver dentro do seu alcance para conscientizar os nossos contatos sobre o retrocesso enorme e inadmissível que está acontecendo com as mulheres afegãs. Por muito menos já vimos influenciadores digitais usando suas redes e provocando mobilizações gigantescas. É preciso ter senso crítico na hora de levantar bandeiras femininas e, independentemente da crença e do lugar de cada uma de nós, nos unirmos, olharmos para frente e não perdermos as nossas conquistas. Que isso fique latente para de fato fazermos algo.

Talvez, nem isso, diante de todo o mal e retrocesso que ocorre no Afeganistão, seja suficiente. Mas, se ficarmos apenas sentadas esperando, podemos nos culpar e ver consequências muito maiores lá na frente, especialmente para as próximas gerações.

*Karim Miskulin é cientista política e CEO do Grupo Voto

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