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Advogado de Temer diz que 'não poder falar mal da Lava Jato é fascismo'

Antônio Claudio Mariz de Oliveira fez duras críticas ao instituto da delação premiada

Por Isadora Peron
Atualização:

Criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Foto: Iara Morselli/ESTADÃO

Advogado do presidente Michel Temer nas investigações desencadeadas por causa das delações premiadas dos donos da JBS, o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira fez duras críticas ao instrumento e comparou o fato de não se poder falar mal das medidas adotadas pela Operação Lava Jato ao regime do fascismo na Itália.

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Ao afirmar que delação não poderia ser tomada como uma prova cabal do cometimento de um crime, o advogado fez menção direta ao caso de Temer. "Não basta que se diga que o presidente fez isso ou aquilo. Ele é o presidente da República, ele representa um Poder. Nós estamos vivendo uma cultura punitiva em que não se tem nenhuma preocupação com a inocência", disse.

As declarações foram dadas durante um seminário realizado no Uniceub, em Brasília. Também participaram do debate os ministros do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes.

Durante a sua fala, Mariz disse que a delação premiada não é "um instituto do seu agrado" e que, em nome do combate à corrupção, os princípios legais estão sendo "achincalhados". "É claro que não se aplaude a corrupção, é claro que nós queremos que os corruptores sejam punidos, é claro que se aplaude os juízes e procuradores, mas não se combate a corrupção só com a cadeia, a cadeia vem depois do crime", disse.

Para ele, a corrupção não deve ser combatida apenas depois de o crime ser cometido, mas também com mudança no padrão ético da sociedade e mecanismos de proteção ao erário.

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Ele defendeu ainda que o instrumento da delação premiada precisa ser regulamentado e que a primeira coisa a ser feita é proibir a realização de acordos de colaboração com pessoas que estejam presas. "Eu não vejo nenhuma diferença entre a prisão e a tortura na delação. A única diferença é que, na tortura, a pessoa fala mais rápido. Ele está sem a família, sem comida, com a latrina dentro da cela, é claro que ele vai delatar", disse.

Para ele, a delação premiada não pode ser "considerada a panaceia de todos os nossos males". Em uma crítica ao fato de o Ministério Público não ter aplicado nenhuma pena aos delatores da JBS, que não estavam presos quando decidiram fazer o acordo, ele afirmou que é preciso definir o papel de cada órgão no processo de delação. "Se combate o crime dizendo que quem julga é o juiz, quem defende é advogado, e o Ministério Público acusa, não dá para embaralhar as coisas."

O advogado também fez uma crítica à imprensa, que, segundo ele, "tem transformado em verdade aquilo que deseja". Para Mariz, ao não dar espaço para notícias positivas e somente expor as mazelas do País, a mídia "vem conseguindo com que a sociedade abrace uma cultura punitiva".

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