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Advogada depõe na Corregedoria e diz que foi agredida por delegados em Delegacia da Mulher na Grande São Paulo

Eduarda Portella Quevedo afirma ao 'Estadão' que chegou a 'chorar de dor'; segundo ela, celular com filmagens da abordagem continua retido após confusão nas dependências da Delegacia de Defesa da Mulher em Barueri, na região metropolitana paulista

Por Rayssa Motta
Atualização:

"A palavra da mulher nunca vale, então eu comecei a gravar", relembra a advogada Eduarda Portella Quevedo, de 25 anos, sobre o ataque que alega ter sofrido na Delegacia de Defesa da Mulher em Barueri, na região metropolitana de São Paulo.

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Ela contou ao Estadão como teria sido agredida, verbal e fisicamente, pela delegada titular da unidade e pelo delegado assistente. Eduarda diz que teve o celular confiscado e foi detida pelos policiais civis. A jovem só conseguiu dar entrevista ao blog por intermédio de uma colega do mesmo escritório que foi até a delegacia prestar assistência. O aparelho ainda não foi devolvido.

"Eles estão me esperando para me deixar apreendida aqui o maior tempo possível para que sumam as marcas do meu corpo", afirmou ao blog na noite de quinta-feira, 27, quando teria acontecido a confusão.

O exame de corpo de delito só foi realizado nesta sexta, quando a advogada esteve na Corregedoria da Polícia Civil para registrar uma reclamação formal sobre o episódio.

O advogado Bruno Alvarenga, que representa Eduarda no caso, avalia que a conduta dos policiais pode configurar coação. "Foi um ato totalmente arbitrário", afirma ao Estadão. "O que mais intriga é o seguinte: aconteceu em uma Delegacia da Mulher e com uma advogada", acrescenta.

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De acordo com Eduarda, o desentendimento com os policiais começou ontem, quando ela esteve na delegacia para retificar um boletim de ocorrência. A advogada pleiteava medida protetiva para uma cliente vítima de violência doméstica. A mulher, com duas filhas, de 1 e 3 anos, teria sido agredida pelo marido ao anunciar a intenção de se divorciar.

Atendida pelo delegado, a advogada conta que, em um primeiro momento, ele se negou a pedir a medida protetiva e passou a fazer comentários ofensivos.

"Ele começou a revitimizar a minha cliente. Ele disse que realmente não iria pedir a medida protetiva, que ele só iria pedir se fosse uma situação de vida ou morte, que não era o caso dela, que ela estava bem. E que era assim na jurisprudência de Barueri. Ele falou assim: que juiz vai aceitar crime de ameaça se ela está morando com ele ainda?", narrou ao blog.

Advogada relata ter sido agredida em Delegacia da Mulher de Barueri. Foto: Reprodução/Google Street View

Ainda segundo o relato, diante da conduta do delegado, que teria chegado a seguir a advogada e a cliente dela com o dedo em riste quando as duas deixaram a sala inconformadas com o tratamento, ela decidiu gravar o episódio para apresentar na Corregedoria da Polícia Civil.

Apesar do tumulto, o pedido de medida protetiva foi formalizado - e acabou deferido hoje pela Justiça.. No entanto, como o processo é sigiloso, a advogada conta que foi orientada a voltar pessoalmente na delegacia para obter o número do requerimento, o que ela vê agora como uma 'emboscada'. O objetivo, na avaliação de Eduarda, era justamente apreender o celular com as filmagens do dia anterior.

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"Quando eu cheguei, eles estavam me esperando na sala da delegada e começaram a proferir diversos xingamentos. Disseram que eu era arrogante, metida, que eu humilhava ele com minhas roupas", conta Eduarda. "Apesar de estar muito ofendida, eu saí, não criei problema. Mas ele estava na porta e me deu um empurrão no ombro."

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Após o empurrão, ela conta ter sido vítima de uma série de agressões, dos dois delegados, até 'chorar de dor'.

"Ele falou que queria meu celular, veio para cima de mim e começou a apertar meu braço e a me agredir. Meu braço está todo roxo, arranhado. Começou a doer muito fisicamente e eu comecei a chorar de dor física. Nisso, eu tirei meu celular e comecei a filmar de novo para me resguardar", relembra. "Até meu relógio eles quebraram. Eu tenho 1,70 e 50 quilos. Ele é um homem, muito mais forte do que eu, um delegado de Polícia, e estava com revólver exposto o tempo inteiro."

A seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) acompanha o caso e deslocou membros da comissão responsável pelas prerrogativas da classe até a delegacia. A entidade disse, em nota, 'não admitir nenhum tipo de violência, principalmente em se tratando de mulheres'.

COM A PALAVRA, OS CITADOS

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A reportagem entrou em contato com a Delegacia da Mulher de Barueri para ouvir os delegados, mas eles não quiseram comentar o episódio. A unidade orientou o blog a procurar a Secretaria de Segurança do Estado.

Em nota, a Secretaria de Segurança disse que o caso 'está sendo registrado' e será investigado.

"O procedimento é acompanhado por advogados representantes da OAB/SP, em atendimento à disposição do Estatuto da Ordem dos Advogados (Lei 8.906/94) e a fim de que se garanta transparência e lisura no ato. Qualquer queixa quanto à postura de policiais civis no atendimento de ocorrências deve ser direcionada à Corregedoria da instituição para a devida apuração dos fatos", diz a pasta. 

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