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Academia pandemia

Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Foto: Estadão

Catorze meses de covid e a Academia Paulista de Letras continua a funcionar. O último encontro presencial foi a posse de Maria Adelaide Amaral, que sucedeu ao Príncipe dos Poetas Brasileiros, o inesquecível Paulo Bomfim. Ele era anima e cuore da Casa de Cultura por excelência do Largo do Arouche. Acadêmico por inteiro, vivia intensamente a vida institucional iniciada em 1963, quando ingressou sob a saudação de Ibrahim Nobre, o Tribuno de 1932. Nesse tempo, as posses eram de fraque. Rigorosamente formais e solenes.

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Paulo Bomfim tornou-se decano da Academia Paulista de Letras e seu mais longevo integrante. É uma presença permanente a inspirar o que deva ser uma fecunda participação num Silogeu de intelectuais.

Pois aquela noite de 12 de março de 2020 já sinalizava um período excepcional. Logo em seguida, veio a necessidade de distanciamento social e, desde então, não mais o chá da tarde, não mais o encontro prazeroso e as conversas que tinham início por volta das dezesseis e que perduravam depois do encerramento da sessão, impreterivelmente às dezoito.

Mas a Academia Paulista de Letras não é instituição que se resigne ao silêncio e à inércia. Logo se providenciou a possibilidade das sessões virtuais e estas têm acontecido, religiosamente, todas as quintas-feiras. Aquele encontro informal foi preservado, com acesso à sala virtual às 16,30 horas, sessão e prolongamento enquanto houver assunto. E estes não faltam!

Uma casa integrada por intelectuais analógicos, adaptou-se à era digital. Todos têm condições de acessar o clique de entrada, recebem o link na véspera e participam, gostosamente, da convivência mais democrática de que se tem notícia nestes tempos. A expressão é de José Gregori, assíduo frequentador: não há espaço em que as discussões ocorram de forma tão eloquente e tão polida como nesse ambiente hoje virtual.

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Houve tanta adesão ao novo sistema, que a Academia Paulista de Letras não teve o recesso do mês de janeiro, não observou feriados ou vésperas de feriado. Todos esperam, ansiosamente, a oportunidade de ouvir os pares e, mais ainda, de dialogar com figuras expressivas de nosso tempo.

Já estiveram para conversar com os acadêmicos escritores como Ruy Castro e Nelson Motta, o Ministro Delfim Netto, José Bonifácio Oliveira, o legendário "Boni", o constitucionalista Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o General Otávio Santana Rego Barros, a bailarina Marika Gidali, o cineasta e escritor Carlos Augusto Calil, o intelectual Roberto Muylaert, o editor Luiz Schwarz, o escritor Leandro Karnal, que acabou sendo eleito dia 15 de abril para a Cadeira 7, em sucessão à querida e saudosa Anna Maria Martins.

Essa vitalidade da Academia Paulista de Letras reside também na continuidade do Clube de Leitura, hoje impulsionado por José Fernando Mafra Carbonieri, que tinha ao seu lado Anna Maria Martins. Logo mais, um outro acadêmico o auxiliará nessa missão importante de disseminar a leitura e de discutir um livro por mês, para divulgar a melhor literatura.

Como a vida das Academias depende da partida de seus membros, a Academia Paulista de Letras não fugiu à regra. Teve de se despedir, nos últimos tempos, de Paulo Bomfim, de Zuza Homem de Mello e de Anna Maria Martins.

Personalidades insubstituíveis. Mas as Cadeiras não podem ficar vagas. Procedeu-se a eleição, também virtual, assim como acontece hoje no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no Parlamento e em outras instituições. Ganhamos Maria Adelaide Amaral, João Lara Mesquita e Leandro Karnal. Hoje, abril de 2021, somos quarenta outra vez.

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No afã de mostrar que uma Instituição criada em 1909 e que, portanto, este ano completará 112 anos de contínua existência, em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo - IMESP, lançou-se a Coleção Perfis Acadêmicos. Já foram publicados seis exemplares, com as biografias de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca, Patrono da Cadeira 40, Rubens Teixeira Scavone, Monteiro Lobato, Alexandre de Gusmão, Vicente de Carvalho e Nuto Sant'Anna e outros volumes virão. É o propósito da grande editora e da Academia Paulista de Letras de oferecer à infância e juventude brasileira, sínteses biográficas de vultos da cultura e que um dia foram considerados "imortais" por seus pares.

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A Academia Paulista de Letras também já se prepara em relação aos dois grandes eventos de 2022: o Centenário da Semana de Arte Moderna, de cuja realização ocuparam-se alguns integrantes seus, como Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida e o bicentenário da Independência, episódio histórico ocorrido às margens do Ipiranga, aqui na capital paulista.

Com esse fervor acadêmico, a Casa das Letras do Largo do Arouche continua a oferecer a São Paulo e ao Brasil uma parcela significativa da produção cultural bandeirante. Adequadamente ajustada a esta era resultante do profundo impacto que advém da Quarta Revolução Industrial, que a tornou e a seus integrantes, seres confortavelmente digitais.

Prova de que a vontade supera obstáculos e que o idealismo supera as dificuldades postas por uma provação que perdura e aflige, como é a pandemia da Covid19.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2021-2022

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