A manipulação do mercado financeiro pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, investigada na Operação Tendão de Aquiles, em meio ao acerto da delação premiada dos executivos do Grupo J&F, provocou um prejuízo ao País, segundo o delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues. Wesley foi preso preventivamente nesta quarta-feira, 13, em sua casa, em São Paulo.
Contra Joesley foi expedido um mandado de prisão. O empresário está custodiado temporariamente por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, por suspeita de violação de sua delação premiada.
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A Tendão de Aquiles investiga duas frentes de manipulação dos irmãos Batista no mercado financeiro. A primeiro é a realização de ordens de venda de ações de emissão da JBS S/A na bolsa de valores, entre 24 de abril e 17 de maio, por sua controladora, a empresa FB Participações S/A e a compra dessas ações, em mercado, por parte da empresa JBS S/A, manipulando o mercado e fazendo com que seus acionistas absorvessem parte do prejuízo decorrente da baixa das ações que, de outra maneira, somente a FB Participações, uma empresa de capital fechado, teria sofrido sozinha.
"Eles (os irmãos) detêm 100% das cotas da empresa FB Participações. Essa empresa, por sua vez, detinha 42,5% das ações da JBS S/A. As investigações demonstraram que quando os irmãos Batista iniciaram as tratativas para fechar o acordo de colaboração premiada com as autoridades, eles tinham consciência de que esse acordo de colaboração, quando viesse à tona, iria impactar o mercado, provocando, bastante provável, desvalorização da JBS", explicou o delegado.
"Tendo consciência disso, eles passaram a vender os papeis da JBS que ele tinham. Inicialmente, por meio da empresa FB Participações. O presidente da FB Participações, na época dos fatos, era o Joesley Batista. Ele determina, na condição de presidente, que a empresa passe a vender os papeis da JBS que ela detinha. E vende 42 milhões de ações da JBS ao preço aproximado de R$ 372 milhões. Quase que concomitantemente a isso, a própria JBS, que na época era presidida pelo Wesley Batista, passa a recomprar esses papeis que foram vendidos pela FB."
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O delegado afirmou que crimes financeiros 'são complexos por sua própria natureza'.
"Qual o prejuízo se nós temos uma venda quase que simultânea de papel pela FB e de recompra pela JBS? Ao fazer isso, eles, de um lado, evitaram que o excesso de oferta desses papeis no mercado provocassem uma desvalorização das ações, o que ia antecipar o que iria acontecer de qualquer forma com o vazamento do acordo de colaboração. Ao mesmo tempo, eles diluem o prejuízo com a queda dessas ações no momento em que a colaboração fosse divulgada", disse o delegado.
Segundo o delegado, ao vender pela FB e comprar pela JBS, 'a maior parte do prejuízo com a queda no valor das ações não ficou com os irmãos Batista e sim com os outros acionistas'.
"Esses acionistas são vários, inclusive o próprio governo federal, por meio do BNDESPar, que também detém ações da JBS. Feito isso, o acordo de colaboração realmente fechado e é divulgado pela empresa. Quando ele foi divulgado, aconteceu exatamente o que os irmãos Batista já previam. Houve um impacto brutal no mercado financeiro. Na manhã do dia seguinte, quando o mercado abriu, houve uma valorização de 9% dólar, que foi a maior desde 1999 quando houve a desvalorização do real. Houve uma queda de 8,8& do índice Bovespa. A maior desde 2008 com a crise imobiliária dos EUA", observou.
Victor Hugo Rodrigues declarou que 'no mesmo dia, os papeis da JBS chegaram a ter um pico de desvalorização de 37%'.
"A venda antecipada dos papeis evitou um prejuízo potencial de R$ 138 milhões. O prejuízo foi diluído com os acionistas da JBS", afirmou. "A vítima não foram só os acionistas da JBS, que tiveram que arcar com o prejuízo dos investigados, mas num contexto mais amplo, a vítima é o próprio país em que vivemos, na medida em que os crimes abalaram também a confiança no mercado, essencial para que as pessoas invistam no nosso País e isso promova o desenvolvimento."
A segunda frente investigada na Tendão de Aquiles é a intensa compra de contratos de derivativos de dólares entre 28 de abril e 17 de maio por parte da JBS S/A, em desacordo com a movimentação usual da empresa, gerando ganhos decorrentes da alta da moeda norte-americana após o dia 17.
O delegado da Polícia Federal Rodrigo Costa chamou a atenção para a primeira reunião entre os advogados da JBS junto à Procuradoria-Geral da República para um acerto de delação premiada.
"Foi na data de 2 de março. A JBS e seus sócios principais são investigados em seis operações da Polícia Federal e eles procuraram espontaneamente a PGR a fim de celebrar um acordo de colaboração. No entanto, eles cientes do potencial lesivo da informação que eles detinham, o conteúdo dessas colaborações que poderiam efetivamente abalar o mercado financeiro, abalar a economia, abalar a política, houve especificamente no tocante a compra de contratos futuros de dólar uma movimentação absolutamente atípica na compra de dólar no mercado futuro por parte da JBS. Isso foi muito bem pontuado por parte da CVM e laudo pericial que produzimos por parte da Polícia Federal", declarou.
COM A PALAVRA, PIERPAOLO BOTTINI, QUE DEFENDE OS IRMÃOS BATISTA
"É injusta, absurda e lamentável a prisão preventiva de alguém que sempre esteve à disposição da justiça, prestou depoimentos e apresentou todos os documentos requeridos. O Estado brasileiro usa de todos os meios para promover uma vinganca contra aqueles que colaboraram com a Justiça."