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A verdade sobre 'o novo patamar da carne' no Brasil

Fugindo do embate entre defensores e opositores do governo Jair Bolsonaro, País viu-se obrigado à prática de uma nova precificação em virtude de uma demanda maior de um de seus mais possantes clientes: a China

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Por Roberto Dumas
Atualização:

Roberto Dumas. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Não sei se a falta de conhecimento de economia básica extrapolou os limites da decência intelectual ou a ignorância econômica já ultrapassou as limítrofes da desonestidade intelectual.

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A carne subiu de preço no mercado doméstico. Não vou entrar nessa de discussão de acéfalos entre bolsominions e petralhas. Já ultrapassou os limites do bom senso e da coerência acadêmica essa história. O Brasil emburreceu?

Mas cabe uma provocação reflexiva. Alguém já exclamou: "Ora, que o governo obrigue essas empresas a venderem no mercado doméstico". Calma lá. E ignorar o princípio básico de oferta e demanda? "Que essas empresas percam margem a favor do bem-estar da população" gritam os pseudo defensores da justiça social.

Fazer o bem é bom e louvável. Mas vamos supor que essas empresas "especuladoras e ungidas pelo espírito do sete peles" resolvessem fazer a justiça social e vender no mercado doméstico a um preço inferior ao que pudessem obter vendendo para a China.

Diante do contexto de bem-estar social colocado acima, vem a inevitável pergunta: O que o gestor do fundo de investimento deveria fazer com a ação ou título corporativo dessa empresa, que busca a justiça divina, sabendo que sua decisão não maximizaria o retorno de seus acionistas ou de seus credores?

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Mais: você manteria em sua carteira de investimentos os títulos e/ou ações dessas empresas que não buscam maximizar o retorno de seus acionistas e credores? Toparia ganhar menos e continuar ganhando a menor em nome da justiça social? Talvez você, ungido pelo espírito santo, dissesse sim.

Cabe observar, no entanto, que a maioria desses credores e acionistas diriam não, o que prejudicaria a possibilidade de novas emissões de ações (follow on), bem como a emissão de novas debêntures.

O Brasil é um país único que busca mais liberalismo e maior intervenção do estado. Dois objetivos conflitantes, mas não totalmente excludentes.

Quando a ministra da Agricultura Tereza Cristina afirmou que era para se acostumar com preços maiores da carne, não faltou com a verdade. A demanda explodiu. Na China e um pouco no Brasil. Maior demanda e oferta constante levam a maiores preços. E assim que funciona uma economia de mercado.

Se alguém defende a intervenção na formação de preços, que limita sobremaneira a informação para os mercados, almeja  subliminarmente um governo intervencionista, preocupado com o bem estar social, sem visão sistêmica, que obriga um produtor de proteína animal a produzir seus bens sem promessa de maximizar seus lucros e dividendos e de seus acionistas e credores. Se assim fosse, como conseguiria recursos para investir na própria produção? Alguém toparia entrar nessa empreitada em prol do bem comum? Como buscar investidores ou credores neste empreendimento que certamente não lograria maximizar os lucros de seus investidores?

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Resumindo: a nova precificação da carne não passa de um ajuste econômico para garantir que os produtores continuem faturando. Para que os investidores sigam comprando ações e para que o País siga obtendo mais e mais lucros em relação ao mercado chinês e ao seu próprio mercado interno. Tudo o mais que vem sendo dito não passa de briga de torcidas. O que não nos leva a lugar nenhum.

*Roberto Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), graduado e pós-graduado em administração e economia de empresas pela FGV e Chartered Financial Analyst conferido pelo CFA Institute (USA). Representou o banco Itaú BBA em Shanghai e atuou no banco dos Brics em Shanghai (New Development Bank) nas áreas de operações estruturadas e risco de crédito

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