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A vacina e os sete pecados capitais

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Por Luiz Henrique Lima
Atualização:
Luiz Henrique Lima. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Sou do tempo em que ensinavam às crianças sobre os sete pecados capitais ou mortais. Quem os praticasse, não tinha saída: seu destino era o fogo eterno com muitos suplícios.

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Os tempos hoje são outros, mas algumas fraquezas humanas persistem, renovando-se nas formas, sem alterar significativamente a sua essência, enraizadas no egoísmo e no orgulho.

Nesta prolongada pandemia da Covid-19, presenciamos de tudo, do melhor e do pior que os seres humanos são capazes.

Vimos profissionais de saúde desdobrando-se em plantões e lutando contra a escassez de equipamentos para tentar salvar vidas.  Vimos cientistas e pesquisadores multiplicarem estudos e programas de cooperação para entender as características do vírus e produzir em tempo recorde imunizantes eficazes para combatê-lo. Vimos jornalistas, juristas, legisladores, gestores públicos, empresários, professores, motoristas, policiais, comerciantes, religiosos, artistas, atletas, domésticas, garis e tantos outros profissionais se desdobrando para adaptar a sua forma de atuação às novas condições impostas pela pandemia e assim contribuir para a mitigação de seus danos não apenas na economia, mas nas demais atividades humanas. Vimos cidadãos criarem redes de solidariedade para levar amparo material e espiritual àqueles que foram privados de empregos, de renda, de dignidade e de esperança.

Mas também assistimos o oposto.

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Pretensos especialistas, inflados pela vaidade, propagando charlatanices em detrimento da ciência. Lideranças inescrupulosas, cuidando apenas de ambições de poder, boicotando medidas preventivas duras, mas necessárias, porque eventualmente afetariam seus índices de popularidade. Desajustados de toda espécie fabricando e amplificando mensagens de desinformação, preconceito e ódio nas redes sociais. E os corruptos de sempre buscando atalhos para enriquecer criminosamente em meio à tragédia.

No catecismo, os sete pecados capitais eram: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja. É possível notar a presença de cada um eles no comportamento de alguns perante o processo de vacinação contra a Covid-19.

A preguiça se manifesta na atitude dos que não comparecem, sem motivo justo, ao agendamento previsto para a primeira ou a segunda dose, comprometendo o planejamento e o cronograma dos órgãos de saúde, desperdiçando tempo e recursos escassos no enfrentamento da pandemia.

A inveja é a característica dos que recusam determinada marca de vacina porque exigem alguma de outro fabricante, que supostamente lhes conferiria melhor proteção ou status.

A gula é a fraqueza daqueles que, já vacinados, querem se vacinar novamente com outra marca, indiferentes ao fato de que ainda faltam vacinas para a maioria.

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A ira é o que motiva os que disseminam notícias falsas sobre as vacinas, e foram milhares, sob a forma de declarações, artigos, vídeos, memes etc. Quem as reproduziu e passou adiante, e foram milhões, é corresponsável pelas mortes que a ignorância está provocando, e não são poucas.

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A soberba marca a conduta daqueles responsáveis que, por incompetência, desleixo, despreparo, inaptidão, inépcia ou simplesmente sadismo, deixaram de comprar as vacinas com a devida antecedência e nas quantidades necessárias. É gigantesco o número de vítimas que poderiam ter sido salvas se a vacinação tivesse começado algumas semanas antes e em maior dimensão, e isso era perfeitamente possível.

A luxúria é o vício dos que não vão se vacinar e com isso permitem que o vírus continue circulando, contaminando e matando.

Finalmente, a avareza é o pecado daqueles que roubaram ou tentaram roubar na compra de vacinas, mediante valores superfaturados e propinas, conforme documentado nas investigações em curso no Senado, na Polícia Federal e no TCU.

Sem dúvida, ao lado ou além da pandemia viral, a humanidade sofre de uma pandemia moral. Aos poucos, o joio e o trigo se separam e cada qual encontrará o destino que escolheu por meio do livre-arbítrio.

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Vacine-se. É um ato de amor-próprio e amor ao próximo.

*Luiz Henrique Lima é auditor substituto de conselheiro do TCE-MT

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