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A urgência para uma formação técnica

Por Mozart Neves Ramos
Atualização:
Mozart Neves Ramos. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A discussão em torno da importância de uma formação profissional técnica nunca foi tão necessária como agora. Com a pandemia o número de jovens sem atividade laboral cresceu substancialmente, o que se reflete no contingente de 14,4 milhões de desempregados em todo o Brasil, o maior número da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua). A pandemia vem também causando importantes estragos no campo da educação, especialmente no que se refere à queda brutal na aprendizagem, no aumento da desigualdade entre estudantes ricos e pobres e no abandono escolar.

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Segundo estimativas da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) divulgadas recentemente, a América Latina retrocedeu em, pelo menos, oito anos no acesso ao conhecimento durante a pandemia. Pelo pouco incentivo governamental para o ensino remoto, milhões de crianças e jovens ficaram literalmente sem estudar nestes últimos meses. A OEI estima que cerca de 17 milhões de estudantes latino-americanos,  dos últimos anos do ensino médio e dos primeiros anos da graduação, terão dificuldades para continuarem os estudos, principalmente por terem que auxiliar na renda familiar.

Entre o fim de 2019 e o início de 2020, cresceu de 18% para 23% a quantidade de desempregados no Brasil com ensino médio incompleto, quando a pandemia apenas estava começando. O cenário é tão preocupante que o Ministério da Economia colocou em pauta a criação de um programa piloto, chamado Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), para incentivar a entrada de jovens que não estudam e não trabalham (os "nem-nem") no mercado de trabalho. A ideia, que tem como principal objetivo reduzir o desemprego qualificando os trabalhadores, dividiria as responsabilidades entre o Estado e os empresários. Ao governo caberia pagar uma "bolsa" por trabalhador, complementar à ajuda dada pela empresa, que também arcaria com a responsabilidade de capacitar o jovem para o mundo do trabalho, oferecendo cursos e treinamentos internos.

Com esse número recorde de desempregados e o crescente abandono escolar por parte dos jovens em decorrência da pandemia, faz-se necessário discutir como a educação profissional técnica pode auxiliar diante desse contexto. Nesse sentido, o novo Ensino Médio, que se encontra em processo de implementação, é uma oportunidade ímpar para os jovens mediante o chamado 5º itinerário formativo, no qual ele pode concluir sua Educação Básica por meio de uma formação técnica profissionalizante. Além disso, essa formação pode ser efetivada, em parte, pela oferta de cursos de curta duração com certificações, os chamados FICs.

Esse caminho proporcionado pelo novo Ensino Médio vai ser importante na redução do abandono escolar e na geração de renda. Não podemos ainda esquecer que, de cada 100 jovens que concluem o Ensino Médio, apenas 22 vão para o Ensino Superior. É preciso, pois, ter uma política para o pós-médio, e o 5º eixo do novo Ensino Médio vai contribuir muito com isso.

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Em cenários disruptivos, como o que estamos vivendo, é preciso associar a esta formação profissionalizante o desenvolvimento de competências socioemocionais, tais como criatividade, autoconhecimento, abertura ao novo e resiliência emocional, o que pode ocorrer no âmbito do processo de ensino e de aprendizagem. É bom lembrar que estudos e pesquisas revelam que jovens com tais características mais desenvolvidas têm não só maiores chances de empregabilidade, como também de maiores salários.

O caminho está posto, temos um novo Ensino Médio que traz a possibilidade real de formação técnica profissionalizante para os nossos jovens, preparando-os para o mundo do trabalho. Não há tempo a perder. Como dizia nosso Betinho: quem tem fome, tem pressa.

*Mozart Neves Ramos é membro do Conselho da Mind Lab e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP - Ribeirão Preto. Foi secretário de Educação do Estado de Pernambuco

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