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A Ucrânia, o Vietnã da Rússia?

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Por Edson Miranda
Atualização:
Kiev. FOTO: DANIEL LEAL/AFP Foto: Estadão

Sempre neste planeta há conflitos armados, sejam eles de pequenas ou grandes proporções. Hoje os especialistas estimam a existência de vinte e oito conflitos armados no nosso planeta. Não é pouco. Na verdade, é lamentável que, em pleno século XXI, a humanidade ainda tenha que usar armas para solucionar suas pendengas.

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Atualmente, o conflito armado de maior projeção, sem dúvida, é a guerra na Ucrânia, a qual Vladimir Putin insiste em denominar como Missão Especial Militar. É guerra mesmo e com terríveis consequências humanitárias, econômicas e políticas.

Mais de três milhões de refugiados partiram das terras ucranianas para os países vizinhos. Aliás, trezentos deles já chegaram ao Brasil. É, com certeza, o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Grande Guerra. Lamentável recorde.

O conflito ucraniano já conta seus mortos às dezenas de milhares entre militares e civis. Uma guerra sangrenta como todas as demais. Ambos os lados têm perdas. A Ucrânia tem sua população sacrificada entre combates que não se restringem aos campos de batalha. A morte está em todos os lugares, nas casas, nos prédios, nas ruas e nos campos. O cheiro da morte empesteia as terras férteis do outrora celeiro da Europa. A economia ucraniana levará décadas para se reerguer e voltar a representar o que fora até recentemente. E o mundo, nunca mais será o mesmo.

Mas as perdas também atingem a Rússia. Vladimir Putin imaginava que suas tropas passeariam na Ucrânia e que povo ucraniano os receberia de braços abertos. Ledo engano. A resistência ucraniana tem sido assaz. Os países do Ocidente despejam armamentos e munições na Ucrânia e as suas tropas se mostram habilidosas no manuseio, muito além do esperado.

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As perdas materiais e humanas do lado do russo não são pequenas. O governo ucraniano afirma que mais de quatorze mil militares russos já foram mortos; que destruíram quase quinhentos tanques de guerra; e que derrubaram quase duas centenas de aeronaves e helicópteros. São números expressivos, que podem até estar inflados, mas devem ser verdadeiros, pois a Rússia já pediu ajuda à China em armamentos e recursos financeiros. Se pediu auxílio, é porque o lado russo não está suportando o impacto da guerra prolongada. Claro está que Vladimir Putin e seus militares cometeram um erro de avaliação. O preço pago está muito mais alto do que se esperava.

Não se sabe ainda que fim terá esse terrível conflito no sudeste da Europa. Ele poderá ficar restrito à Ucrânia ou poderá se expandir, sendo essa última hipótese a mais preocupante, pois será um passo para uma terceira grande guerra em solo europeu. Bastará algum país europeu, membro da OTAN, ser agredido pela Rússia por qualquer motivo. É importante lembrar da ameaça de retaliação, proferida pelo Ministério de Relações Exteriores da Rússia aos países que fornecerem armamentos e combustíveis às forças armadas da Ucrânia.

Mas, se o conflito ficar contido em terras ucranianas, a Rússia certamente terá em seu colo uma espécie de Vietnã, ou seja, um longo conflito desgastante e de alto custo, em todos os sentidos, e fadado a uma retirada humilhante. Não será um combate na selva como na Indochina das décadas de 50 a 70 do século passado, serpenteada por túneis invisíveis, dos quais brotavam guerrilheiros vietcongues do nada. A França e os Estados Unidos têm terríveis lembranças de suas passagens nessas terras asiáticas

Na Ucrânia será uma renhida guerrilha urbana, casa a casa, esquina a esquina, que custará muitas vidas de ambos os lados, mas o desgaste russo nessa contenda será imenso. Jovens soldados russos tombarão numa guerra para a qual não estavam tão preparados e aparelhados. E o pior, com certeza a maioria morrerá não sabendo bem por qual motivo estava combatendo seus vizinhos e antigos aliados.

Mesmo que a Rússia consiga derrubar o presidente ucraniano Volodymyr Zelenski e impor um novo líder aliado a Vladimir Putin, o custo para ocupar o país será elevadíssimo, já que terá que manter suas tropas na Ucrânia para sustentar o novo governo. Muito provavelmente a economia russa seguirá para a ruína por causa dessa insana guerra, originária dos desvaneios do novo czar. Em algum momento, a oligarquia e a população russa não mais suportarão as mortes e os prejuízos econômicos da famigerada missão especial militar e o governo de Putin estará fadado à queda. A história russa mostra que seus líderes não se mantém no poder, após derrotas militares.

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Seria oportuno Vladimir Putin colocar suas invisíveis barbas de molho e reavaliar a encrenca em que enfiou a Rússia, sob pena de reinventarem a guilhotina na terra da vodka e usá-lo como cobaia.

*Edson Miranda, advogado, professor universitário e escritor

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