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Lava Jato pede à Suíça buscas na casa de operador de propinas

Bernardo Freiburghaus abriu contas secretas em Genebra para ex-diretor da Petrobrás, que teria recebido mais de US$ 30 milhões da Odebrecht

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Por Redação
Atualização:

Atualizada às 12h59

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Por Jamil Chade, de Genebra, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt

A força-tarefa da Lava Jato encaminhou à Suíça um pedido de colaboração para que sejam feitas buscas e apreensões na residência e até no escritório do empresário Bernardo Schiller Freiburghaus, apontado como um dos operadores de propina no esquema de desvios da Petrobrás no país europeu. O pedido foi encaminhado no final de abril às autoridades suíças via Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça.

Na solicitação, a força-tarefa da operação que desmontou esquema de corrupção e propinas na Petrobrás pede que sejam localizados e até bloqueados ativos de Freiburghaus que, desde que a operação eclodiu no Brasil, passou a viver em Genebra, num dos endereços de maior luxo da cidade suíça. Alvo da 9ª etapa da Lava Jato, que levou à prisão o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, Freiburghaus é apontado como um dos 11 operadores de propina na diretoria citado pelo delator Pedro Barusco e que entraram na mira das investigações neste ano.

Segundo o ex-diretor da Petrobrás e também delator Paulo Roberto Costa, Freiburghaus foi o responsável por abrir e operar suas contas na Suíça por onde passaram ao menos US$ 31,5 milhões em propinas supostamente recebidas da empreiteira Odebrecht. De acordo com o delator, foi o próprio diretor da Odebrecht Plantas Industriais, Rogério Araújo, que teria lhe indicado o operador na Suíça para abrir as contas onde eram recebidos os recursos a título de "política de bom relacionamento" da empreiteira com ele.

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Bernardo Freiburghaus, apontado como operador de propina ligado a Odebrecht, na Suíça / Foto: Jamil Chade

Além disso, Freiburghaus é investigado também pelas autoridades do país europeu, que suspeitam que o brasileiro tenha contribuído para a lavagem de dinheiro decorrente do escândalo na Petrobrás e que acarretou no congelamento de US$ 400 milhões por parte das autoridades de Berna.

No dia 16 de abril, o procurador da República Carlos Bruno da Silva, secretário de Cooperação Internacional do gabinete do procurador-geral da República, informou a força-tarefa da Lava Jato que o pedido de assistência jurídica em matéria penal havia sido encaminhado ao DRCI, órgão competente para redistribuir documentos dessa natureza para outros países.

VEJA O PEDIDO DO PROCURADOR CARLOS BRUNO DA SILVA:

 Foto: Estadão

No dia 22 de abril, o coordenador geral do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional Isalino Antônio Giacomet Junior, comunicou a Procuradoria-Geral que a solicitação para buscas e bloqueio de ativos de Freiburghaus já havia sido enviada à autoridade central suíça.

VEJA O COMUNICADO DO DRCI À PGR:

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 Foto: Estadão

Berna confirmou que sabia que o pedido seria feito e que já havia iniciado um levantamento das atividades do operador, que no país europeu usa sua identidade suíça para se apresentar. As contas já bloqueadas em nome dos ex-diretores da Petrobrás foram movimentadas por Freiburghaus que tinha inclusive os códigos e procurações para fazer depósitos e saques em nome dos delatores.

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Um exame dos documentos ainda é uma das apostas dos suíços para tentar determinar se o operador sabia que o dinheiro era de fato fruto de corrupção e até que ponto ele reconhece que os depósitos foram realizados pela Odebrecht. Se essa suspeita for confirmada, Freiburghaus poderá ser investigado por lavagem de dinheiro, crime que o valeria de 3 a 5 anos de prisão na Suíça.

Com este pedido, a força-tarefa tenta avançar nas investigações da Odebrecht, maior empreiteira do Brasil e suspeita de envolvimento com o cartel de empresas que fraudava licitações na Petrobrás e pagava propinas no esquema que abastecia caixas do PT, PMDB e PP.

Há 15 dias, no único encontro do doleiro com um jornal brasileiro, Freiburghaus ofendeu a reportagem ao ser questionado sobre o caso da Petrobrás e garantiu : "Não conheço ninguém". Ele não explicou porque se mudou para Genebra desde que o caso eclodiu no Brasil.

Ele se recusou a comentar o fato de que os ex-diretores da Petrobrás revelaram em delação premiada no Brasil que ele seria o operador que responsável pelas contas na Suíça, abertas para receber as propinas no escândalo revelado pela Operação Lava Jato.

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Quando foi informada sobre a delação de Paulo Roberto Costa, Odebrecht negou as acusações do ex-diretor e reiterou que não fez pagamentos ou depósitos para Costa e nem para qualquer outro executivo ou ex-diretor da estatal. Veja a íntegra da nota abaixo:

"A Odebrecht nega as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras e por doleiro igualmente réu confesso em investigação em curso na Justiça Federal do Estado do Paraná. A Odebrecht nega em especial ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer político, executivo ou ex-executivo da estatal."

Em Genebra, o operador passa grande parte do tempo em seu apartamento alugado e que está avaliado em mais de R$ 10 milhões, Pela noite, das janelas que dão acesso à cozinha, pode-se ver Freiburghaus com frequência. O Estado esteve em mais de dez ocasiões no local e, apesar de nenhuma resposta do interfone do prédio, a movimentação mostrava que o apartamento estava ocupado.

Em fevereiro, quando o Estado primeiro esteve no endereço à beira do rio Ródano, uma moradora do mesmo apartamento garantiu em português que 'não existe' nenhum Bernardo Freinburghaus naquele endereço. Na última sexta, ele não atendeu quando a reportagem tocou em seu endereço para comentar o caso.

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