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A sociedade do amanhã

Por Ricardo Breier
Atualização:
Ricardo Breier. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

"A chegada do coronavírus nos lembra que a incerteza permanece um elemento inexpugnável da condição humana." A frase é do filósofo francês Edgar Morin e representa a elevada complexidade do momento pelo qual estamos passando. "Navegamos num oceano de incertezas com arquipélagos de certezas", acrescenta Morin.

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A pandemia do novo coronavírus traça a sociedade do amanhã, pela necessidade de novos valores e princípios comunitários. Em contextos de disrupção, janelas para transformações e inovações são abertas.

Estamos diante de um cenário movediço e de incertezas, surgindo em ondas no meio do oceano, quando tudo fica ainda mais complexo e angustiante. Não estávamos preparados, e isso apavora. Diante de um universo de revoluções tecnológicas, fomos lembrados da nossa fragilidade diante de forças incontroláveis - e minúsculas - do ambiente no qual estamos inseridos.

Cerca de quatro bilhões de pessoas já foram afetadas diretamente pelo confinamento e pelas medidas de restrição em mais de 180 países. É sufocante ver uma liberdade até então consolidada e estabelecida se transformar num conceito pueril e quase inalcançável. Ficar em casa se tornou um mantra repetido mundialmente. E, mesmo assim, mais de 330 mil cidadãos já foram abatidos pela covid-19.

Postas a realidade do confinamento e as crises desencadeadas na saúde, economia e política internacional, os olhos se voltam para o futuro. As lições que estamos vivendo hoje já estão impactando a forma como nos relacionaremos e conviveremos daqui para frente. O "local" ganhará força diante do global. A cooperação, com foco no regional, tende a prosperar. A distribuição do tempo obedecerá a novas escalas. Sem solidariedade humana e informação científica segura, o vírus seguirá forte!

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A sociedade do amanhã está começando a fazer novas escolhas, e teremos que estar do lado certo. Para tais decisões, só com base e alcance à informação. Para isso, precisamos da tecnologia, ainda mais em tempos de isolamento. Sem esse pré-requisito, haverá muitos descartes sociais.

Diante desse cenário, vai se abrir um abismo. Quanto mais distante da tecnologia, mais problemas. Haverá exclusão para quem não estiver disposto ou não conseguir se atualizar. Processos serão simplificados e facilidades estarão ao alcance de poucos toques nos smartphones.

Agora, o alerta: é preciso inclusão social e tecnológica urgente, uma missão para a redução do analfabetismo digital. Os governos precisam seguir investindo pesadamente em educação e acesso universal nas escolas. As novas gerações precisam sair dos bancos escolares e ficarem alinhadas às realidades que encontrarão no mundo Pós-Coronavírus. O tempo está passando, e ele não poupará aqueles que permanecerem no passado.

O professor e historiador Leandro Karnal externou com precisão o quanto essa segregação tecnológica protagonizou, em termos de perspectivas, a forma como lidamos com as restrições impostas pela pandemia: "As classes média e alta enfrentam o tédio, tensão familiar e administração das neuroses cotidianas. Classes baixas enfrentam fome, perda de emprego e sensação de fim de vida."

Finalmente, vêm as nossas escolhas diante dessa pandemia sem precedentes. Não considero esse momento um castigo, como no passado as epidemias eram definidas. Ganhamos a possibilidade de nos tornarmos melhores.

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A pandemia desnudou governos que viabilizaram políticas partidárias diversas da política de Estado. Interesses coletivos na sociedade do amanhã terão que ser uma obrigatoriedade de sobrevivência em prol do indivíduo.

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Se daqui a alguns meses sairmos com uma nova ressignificação de valores, envolvendo a nossa vida, a família, os princípios éticos e a concepção de um projeto de nação, este período ficará marcado como uma ruptura para dias melhores. Com mais espaço para ciência e tecnologia e menos manchetes para delírios ou profecias irresponsáveis.

No oceano de incertezas sugerido por Morin, vamos aportando nos arquipélagos das certezas. São essas passagens que fundamentarão um futuro com mais prosperidade e justiça social para os bilhões de habitantes do planeta Terra.

Por fim, o voto na sociedade do amanhã será a ferramenta para o futuro de nossas gerações. Precisaremos, pós-pandemia, de um verdadeiro projeto de nação coordenado com mais solidariedade e confiança no poder público, na ciência e na cooperação internacional. Do contrário, seguiremos sucumbindo, não apenas nesta atual pandemia, mas também em outras no futuro.

*Ricardo Breier, presidente da OAB/RS

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