A operação, deflagrada no dia 17 de março, revelou um esquema de corrupção nas superintendências regionais do Ministério da Agricultura, nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná, que envolvia fiscais federais e empresários dos maiores frigoríficos do País. De acordo com a PF, os agentes públicos investigados recebiam propinas para emitir certificados sanitários a carnes estragadas e adulteradas.
A ex-funcionária do Peccin afirmou à PF ter sido demitida após relatar ao fiscal federal DanielGouvêa Teixeira - considerado a gênese da Carne Fraca, por ter denunciado o esquema, em 2015 - as irregularidades cometidas no frigorífico. Ela alegou ter recebido ameaças da dona do Peccin, Nair Peccin, um dos alvos da operação, para que não delatasse os esquemas de propina e a adulteração da carne produzida pela empresa.
Enquanto trabalhou no frigorífico, a médica veterinária gravou conversas com superiores que a instruíam sobre procedimentos de adulteração de carnes.
Um mês após ser demitida, em julho de 2014, a médica veterinária registrou os arquivos de áudio e as respectivas transcrições, no 7º Tabelião de Curitiba.
"Ó, salsicha superfrango eu fiz aqui uma quantidade bem baixinha "né da produção, mas é, eu coloco lá eu tô com 1 Kg (um quilo) de carne suína eu coloco é que existe dentro do meu estoque entendeu? É, porque assim, porque é o que eu compro pra fazer é, por exemplo na minha salsicha também não adiciono entendeu? Na realidade. Mas é pro meu, pra fabricação eu utilizo pra fazer por exemplo afiambrado e apresuntado. Na minha toscana eu utilizo esta carne. Aí eu não aponto a fabricação de toscana e falo ó fiz salsicha superfrango, fiz salsicha Peccin entendeu?", afirma o suposto funcionário, registrado nas gravações.
A Operação Carne Fraca começou com base no depoimento de Daniel Gouvêa Teixeira, fiscal que foi afastado do cargo após pedir a suspensão das atividades do frigorífico Peccin, do Paraná.
Enquanto trabalhou na empresa, a médica veterinária chegou a gravar conversas nas quais o dono, Idair Peccin, disse que "daria um jeito" em Daniel Teixeira, em acordo com a superior do fiscal, Maria do Rocio.
Em um documento de áudio intitulado como "maria.mp3", que também foi gravado, registrado em cartório, e entregue à PF pela ex-funcionária do frigorífico, uma mulher não identificada diz que "o doutor Daniel mandou parar o carregamento". Em resposta, um funcionário explica que é para "deixar ele fazer o que ele quiser". "A doutora Maria do Rocio está assumindo o cargo hoje de novo, ele não volta".
COM A PALAVRA, O FRIGORÍFICO PECCIN
A PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA. vem a público comunicar, em razão da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, realizada ontem, dia 17 de março, sua grande surpresa, consternação e forte repúdio as falsas alegações que culminaram com a prisão preventiva de seus diretores, esclarecendo o seguinte: 1. A PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA. tem amplo interesse em contribuir com as investigações, em busca da verdade, estando inteiramente à disposição das autoridades policiais para prestar quaisquer esclarecimentos que se façam necessários; 2. A PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA. declara que estão confiantes de que os órgãos competentes saberão discernir a efetiva veracidade dos fatos que ora se alegam, ainda, conclama pela paciência e serenidade da sociedade para o esclarecimento dos fatos verdadeiros; 3. Por isso a PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA. lamenta a divulgação precipitada de inverdades sobre o seu sistema de produção, sendo que as informações repassadas ao grande público foram no afã de justificar os motivos da operação "Carne Fraca", modificando os fatos e comprometendo a verdade. 4. Por fim a PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA., esclarece que que não tem qualquer vínculo comercial ou societário com a Peccin S/A, indústria gaúcha de doces e chocolates.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE MARIA DO ROCIO
"Gustavo Sartor, advogado de Maria do Rocio Nascimento, informou que em razão do sigilo do Inquérito Policial não irá se manifestar."