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A polarização política e a (des)informação provocada pelos meios de comunicação

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Por Marcelo Batlouni Mendroni
Atualização:
Marcelo Batlouni Mendroni. FOTO: JOSÉ PATRICIO/ESTADÃO Foto: Estadão

Nas últimas eleições gerais, a sociedade brasileira se envolveu em intenso e ardente debate político. Estas eleições parecem ter desencadeado uma polarização política no Brasil, já presente, de certa forma, em outros Países. Nas famílias, entre amigos, e especialmente nas redes sociais, as polarizações político-ideológicas geraram intensos conflitos. Direita versus Esquerda. Mas afinal, qual das vertentes políticas é melhor para a sociedade brasileira?

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O Brasil passou recentemente dezesseis anos sob o domínio de governos de ideologia radical esquerdista, na qual prevaleceram - ou melhor, deveriam prevalecer as medidas assistenciais à população mais carente. Mas o que veio à tona, segundo a Justiça, foi uma criminalidade organizada endógena destes governos (corrupção, lavagem de dinheiro etc.) que consumiu grande parte da arrecadação. Os investimentos e o crescimento foram extremamente prejudicados. O PIB ficou negativo. O Brasil perdeu arrecadação e a sociedade ainda enfrenta as consequências de uma crise econômica que foi agravada pela pandemia do coronavírus.

A reboque das insatisfações sociais e como contraponto, foi eleito um governo de direita, que ainda apenas iniciou sua gestão, pregando mudança radical para compensar o que não foi feito naqueles anos de governo de esquerda, mas cujas ações acabaram encobertadas exatamente pela pandemia.

E afinal, qual é a ideologia correta? Direita ou Esquerda? Qual delas reflete a viabilidade de uma sociedade mais justa, com mais qualidade de vida para a população? Sociedade mais justa é sociedade mais igual, onde todos tenham e cumpram - e aí está o ponto chave, - "direitos, deveres e oportunidades".

A discussão política deve fazer parte de um regime democrático. É saudável quando pacífica, mas prejudicial quando agressiva e extremista, atingindo o fanatismo. E o radicalismo político brasileiro já dá alguns sinais de fanatismo. Fanatismo gera violência, e esta é a pior das consequências. Os "fanatismos", como o religioso e o político, são capazes de corroer uma sociedade e até destruí-la, no limite, em guerras civis. Há diversos exemplos na história mundial. Conflitos em regra são muito traumáticos.

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Mas para uma discussão "saudável", sem extremismos, afigura-se crucial o papel da imprensa, com a veiculação de informações. Ocorre que no Brasil esse "extremismo" que se direciona ao "fanatismo" parece ter contaminado a própria imprensa...

O que se observa atualmente é a atuação dos meios de comunicação, quase todos, com nítidos direcionamentos dos pensamentos políticos em um esforço camuflado, indireto, astucioso e dissimulado para a manipulação da opinião pública, conforme os próprios interesses da empresa detentora dos direitos de comunicação, de todos - televisão, rádio, jornais e revistas. As notícias são entregues à população de forma distorcida e não autêntica. Apresentadores de jornais na televisão inserem palavras escolhidas, selecionam frases, ângulos e cenas nas filmagens, escrevem textos preparados, fazem gestos e entoações nas vozes; tudo para aquilo que desejam enfatizar e da forma como desejam enfatizar. Textos em jornais são escritos cuidadosamente com palavras selecionadas - com o mesmo objetivo. Os próprios temas de algumas reportagens, as pessoas escolhidas para serem ouvidas ou entrevistadas - e suas tendências, tudo é cuidadosamente pensado e preparado pelos editores das redações para, ao invés de noticiar, encenar a divulgação da notícia que acaba sendo travestida, deformada e direcionada para o público conforme os interesses próprios, sejam financeiros, sejam da guerra dos índices de audiência ou sejam quais forem. Nesse contexto em que há de tudo, falta apenas a tão propalada imparcialidade.

O resultado disso é que a população que consome toda esse noticiário teatral se vê em choque de consciência decorrente da desinformação causada pelo excesso de informações que, de tão mutiladas, consistem, no seu âmago, nas próprias "Fake News implícitas".  Elas se convertem, no final das contas, justamente em potente elemento provocador daqueles indesejáveis extremismos e fanatismos populares. E assim, as tendências naturais de cada um, direita ou esquerda, acabam sendo potencializadas por esta própria imprensa irresponsável que incute atritos nas mentes das pessoas, com considerável parcela de responsabilidade sobre aquelas atitudes extremistas radicais assistidas nas ruas e veiculadas nas redes sociais.

A liberdade da imprensa é crucial e imprescindível! É constitucional e qualquer censura é impensável. Mas ela não pode ser usada de forma dissimulada, abusiva e irresponsável.

Acreditamos ser esta uma fase histórica no Brasil de evolução da própria sociedade. Evolução de pensamento, mas principalmente da capacidade de raciocínio, de entendimento e de discernimento em relação às tentativas invasivas como agentes provocadores do convencimento, sejam eles quais forem; que repercutem na forma de agir, de falar e do comportamento de cada um. Trata-se de evoluir no sentido de se conseguir ver, ouvir e ler o que se recebe das outras pessoas e da imprensa, estabilizar as reações emotivas para conseguir refletir e então ter a capacidade de concluir sobre aquilo que lhe pareça a melhor solução para a sociedade como um todo; e, por consequência, da sua qualidade de vida individual.

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Mas enquanto a sociedade não evolui, tal como ocorre nos Países desenvolvidos, resta-nos suplicar à toda a imprensa brasileira que mude a forma de noticiar, passando a fazê-lo - de fato - de forma honesta e imparcial, sem ênfases, sem "tendencionismos" e sem direcionamentos egoístas, ocultos e implícitos; já que o que serve para a sociedade como um todo e para cada indivíduo, serve também para as próprias empresas de telecomunicações - a desejada melhoria qualidade de vida.

"Nós temos que aprender a enxergar com os olhos da inteligência, sem o que nós tatearemos cegamente. E o resultado é que enxergaremos apenas a nós mesmos". J. W. von Goethe

*Marcelo Batlouni Mendroni, promotor de Justiça/SP

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