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A micromobilidade no pós-pandemia

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Por Luiz Marcelo T. Alves
Atualização:
Luiz Marcelo T. Alves. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O ano de 2020 já havia começado repleto de mudanças para o setor da micromobilidade. Em janeiro, as principais operadoras anunciaram a saída de alguns mercados e reestruturação das equipes e a diretriz das empresas passou a ser a eficiência financeira. A rápida disseminação da covid-19 trouxe novos desafios até então impensáveis para o setor, com suspensão de algumas operações e redução de times. Apesar de o ano ter começado repleto de más notícias, as expectativas das empresas de micromobilidade são de forte retomada da indústria do transporte à medida que as atividades retornem aos patamares anteriores ao período de quarentena. O principal ponto aqui é a aposta a longo prazo: não faz sentido que as viagens urbanas sejam feitas por veículos espaçosos, pesados e poluentes todos os dias. É esse status quo que deve ser combatido e a solução está em transportes mais eficientes e limpos, como o coletivo e os micro-veículos.

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Em meio à pandemia, algumas cidades já começaram a mudar esse status quo. Bogotá criou mais de 100 km de ciclovias temporárias. Bruxelas e Milão estão aproveitando esse momento de crise sanitária para implantar o acalmamento de tráfego e mudanças importantes no desenho urbano voltado para as pessoas. Já na Suíça, uma pesquisa apontou que, apesar de todos os meios de transporte terem apresentado relativa queda de uso no início do período de reclusão, na quinta semana de isolamento social a distância percorrida pelos chamados modos ativos (bicicletas e caminhadas) voltou a crescer e os ciclistas já estavam pedalando 70% a mais do que no período pré-covid-19.

Mas quais serão os impactos observados na mobilidade urbana depois que o pior da pandemia de coronavírus tiver passado? O consultor e pesquisador de tendências no setor Prabin Joel Jones, por exemplo, acredita que as pessoas irão procurar utilizar mais os transportes individuais próprios, com medo de grandes aglomerações e de contato físico com desconhecidos. Esta projeção é possível, mas precisa ser contextualizada à realidade brasileira: o transporte coletivo não é substituível nas nossas grandes cidades, muito menos se essa migração for para o automóvel. Não há como substituir um meio com capacidade de mover 15 milhões de pessoas num único dia, como acontece na Região Metropolitana de São Paulo.

Outra perspectiva importante nessa discussão é a de que problemas urbanos como a mortalidade no trânsito e a poluição do ar tendem a ser evidenciados após a redução do uso de veículos motorizados nas cidades. Isto possivelmente nos levará a rever nossos hábitos de consumo e iremos nos apegar mais ao essencial, dando prioridade a boas experiências ao invés do consumo pelo consumo.

Para o WRI, após esse período de pandemia deve permanecer a "urgência de tornar as cidades mais resilientes, equitativas e de baixo carbono". A organização acredita que "o distanciamento forçado talvez provoque a reflexão sobre o impacto das escolhas de mobilidade". Nessa lógica, é possível imaginar que essa crise sanitária irá ajudar a sociedade a se conscientizar sobre a importância de se viver em ambientes mais saudáveis, o que inclui deslocamentos com maior eficiência energética. Assim, a micromobilidade vai continuar se consolidando no ambiente urbano como alternativa aos automóveis e como parte do sistema, cada vez mais integrada ao transporte coletivo e sairá fortalecida após a pandemia.

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*Luiz Marcelo T. Alves, coordenador de Policy da Grin

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