Era uma vez, os filhos eram educados junto da família. Primeiro sem escola, depois em escolas perto de casa, o tempo de chamar para o almoço da janela da sala.
Vai daí, vem a revolução industrial e pais e mães trabalhadores da casa, precisaram migrar para a fábrica: eram ferreiros, carpinteiros, doceiras... viraram operadores de tear.
Alguém precisava cuidar da criançada...
A Escola foi a solução, fosse mesmo para cuidar, fosse para treinar mais gente que aprendesse a repetir e repetir tarefas, herdando o trabalho dos pais quando crescessem.
E ela quase sempre foi um instrumento político, um meio de controlar e guiar as massas. Educar?
Educar devia ter sido outra história, mas não foi. Os pais, cansados da fábrica e da cozinha, começaram a perguntar: quem vai ficar com Joãozinho e Mariazinha? Depois mães e pais executivos perguntaram: Quem vai ensiná-los? Sendo ensinar toda sorte de ensino, do aprender a fazer e, se sobrasse tempo, aprender a ser, e, convenhamos, individualidade não era bem a especialidade da escola.
Veio a pandemia e escancarou o debate anacrônico num mundo mutante e que já não sabe dizer qual é o tempo de aprender. Protegemos um segredo público: agora temos que aprender o tempo todo, em todo lugar, em casa e na escola, sem hora marcada: daylong learning!
Estamos muito, muito atrasados! Em exatos dez anos, desde que a IA fez sua reentrada triunfal no mercado pelos braços do Watson da IBM, o que era matéria de laboratórios das universidades ganhou as ruas e assaltou mentes e corações ao estilo de um vírus, feito uma COVID-19 e combinado com ela.
Pouca serventia terá o desespero de entrarmos em alerta, em passeatas vociferando contra o fim da economia como a conhecemos. Para o bem e para o mal, abriu-se a caixa de pandora!
Agora que sabemos que quase nada é impossível, de fechar cidades a parar aviões, de aulas virtuais ou com cartilhas mal impressas distribuídas por motoboys apressados, precisamos enfrentar o fantasma da qualidade do ensino e do acesso universal da internet, se já não podemos voltar a "casa" que não existe mais.
Sim! A Escola já é uma nova escola e aquela que não começou a jornada, que comece com urgência: não há tempo a perder!
Ela já não é só de tijolos. Sua existência virtual independente da existência física. Ela estará preparada para toques de recolher, se nos assaltarem de novo. Ela ensinará a viver num mundo em que tudo, de religiosidade a trabalho, de lazer a padrões de consumo, tudo está em movimento.
Aos professores que ficaram em casa, sofrendo com aulas de cinquenta minutos na web para uma audiência arisca e concorrência de atenção ao alcance do mouse, resta uma palavra de incentivo: mude, em lugar de somente gritar que a escola presencial é um exemplar puro da raça, única solução para educar gente que já não sabe o que é não estar conectada.
Por anos clamei para que ouvissem a voz da razão e se preparassem, para que não tentassem educar nossos jovens para um século que terminou fazem 20 anos agora, por anos eu lhes disse que não havia oposição entre tecnologia e educação, virtual ou presencial e que educar para nosso tempo não era escolha, mas missão.
Nunca quis destruir prédios nem advoguei por uma Escola só virtual. O que sempre desejei, foi dar novo sentido aos tijolos, à sala de aula, de que tipo fosse.
Nesta nova Escola híbrida, um novo professor repensa suas práticas para incorporar o socioemocional e a troca entre iguais, de conhecimento e sentimentos. Ele não grita mais. Ele não está mais sobre um tablado distante, uma espécie de pódio do conhecimento. Ele também é um igual, ensina e aprende.
Ele sobretudo ajuda a moldar cada nova alma de um jeito novo: aprender aquilo que eu preciso para que eu seja aquilo que eu sonho, um novo sentido de conteúdos e ferramentas para a vida, em que profissões ficam menores que ocupações que se transformam pela vida.
Num tempo em que o impossível não existe mais, já é preciso um programa de formação de professores dispostos a olhar para frente de forma livre, Humana e Digital ao mesmo tempo!
Um esforço para uma Escola que considere a tecnologia com mais seriedade do que trata um martelo, que ensine as dimensões do que ela pode fazer e do que não deve fazer:
Educar para a tecnologia, organizar o conhecimento do aluno em relação a tecnologia e entender o papel dela na sociedade;
Educar com tecnologia, uma escola que transita do ensino presencial e virtual de forma ágil, rápida e não traumática;
Educar em um mundo de tecnologia, encorajar a compreensão de que o mundo continuará avançando com a tecnologia e conscientizar o estudante do papel do ser humano diante dela;
Educar, apesar da tecnologia, um ensino que trabalhe junto da tecnologia, mas saiba viver sem ela, entendendo que ela existe por nós e não contra nós.
O futuro grita por um convívio de paz do Humano e o Digital e precisamos começar já.
*Roberto Francisco de Souza, CEO da Kukac