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A imaginação a serviço do crime

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Por Flavio Goldberg e Valmor Racorti
Atualização:
Flavio Goldberg e Valmor Racorti. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Aldous Houxley em "As portas da percepção" e Carlos Castaneda em " A Erva do Diabo" exploraram os potenciais de usos de elementos capazes de provocar estados de transformação psicológica na contingência da realidade.

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Da mesma forma que o desenvolvimento de remédios capazes de servir à cura de doenças mentais com eficácia comprovada, aliviando o sofrimento de pacientes, em processos simultâneos de psicoterapia, psicologia clínica, psicanálise, aliviando a dor, estabilizando o humor e, consequentemente, possibilitando estado de prazer, desde sempre, em paralelo o sujeito criminoso se apoderou do princípio para auferir ganhos com a fragilidade humana, com a tendência de fuga da realidade, principalmente, por parte de jovens, criando derivações do terapêutico para o entretenimento seja moderado até o radical, no delírio e na demência.

Trata-se, portanto, de uma permanente disputa entre o que a Medicina, particularmente, a Psiquiatria e a Psicologia precisam apurar e qualificar e o oposto, aquilo que o Crime dissemina, levando à perda de contato com a realidade, ao comportamento dissociativo, numa escalada de transgressões, cultivando o ciclo viciante, corrente poderosa clandestina que, no universo contemporâneo tem se tornado um dos segmentos mais lucrativos e férteis do submundo da delinquência, nas mais diversificadas organizações de bandidagem que se possa conceber.

Para ilustrar o fenômeno agora a sociedade se depara com a introdução no Brasil de novas drogas, micropontos de psicotrópicos que alimentam uma autentica geração de perturbação mental.

Com a pandemia, a sensação de pânico provocada pela Covid19, o distanciamento social predisponente à solidão, um tecido paranoide e persecutório de ameaça, a presença de uma doença incurável, com a morte em condições de terror por dificuldade até mínimas de conforto, tudo um quadro dantesco, passa a servir como pano de fundo, para que alucinações prometida pelo uso de drogas cada vez mais poderosas e letais, se transformam na mercadoria que vai ensejando, um mercado caracterizado pela diversificação da oferta da droga que aniquila a consciência, implantando uma cultura da desrazão.

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Neste processo cabe à família, a sociedade organizada, os órgãos de segurança mobilizarem esforços para desmontar gangues que rodeiam e penetram os condutos de convivência comunitário, desde a escola até a penitenciária para evitar que o contágio do vírus não se transforme, num tecido liquido como aquele previsto por Zygmunt Bauman, corrosivo nas consequências que acabam por agravar as estatísticas de toda ordem no elenco da imaginação pervertida do crime.

A ciência criminal a serviço da harmonia civilizada se obriga a desarmar preventivamente, o desenvolvimento metastático da sedução que promete alivio, alegria, paz, mas que promove, doença, sofrimento e morte.

*Flavio Goldberg, advogado e mestre em Direito

*Valmor Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais de São Paulo

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