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A hora da razão

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Por Sergio Coelho
Atualização:
Sergio Coelho. FOTO: LULA APARÍCIO Foto: Estadão

Não é de hoje que os brasileiros convivem com um ambiente político caracterizado pelo confronto aberto e pela polarização absoluta.

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Essa polarização atingiu, nos últimos tempos, proporções absolutamente inimagináveis, extrapolando a política e se instalando no ambiente cultural, educacional, comportamental e em todos os demais ramos da vida social.

A chegada de um inimigo comum - a pandemia da covid-19 - trouxe a justa expectativa de que o país pudesse finalmente se unir em torno de um projeto comum para superar um período que, em qualquer hipótese, será extremamente duro.

Infelizmente, porém, o que se tem visto é exatamente o oposto.

Ao contrário de arrefecer, a polarização parece ter se acirrado, colocando, de um lado, os que defendem o isolamento como forma de combater a doença e, de outro, os que temem que a paralisação da economia possa trazer consequências sociais ainda mais graves do que o próprio vírus, tendo em vista a iminência de uma depressão cujas dimensões ainda não se consegue imaginar com clareza, mas que tende a ser mais intensa a cada dia de suspensão da atividade econômica.

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Ambas as preocupações são absolutamente legítimas e razoáveis, e desprezar qualquer uma delas, como têm feito a imensa maioria, inclusive, dos líderes políticos e formadores de opinião, parece um equívoco inominável.

A verdade é que tanto a consequência médica quanto a repercussão econômica do aparecimento do vírus tendem a ser altamente relevantes e certamente ceifarão um número elevado de vidas. Ponderar em que medida preservar ou expor uma e outra é uma tarefa não só extremamente complexa, mas também absolutamente dramática.

Nesse cenário, para decidir o caminho a tomar, pouco contribuem as reações raivosas, maniqueístas e truculentas adotadas, como regra, por ambos os lados. É preciso trazer o debate para o mundo da razão e tentar compreender melhor as consequências de cada alternativa que se apresenta, sem preconceitos e sem demagogia.

De fato, se, por um lado, há uma posição bastante clara sobre as projeções epidemiológicas e as recomendações médicas para reduzir o impacto da doença, pouco se tem explorado - ao menos com a seriedade que o tema merece - as consequências funestas do comprometimento da economia decorrente do modelo atual de combate ao vírus.

É verdade que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem sido firme na recomendação do isolamento, mas considerar exclusivamente a perspectiva médica implica relegar às sombras repercussões que também dizem respeito à preservação de vidas humanas, certamente de forma menos imediata, mas talvez em muito maior número.

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De fato, dentre outras consequências absolutamente terríveis, uma depressão econômica acarreta desemprego e compromete a arrecadação tributária. Especialmente em um país de economia emergente como o Brasil, esses dois fatores em conjunto significam um número gigantesco de pessoas sem a mais mínima condição de acesso a insumos básicos para a sobrevivência. Ou seja, assim como a pandemia da covid-19, significam muitas e muitas mortes.

Infelizmente, não há medidas fáceis nem perfeitas para a solução ou redução dos danos de uma pandemia de proporções mundiais como a que enfrentamos neste momento. O que, de fato, parece urgente, é começar a tratar com seriedade as consequências econômicas da política de isolamento e considerar o custo em vidas que ela representa.

*Sergio Coelho, advogado e diretor-deral da Escola Superior de Advocacia da OAB/RJ

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