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A guerra da tabela de fretes continua

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Por Murillo J. Torelli Pinto
Atualização:

Em setembro, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou operações de fiscalização em Santos (SP), Paranaguá (PR), Itajaí (SC), Santana do Livramento (RS), Porto de Rio Grande (RS). Segundo dados divulgado no primeiro sábado, foram fiscalizados 101 veículos, com 31 casos de descumprimento da tabela.

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No final do mesmo mês, a ANTT também enviou para Abiove, associação que representa indústrias de óleos vegetais que atuam país, um ofício que abre uma brecha para o não pagamento do frete de retorno. Segundo trecho extraído do documento: "Se ajustadas entre as partes, contratante e contratado, condições de contratação sobre o eixo vazio, obrigatoriamente, a avença devera? constar expressamente em documento fiscal". Apesar de não ser um posicionamento oficial para todo o setor, parece ser uma flexibilização da ANTT.

O setor que mais está debatendo, questionando e acaba por descumprir a tabela é o agronegócio, focado em exportação de grãos.

No Brasil (e no mundo) este setor é composto por poucas empresas que comandam a produção internacional de commodities. Essas empresas são conhecidas como ABCD sendo compostas pela ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, além de alguns novos entrantes como a Noble Group, a Mitsui e a Mitsubishi.

Para as cargas a granel transportadas por longas distâncias, a tabela da ANTT aumenta em média 30% o preço frete. Segundo as empresas que compõem o ABCD isso é um fator para investir em frotas próprias.

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Será que estas empresas estão certas na decisão de comprar caminhões? Vamos analisar a situação com duas variáveis, primeira o real ônus da tabela e segunda setor de atuação das ABCD.

1.ª Variável - Tabela é onerosa para o exportador e muito lucrativa para o transportador: Não vejo isso como uma verdade absoluta, pois o preço praticado no transporte de grãos antes da tabela era o mesmo que se praticava em 2008. Nestes 10 anos ocorreram inúmeros aumentos no óleo diesel, pedágio, pneus e salários. A correção dos 30% é necessária para a sobrevivência do transporte, por um valor inferior ao da tabela é impraticável transportar os grãos.

2.ª Variável - Setor de atuação das ABCD: A empresas ABCD são produtores, agroindústrias e tradings, nenhuma dessas empresas é ou tem uma transportadora com caminhões. Entrar em um novo negócio que não é sua atividade, requer um investimento significativo e conhecimentos para gestão.

Cada uma das sete empresas teria que comprar em média 1.500 caminhões, resultando nos seguintes números: Investimento superior a 700 milhões de reais, 10.500 motoristas para contratar, consumo de aproximadamente 100 milhões litros de óleo diesel por mês e 360 mil pneus rodando nas péssimas estradas do Brasil.

Com um negócio tão grandioso, não tenho certeza se as ABCD vão conseguir fazer o serviço com valor 30% inferior ao da tabela. Entendo que cada empresa deve investir no setor que tem capacidade, conhecimento e domínio. Um exemplo no passado foi Vale do Rio Doce (hoje Vale), uma empresa de minério que investiu em ferrovias, navios e fábricas de fertilizantes e não se tornou lucrativa. Nos últimos anos, a empresa está vendendo estes ativos, que não são sua especialidade, e está voltando a ser uma empresa com bons resultados.

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Com isso, deixo o questionamento: Será que vale a pena para as ABCD investir em frota própria?

*Murillo J. Torelli Pinto é especialista em contabilidade financeira e professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) Universidade Presbiteriana Mackenzie

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