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A geração de nativos digitais

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Por Letícia Fernandes
Atualização:
Letícia Fernandes. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A cada nova geração enfrentamos novos desafios, afinal o mundo se renova e traz diferentes formas de se viver. Nossos avós diziam: "- Na minha época, os jovens respeitavam os mais velhos.", por exemplo. Esse "na minha época" abarca um estranhamento dos jovens dessa época, uma diferença entre a juventude da minha época e a juventude contemporânea. Esse estranhamento é inerente às revoluções que as novas gerações provocam.

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Contudo, com a revolução tecnológica iniciada no final dos anos 90, atualmente, a quantidade de informação produzida em um único dia é muito superior a quantidade que uma pessoa tinha durante sua vida inteira no começo do século passado. Só este fato, provoca uma rapidez de transformações no mundo que nosso cérebro não consegue acompanhar. Por isso, o "na minha época" não é mais um estranhamento de gerações com cinquenta anos de diferença, só dez já tem bastado.

As crianças nascidas de meados dos anos 90 até os dias de hoje, ganharam a denominação de Nativos Digitais. Frente ao estranhamento geracional, muito se discute se são mais inteligentes ou menos profundos. Nova geração, novos desafios. Mas voltemos um pouco no tempo: quando eu nasci, meus pais compraram uma linha telefônica - que era uma propriedade - e tínhamos um aparelho de disco.

Eu, antes dos seis anos e, portanto, antes de ser alfabetizada, já sabia registrar num caderninho o número das pessoas e realizava, com facilidade, minhas ligações. Os adultos daquela época me achavam muito inteligente, assim como nos impressiona hoje a facilidade com que os Nativos Digitais têm para lidar com os aparelhos tecnológicos e navegar nas redes. Talvez a discussão de ser mais ou menos inteligente não seja tão relevante, e sim a diferença de estímulos que provocam diferentes conexões neuronais e produzem, portanto, diferentes comportamentos.

Os Nativos Digitais nasceram no mundo conectado e com essa quantidade absurda de informações que o cérebro humano "passa longe" de dar conta. O que se observa no ambiente escolar, é que eles apresentam uma capacidade de fazer hiperlinks que, nós meros nativos analógicos, não conseguimos ou temos que nos esforçar muito para fazê-lo. Não é incomum, quando se conversa com um Nativo Digital, o assunto começar por um conteúdo da matemática e terminar na ética, ou na política. Eles relacionam as informações que recebem de um jeito bem competente. Nesse momento, são nossos professores.

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Por outro lado, percebemos uma dificuldade nos jovens que passa pela necessidade de estarem hiperestimulados a todo tempo. Para manter essa geração em trabalho, em construção, os professores têm se desdobrado para fazer aulas cada vez mais estimulantes, chegando até a trazer hologramas para a sala que, na década de 80, tinha um giz e um quadro. Simplesmente, porque a capacidade de concentração por mais tempo se aprofundando num mesmo assunto, assim como a resiliência de encarar um trabalho escolar difícil, em refazer uma escrita, em reler um livro, estão cada vez mais distantes dessa geração. Nesse momento, somos professores deles.

Frente a esse mergulho um pouquinho mais profundo dessa diferença geracional, como a educação lidará com os desafios da geração contemporânea? Que a escola precisa se modificar já é um fato dado. Mas quais mudanças precisam ser pensadas para que valorizemos as capacidades dos que chegaram no mundo digital e tornemos possível superar as dificuldades que eles apresentam? Aprofundar ou inovar? Muito ou pouco estímulo? Qual tipo de estímulo?

Nós educadores temos que nos colocar a trabalho para reconstruir uma escola que dialogue e faça sentido para os Nativos Digitais. Eis o nosso desafio!

*Letícia Fernandes, diretora da APEI - Associação Pro Educação Infantil

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