Jair Bolsonaro não tem estatura política e gerencial para liderar o Brasil. A pandemia da covid-19 confirmou a falta de capacidade do presidente para aqueles que ainda tinham dúvidas. Ele não é apenas um mau líder, cuja inabilidade torna-o refém de suas decisões equivocadas, mas também é desastrado em suas declarações, dificultando a ação dos seus auxiliares mais competentes. Liderança, no entanto, não é o único atributo que falta ao presidente. Falta a Bolsonaro a compreensão do seu papel institucional, do peso de cada uma de suas palavras e das responsabilidades que a faixa verde e amarela atribui ao seu portador.
Em colisão com ministros de seu próprio governo, com lideranças dos poderes Legislativo e Judiciário, com governadores, com as atitudes dos principais líderes mundiais, além do prescrito pela equipe técnica do Ministério da Saúde, Bolsonaro se mostra incapaz de ser norte moral e político quando o Estado se faz necessário para oferecer suporte à população. Não há rumo claro nas medidas do governo sobre a crise: A comunicação é confusa e as mensagens são contraditórias: a população assiste atônita às ações de um governo que lhe recomenda cautela, enquanto o seu comandante aparece mascarado numa coletiva, mas abraça populares em um mercado.
Informação e liderança partes importantes nesse processo porque o Estado não conseguirá garantir a obediência dos cidadãos só com o uso da força. Em que pese o empenho do ministro Mandetta e de boa parte dos governadores, o chefe de Estado ainda não usou seu acesso aos rádios e televisões para esclarecer dois pontos fundamentais: por que é importante permanecemos em casa e em que dia conversaremos novamente para discutir se podemos ou não voltar a nossa rotina normal.
Se nas crises reconhecemos os grandes líderes, é também nelas que percebemos quem está aquém do seu papel. Nos pronunciamentos de Bolsonaro vimos críticas a jornalistas, a organizações internacionais, propaganda de medicamento e do seu histórico de atleta. Vimos até um homem de 65 anos falar do seu histórico de ex-atleta, mas não se viu diretrizes para a população que o assistia.
O governo precisa parar de bater cabeça. Desde o início da pandemia do coronavírus, o País precisava responder rapidamente às demandas de testes e leitos, em preparação para a pandemia que tomara continentes e caminhava em nossa direção. Ao invés disso, o presidente mostrou-se hipnotizado em admiração por manifestantes dispostos a irem às ruas em seu apoio.
O Estado brasileiro ainda deve respostas aos que ficarão doentes, vítimas do coronavírus, e aos milhões que foram afastados do seu ganha-pão para sobreviver. Esses não podem esperar semanas até que se forme consenso para a operacionalização da distribuição de recursos. A solução política, econômica e social deve ser fruto de um esforço para o qual todas as camadas da sociedade precisarão contribuir. Quem tem fome tem pressa.
Hoje o presidente entrega ao Brasil o pior de dois mundos: os arroubos autoritários de um líder que ataca o legislativo, o judiciário e a sociedade civil ao deparar-se com freios e contrapesos inerentes ao Estado de Direito, e fraqueza e hesitação em face a um momento de crise, instabilidade e temor generalizado, quando se exige do Chefe de Estado liderança, lucidez e capacidade de construir consensos.
Jair Bolsonaro tenta tardiamente transmitir segurança à população, mas suas palavras e ações seguem refletindo o desdém por quem se preocupava com a situação e a desarticulação de um político isolado por uma bolha servil. Desde o início dessa crise, quando o País mais precisou de um líder em quem pudesse depositar confiança sobre decisões que afetariam sua saúde, seu trabalho, e sua capacidade de sobreviver, Jair Bolsonaro fraquejou.
*Magno Karl é doutorando em Ciência Política na Willy Brandt School of Public Policy. PhD fellow da Fundação Naumann. Diretor de políticas públicas do Livres