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A eleição na França

Por Ney Lopes
Atualização:
Emmanuel Macron. FOTO: CHRISTIAN HARTMANN/ REUTERS Foto: Estadão

A vitória na eleição da França não foi da esquerda, nem direita, posições ideológicas opostas, que merecem respeito.

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O país optou entre o nacionalismo extremista de Le Pen e o globalismo democrático de Macron, em prol da preservação da União Europeia.

Ele é o primeiro presidente reeleito em 20 anos e um personagem político singular. A sua trajetória de vida relembra a Comédia Humana, de Balzac, que engloba oitenta e oito livros e ainda hoje oferece um retrato político e social da França.

Quando Macron surgiu na vida pública francesa, em 2014, não tinha apoio de nenhuma liderança. Fundou um partido para candidatar-se.

Originário de classe média baixa, os opositores zombaram dele e lançaram vídeo com uma música intitulada "Eu ando só", apelidando-o de "andante solitário".

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Não se intimidou e ganhou a eleição.

Macron se auto intitula "liberal social" e dialoga com todas as correntes políticas.

Na economia, acredita em afrouxar as restrições nos negócios.

Facilitou o empreendedorismo e atraiu muitos eleitores da direita. Nunca deixou de preservar o papel do estado como ente central, cuja função é indispensável para capitalizar as forças vivas da sociedade, agregando, estimulando e gerenciando os esforços do mercado livre e de outros agentes (empresas, voluntários, associações de toda ordem), em prol do bem público.

Como liberal tem opiniões sobre questões sociais - direitos dos homossexuais e igualdade de gênero-, que atraíram o apoio da esquerda.

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Na presidência, embora com acentuados desgastes, Macron obteve excelente desempenho no combate a pandemia, queda regular do desemprego, a 7,4% em março, e uma retomada do crescimento econômico em 2021 (+7%).

A taxa de vacinação é alta, os hospitais não ficaram sobrecarregados e as consequências econômicas da pandemia foram absorvidas por meio de ajuda do governo. A recuperação econômica na França se mostrou melhor do que a de seus vizinhos.

A guerra na Ucrânia trouxe incerteza política e aumentos de preços.

A principal consequência da eleição francesa é a demonstração de que o mundo está num refluxo em relação aos extremismos, mesmo com os sinais de fragilidade da democracia.

A eleição de Biden e a vitória de Macron mostram que a Europa e a América ainda estão dispostos a lutarem pelos princípios democráticos.

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Entretanto, não há garantia de que esse termômetro prevaleça no Brasil, atualmente com a disputa presidencial polarizada entre extremos.

Não se pode negar a vinculação histórica entre Brasil e França.

As ideias liberais, que levaram o povo francês à Revolução de 1789, repercutiram no Brasil na Revolução Praieira de Pernambuco e, antes disso, na frustrada Inconfidência Mineira.

O Estado de Direito Liberal, adotado nas Constituições brasileiras, institucionalizou-se a semelhança dos revolucionários franceses, no fim do século XVIII, constituindo o primeiro regime jurídico-político da nossa sociedade.

Queira Deus que essas semelhanças garantam a estabilidade do nosso processo eleitoral de outubro próximo.

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Quanto ao futuro, Macron é uma incógnita. Enfrentará desafios.

A governabilidade na França nos próximos cinco anos dependerá das eleições legislativas de junho. Macron precisa repetir a sua vitória. O mais difícil é a divisão interna.

A coesão social está abalada e não poderá prosperar a ideia de que existirão dois países, um de costas para o outro.

Diante da ausência de Merkel, o presidente francês passou a ser a grande liderança na União Europeia.

A Ucrânia destruída e desolada espera as suas ações em prol do fim do conflito.

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Enquanto isso, aproxima-se o dia 9 de maio, o grande feriado da Rússia, evocativo da capitulação nazista. Putin quer anunciar vitória na guerra, durante desfile militar na Praça vermelha.

Mas, o líder russo não está tão forte quanto parece. A Governadora do Banco Central confirmou no Parlamento recessão de 9%; inflação de 22%. Sinal de que as sanções ao país produzem efeitos devastadores.

O grande sonho de Macron é a soberania europeia. Por tal razão, colocou a bandeira da União Europeia sob o Arco do Triunfo, no dia de sua vitória.

Esse será o melhor caminho para o diálogo, em busca da Paz.

*Ney Lopes, jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN, presidiu a CCJ na CF, procurador federal e advogado

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