Diversidade e inclusão são realidades na cidade de Paraty, pelo menos durante a Flip - Feira Literária Internacional de Paraty. No evento, a cidade se torna mais negra do que branca, mais mulher do que homem, idosos convivem com jovens, as comunidades minorizadas ocupam a academia e as salas de aula.
A Flip, que estreou 16 anos atrás com o palco dominado por homens brancos e pela plateia ocupada por um público elitizado, levou a sério a máxima de Euclides da Cunha, o grande homenageado do ano: viver é adaptar-se. Cada vez mais pressionada pelos custos, a Feira captou o zeitgeist e se reinventa a partir da abundância e do poder da diversidade.
Adaptar-se na vida só é possível quando entendemos o contexto, quando nos conectamos com a realidade. E isso só acontece, quando estamos cercados de todas as diferenças que representam a nossa terra. A Flip ouviu o recado. Neste ano, quatro dos cinco autores mais vendidos são negros e um é indígena. Escritoras contemporâneas, como Sheila Heti, Grada Kilomba e Marilene Felinto foram destaque na programação. O público respondeu. Em plena crise econômica, o auditório principal teve 8.628 frequentadores, 19% a mais do que em 2018.
Em Paraty, conseguimos enxergar um Brasil plural, que celebra sua alegria e grita suas dores de forma legítima e representativa. O caiçara e o sertanejo, a partir de seus lugares de fala, nos mostram a importância da terra, da natureza, e desta conexão vital para nossa sobrevivência.
Nessa nova configuração, aliás, a Flip traz ótimas lições para o setor de feiras e eventos, cada vez mais prejudicado pela crise econômica brasileira. Assim como o encontro de literatura, também esse setor precisa se abrir mais para o mundo que está ao seu redor, perder o medo de seguir a máxima de Euclides da Cunha e adaptar-se para continuar vivendo.
Não dá para esperar sucesso de eventos que dialogam com bolhas, colocam pessoas iguais para ficar entre si, falando sobre si. Eventos e feiras, independentemente do porte ou segmento, são, acima de tudo, uma experiência. E, hoje em dia, as ruas e o mercado clamam para que essa experiência seja diversa.
Na Flip, cada grupo minorizado, que representa, em seu conjunto, a grande maioria da população brasileira, tem espaço para travar o bom combate. Pegando carona na estrutura da clássica obra do autor homenageado, a "raça" representa a todos nós, cria infinitas possibilidades de criação de um mundo melhor.
Vivemos tempos de crise e de mudança. Diversas organizações e empresas já entenderam que diversidade e inclusão são ferramentas poderosas e estratégicas para evoluirmos. A diversidade vai muito além de uma tendência ou modinha, pois garante o direito inalienável de podermos ser quem somos. Vamos seguir o exemplo da Flip e, cada vez mais, caminhar em direção a uma realidade mais plural.
*Ronaldo Ferreira Júnior, conselheiro da Associação Nacional das Agências de Live Marketing e sócio-fundador da um.a #diversidadeCriativa