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A correlação entre assédio e suicídio corporativo

Por Renato Santos
Atualização:
Renato Santos. FOTO: Celso Doni/Cordel Imagens Foto: Estadão

O objetivo deste artigo é, de uma forma respeitosa e com a seriedade que o tema exige, reverenciar o Setembro Amarelo (www.setembroamarelo.org.br), uma campanha de prevenção ao suicídio a qual reforça a necessidade de quebrar o tabu de falar sobre e, com isso, "esclarecer, conscientizar, estimular o diálogo e abrir espaço para campanhas contribuem para tirar o assunto da invisibilidade e, assim, mudar essa realidade de, em média, 32 brasileiros que se suicidam diariamente".

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Mas, qual a correlação do assédio dentro das organizações com o suicídio?

O assédio pode ser a causa do suicídio em alguns casos! Certa vez, fui convidado para ministrar uma palestra sobre conscientização e prevenção do assédio em uma determinada empresa e, quando apresentei os slides e textos que dariam suporte à minha apresentação, recebi um pedido um tanto quanto inusitado. O organizador do evento solicitou que eu retirasse o termo suicídio da lista de consequências que o assédio pode gerar, alegando que o tema era muito pesado para uma palestra corporativa.

Refutei esse argumento de maneira enfática e simples: o objetivo da palestra é conscientizar os colaboradores sobre o mal que podem gerar nas pessoas vítimas de seus assédios. Deixarmos de falar sobre a possibilidade de levar um assediado ao suicídio é omitir informação e nos distanciarmos da prevenção desse risco comportamental.

Sim, a pessoa que sofre assédio pode buscar no suicídio o caminho para aliviar a dor de uma tortura psicológica que esteja sofrendo em seu ambiente de trabalho.

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Se o assediador tiver consciência que seu comportamento pode levar o assediado a tirar sua própria vida, provavelmente se sensibilizará a ponto de mudar esse comportamento por empatia ou mesmo por medo. Daí a importância de sermos transparentes na comunicação sobre o tema assédio e suas consequências, não nos limitando em tratar dos impactos financeiros causados por indenizações, ou ainda, falarmos apenas sobre o quanto o assédio afeta o clima motivacional da organização, nos furtando de alertar sobre o impacto do bem maior: a vida!

Ainda com a reverência que o tema exige, gostaria de propor uma breve reflexão sobre o suicídio corporativo.

Segundo o dicionário, suicídio é o ato intencional de matar a si mesmo. Infelizmente, temos acompanhado diversos casos onde o profissional se anula dentro da organização na qual trabalha como uma forma de fuga do assédio que está sofrendo, ou até mesmo observando.

Recentemente, tratamos um caso onde profissionais de uma área praticaram o suicídio corporativo. Ocorreu que o gerente dessa área começou a praticar assédio contra uma determinada profissional por pura insegurança, por acreditar que ela estava o 'desafiando' e precisava 'cortar as suas asinhas', nas palavras dele.

Mas, o gerente optou por praticar o assédio por meio da famosa "geladeira", ou seja, excluindo a profissional dentro da área, não a convocando para reuniões, para tarefas e nem mesmo para happy hour da equipe. O problema é que a equipe seguiu com o comportamento assediador, se afastando dela a tal ponto que ela ficou completamente isolada na área.

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Diferente do gestor, os demais membros da equipe não tinham qualquer desavença contra ela, mas por medo de serem rotulados de 'amiguinhos' e também sofrerem assédio, simplesmente decidiram se anular.

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Resultado: tanto a profissional assediada quanto os membros da equipe se suicidaram corporativamente. Eles não participavam de forma ativa como antes, não apresentavam novas ideias, não se engajavam com os projetos da empresa, criaram uma comunicação de "vaquinha de presépio" com o gestor, concordando com tudo que ele dizia, mesmo diante dos maiores absurdos, se calavam, se anulavam. E, como é de se esperar, a performance da área como um todo sofreu uma queda vertiginosa.

Isso tudo poderia ter sido evitado se a organização tivesse tratado do tema assédio de maneira mais clara e objetiva, por meio de palestras de conscientização, implantando canais de denúncia anônimos e seguros, criando políticas de consequências e, sobretudo, rechaçando o comportamento de assédio em detrimento aos resultados a curto prazo. Mas, esse é outro assunto que merece aprofundamento.

Vamos prevenir o suicídio em suas diversas formas, não somente no mês de setembro, mas durante todo o ano, pois viver sempre vale a pena!

*Renato Santos, sócio da S2 Consultoria

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