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A COP 26, as iniciativas ESG e o mercado de crédito

Por Elias Sfeir
Atualização:
Elias Sfeir. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Eventos como a pandemia estimulam a consciência coletiva sobre a necessidade de fortalecer o que é bem comum da humanidade. Nesse cenário, o conceito ESG, que já vinha se popularizando, ganhou impulso, e várias iniciativas públicas, privadas e de diversos setores da economia começaram a tomar corpo. E a repercussão dada em todo mundo à COP 26 também dá uma medida dessa necessidade.

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Olhando a abordagem ESG, a Governança já vem sendo considerada há décadas pelas empresas, enquanto o Social vem avançando por meio da inclusão e outras ações de impacto social. Já o meio ambiente, devido à sua complexidade e impacto, tem sido o centro de discussões locais, nacionais e internacionais.

A questão do meio ambiente teve dois momentos fundamentais, que vêm orientando os debates e iniciativas em torno do assunto. Um deles foi o Tratado de Paris, de 2015 -- quando 195 países e a União Europeia se comprometeram a manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC. O outro, a Agenda ONU 2030, que definiu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Diversas outras pautas têm surgido, como Carbon Zero e Net Zero, assim como os conceitos de Economia Circular e Economia Regenerativa. O Carbon Zero estabelece que a operação é neutra em emissão de carbono e NetZero aplica essa medida não só à operação, mas também a toda sua cadeia de valor, incluindo fornecedores e clientes. Já a Economia Circular aborda a reposição na Natureza do que se utilizou, e a Economia Regenerativa, além da reposição, considera o investimento para restaurar o capital natural já utilizado e garantir sustentabilidade para o futuro.

A distância entre o que se fala e o que se faz ainda é muito grande, mas já se pode relacionar alguns projetos importantes.

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O sucesso no controle climático se dará somente se tivermos mobilização de Governo, Iniciativa Privada e a Sociedade. Indústrias poluidoras, como a metalúrgica e a de cimento, dois grandes geradores de carbono, vêm mitigando esse dano com a implantação de processos menos agressivos, reutilização e inteligência no uso dos materiais para reduzir seu consumo. O setor de transporte vem inovando com alternativas como veículos elétricos ou movidos a hidrogênio, e na energia básica já existem iniciativas como o nitrogênio verde e a geração elétrica renovável. Ao mesmo tempo, o estímulo à geração local de energia por meio de energias alternativas começa a descentralizar o modelo energético, o que proporciona flexibilidade e autonomia.

Entre os vários mercados econômicos, o de capitais foi pioneiro na adoção de critérios de sustentabilidade, e já há uma forte movimentação entre emissores e captadores de títulos para atender à nova demanda. Os emissores têm assumido Net-Zero em suas operações, o que tem impulsionado títulos verdes, ligados à sustentabilidade e ao social.

No mercado financeiro, até como consequência e também devido a compromissos Net-Zero de agentes de crédito, o ESG irá se tornar uma variável a mais na tomada de decisão de crédito. Um dos grandes desafios a esse uso é a disponibilidade de dados relevantes para diagnóstico, análise e predição dos impactos e riscos sob a ótica ESG. Mas essa é uma questão de tempo, pois há várias iniciativas no mundo para facilitar a obtenção de dados e criação de modelos ESG.

O uso de práticas ESG na concessão de crédito às empresas, no mercado brasileiro, ainda está apenas no começo. Porém, o modelo vem evoluindo ao longo do tempo e os reguladores, como o Banco Central, têm tomado a liderança com iniciativas como a criação do Bureau Verde, com critérios de sustentabilidade para o crédito rural. O BNDES, por sua vez, lançou um programa que fomenta investimentos vinculados a setores como reflorestamento, fontes de energia sustentável, mineração e siderurgia. Outra medida de destaque para o segmento foi o Guia Ambiental, Social e Governança (ASG), lançado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).

O Brasil tem um grande potencial para se tornar um polo de operações sustentáveis, por ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e poder se destacar em operações com crédito de carbono para o mercado local e internacional. E quando se analisa as iniciativas ESG nos mercados de capital e financeiro, por exemplo, são evidentes as oportunidades para que o país tire mais proveito dessas operações se alavancando nesta nova economia e criando um círculo virtuoso econômico que traga prosperidade e bem-estar social.

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*Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC)

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