Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

A ciência e a tecnologia a serviço da adaptação às mudanças climáticas

PUBLICIDADE

Por Lincoln Muniz Alves
Atualização:
Lincoln Muniz Alves. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Mais uma Conferência das Partes (COP) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) e, com ela, uma nova oportunidade para discutir temas urgentes sobre ações necessárias ao enfrentamento das mudanças climáticas, cruciais para o planeta. Aqui, planeta lê-se eu, você, a nossa sociedade.

PUBLICIDADE

O Grupo de Trabalho 1 (WG1) para o Sexto Relatório de Avaliação - AR6, do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que sintetiza o conhecimento sobre as bases físicas das ciências relacionadas ao clima, foi bastante enfático ao afirmar que as mudanças climáticas já estão afetando todas as regiões da Terra, de diferentes maneiras. A frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos, por exemplo, aumentaram na maioria das áreas terrestres desde 1950 e devem se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global.

Os resultados do IPCC mostram que qualquer aquecimento além de 1,5oC pode fazer com que o número de eventos climáticos extremos em algumas regiões torne-se até quatro vezes maior.

No Brasil, os estudos do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), unidade vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresentados na Quarta Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC indicam que o clima das diversas regiões do país já está passando por mudanças, incluindo o aumento na frequência de eventos extremos como secas, inundações, ondas de calor e chuvas fortes e concentradas.

Essa nova realidade, a exemplo da atual crise hídrica e energética que assola grande parte do Brasil atualmente, tem forçado atores públicos e privados a incorporarem na agenda de planejamento a adaptação, além da mitigação dessa questão. Para tanto, é primordial, mais do que nunca, obter informações regionais sobre os riscos climáticos que sejam úteis e relevantes para uma tomada de decisão mais assertiva.

Publicidade

A consideração desses riscos climáticos é um dos grandes desafios no planejamento de políticas públicas, planos, programas ou projetos. Por isso, faz-se necessário adotar medidas de adaptação que minimizem os impactos dessas mudanças percebidas. Tomo essa oportunidade para tratar de uma pergunta que vira e mexe volta à tona: se adaptar a que, exatamente?

Muitas vezes, gestores e técnicos se fazem essa pergunta e deixam de considerar estes tipos de riscos de impactos por não contarem com dados e ferramentas apropriadas para avaliá-los. Recentemente, essa lacuna foi preenchida e, hoje, porém, temos à disposição a plataforma AdaptaBrasil MCTI, que se propõe, de forma simples e abrangente, a realizar uma análise de risco climático sobre setores estratégicos (segurança alimentar, energética e hídrica) para todos os 5.570 municípios do território nacional.

Essa é a primeira iniciativa a contar com dados de todos os biomas brasileiros, além de permitir ser uma plataforma colaborativa por permitir a modelagem de várias contribuições, convergindo indicadores para oferecer parâmetros atuais na tomada de decisões por parte dos gestores e também validar políticas públicas federais.

Na prática, funciona assim: imagine, por exemplo, que um município apresenta um risco de impacto médio para eventos de seca no presente relacionados aos recursos hídricos. Sabendo que, em um futuro próximo, esse risco poderá aumentar com a mudança do clima, o gestor ou técnico de posse dos indicadores de ameaça climática, vulnerabilidade e de exposição e suas inter-relações poderá identificar e sugerir ações e alternativas ao abastecimento de água para que esse impacto médio se mantenha no futuro ou seja reduzido. Isso é apenas uma amostra do que essa plataforma proporciona. Apesar de ser uma iniciativa inédita no Brasil, é claro que essa nova tecnologia está longe de ser uma solução universal. No entanto, iniciativas como essa possibilitam avançar nas análises dos impactos da mudança do clima, sejam eles observados e projetados, e geram insumos que ajudam na tomada de decisão de como lidar com riscos climáticos em diferentes contextos, em particular para ações de adaptação. É preciso se antecipar, antes de mais nada. Só assim conseguiremos passar por essas mudanças de uma maneira mais branda.

*Lincoln Muniz Alves é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI). Autor Líder do Grupo de Trabalho I (WGI) do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês). Trabalha na geração de informação técnico-científica para orientar as políticas públicas de adaptação às mudanças ambientais. Foi consultor do Banco Mundial, PNUD e CEPAL/ONU. Estudou mestrado e doutorado em modelagem climática e mudanças climáticas no INPE. Os temas de sua pesquisa são Ciências do Sistema Terrestre e Ciências Ambientais, atuando sobre os seguintes temas: climatologia, modelagem do clima, interação biosfera-atmosfera e Impactos, vulnerabilidades e adaptação às mudanças climáticas

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.