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A capacidade de geração e tecnologia na distribuição colocam o Brasil na rota do protagonismo no setor

Por José Paiva
Atualização:
FOTO: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Foto: Estadão

Durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, em abril deste ano, os Estados Unidos surpreenderam com metas ambiciosas sobre o clima. O país anunciou o compromisso de reduzir as emissões de carbono para 50-52% abaixo dos níveis de 2005 até o final desta década. China e Europa deram sinais na mesma direção. No Reino Unido, por exemplo, as centrais elétricas a carvão serão retiradas da rede o mais tardar em 2025. Essa reunião teve grande importância por preparar as discussões para a COP26, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontecerá em novembro. Essa tendência das nações reflete automaticamente nas empresas, que cada vez mais precisam se posicionar em busca da neutralidade de carbono e a favor da utilização de matrizes energéticas limpas. Isso sem falar em toda a discussão sobre crédito mais barato para companhias que adotaram as práticas de ESG.

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Para a maior parte da cadeia, o futuro energético limpo é baseado na eletricidade. Até 2050, o consumo global de eletricidade mais do que dobrará, passando de 20% da demanda total de energia para mais de 40%. Para locais aos quais ela não pode chegar, como propulsão de navios e aviões, está em desenvolvimento o hidrogênio verde, gerado a partir de energia elétrica renovável.

O Brasil está um passo à frente nesse contexto, tanto por sua matriz predominantemente hidrelétrica, quanto pelo imenso potencial para fontes eólica e solar, que está caminhando para uma efetivação cada vez maior. Energias renováveis representam 83% da matriz elétrica brasileira, sendo a principal a hidrelétrica (63,8%), seguida de eólica (9,3%), biomassa e biogás (8,9%) e solar centralizada (1,4%). Isso nos torna o terceiro país no ranking mundial de capacidade instalada de energia renovável, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Neste momento, em que o Brasil enfrenta uma crise hídrica com o risco de racionamento, fontes de energia limpa que destacam o Brasil neste setor, podem ser nossa grande saída.

Apesar de ser considerada uma energia limpa, a instalação de hidrelétricas não deve avançar, devido aos impactos sociais e ambientais da sua construção. A médio prazo, junto com o avanço da geração solar e eólica, devemos observar o aumento das termelétricas a biogás, tanto por serem usinas de rápida construção quanto pela ampla disponibilidade da matéria prima no país e a recente aprovação do novo marco legal do setor.

Em 2020, foram acrescidos ao sistema elétrico brasileiro 4.932 MW de potência instalada, sendo cerca de 70% (3.519 MW) a partir de fontes renováveis. O grande destaque foi a eólica que, sozinha, representou 35% do total ampliado. Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil liderou o crescimento de energia eólica na América do Sul nos últimos dez anos. Além disso, ficou em oitavo lugar entre os países que mais geraram empregos no mundo por meio da energia solar fotovoltaica.

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Mesmo com a redução do número de leilões de geração pelo governo, em especial nesse período de pandemia, projetos de venda direta de energia solar e eólica seguem com força total, ancorados no mercado livre de energia.

Um ponto que precisamos levar em consideração é que essa transição energética demanda também o aumento da complexidade do sistema elétrico como um todo. Não há mais apenas uma quantidade limitada de grandes hidrelétricas produzindo energia. Além de grandes centrais eólicas e solares se unindo à nossa matriz em número cada vez maior (e partindo de diferentes pontos do país), há ainda a geração distribuída.

O termo se refere à geração para uso próprio em pequena quantidade, realizada em casas, empresas e indústrias. O painel solar que uma pessoa coloca no telhado de sua casa, por exemplo, assim como o sistema próprio de uma indústria, precisam estar conectados ao sistema elétrico de transmissão e distribuição - por mais próxima que seja a geração do local de uso dessa energia.

Em contrapartida, à medida em que avançamos nesse terreno, teremos que lidar também com as cargas distribuídas. Com a esperada popularização a longo prazo de veículos híbridos e elétricos, o uso de energia para carregá-los também vai mudar o perfil de consumo da rede. Há ainda um outro fator: fontes renováveis como eólica e solar não são constantes, sua geração varia muito com a hora do dia e até o clima. Por isso, sistemas integrados com outras fontes de energia são necessários para driblar essa intermitência.

Tudo isso, tanto na ponta da geração quanto do consumo, desestabilizaria o sistema elétrico, caso não sejam aplicadas soluções tecnológicas. Na prática, isso significa que equipamentos muito mais avançados precisam ser incorporados à rede para garantir que a operação de forma correta, sem instabilidades e quedas de energia.

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Um lado pouco explorado da energia limpa é a tecnologia necessária para torná-la funcional do ponto de vista da transmissão e distribuição, um passo após a geração, mas também essencial para que a energia mantenha sua qualidade e chegue aonde precisa. Hoje, os projetos de transmissão modernos têm como foco manter a qualidade da energia, não apenas na conexão. Aliando recursos naturais, tecnologia e comprometimento por parte de geradores e consumidores, o Brasil possui um grande potencial de se manter à frente na transição energética.

*José Paiva, Country Managing Director da Hitachi ABB Power Grids no Brasil

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