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73 anos da República Popular da China

Por Marcus Vinícius De Freitas
Atualização:
Marcus Vinícius De Freitas. FOTO: DIVULGAÇÃO  

Neste 1º de Outubro, a República Popular da China comemorará o seu 73º aniversário. Dos idos de 1949 e dos inúmeros desafios enfrentados pelo país ao longo destas sete décadas, pode-se afirmar que o que ocorreu no país asiático foi um milagre construído com o intenso suor e esforço do povo chinês. Os resultados falam por si só. A China caminha rápido para a posição historicamente ocupada de maior potência econômica mundial. O país impressiona por seus múltiplos, pela vasta população, história milenar e a consciência coletiva de seu povo.

 

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Nos últimos tempos, o processo de ascensão chinesa tem causado algum desconforto, particularmente a alguns países do Ocidente que reconhecem que perderão a primazia global e até mesmo a hegemonia. Por esta razão, aliados à enorme falta de conhecimento do gigante asiático e daquilo que vem ocorrendo na China há décadas, utilizam-se de teorias conspiratórias, Fake News e desinformação para obstruir a trajetória de um país que tem buscado resiliência e rejuvenescimento, mesmo num cenário que lhe é hostil muitas vezes. Observa-se, ainda, uma campanha internacional, muito semelhante ao período da Guerra Fria, com uma narrativa negativa para, de alguma forma, frear o crescimento chinês.

A realidade é que, nos últimos 73 anos, a China logrou, com muito esforço e competência, alcançar aquilo que era inesperado: um país em desenvolvimento transformar-se na maior potência econômica global. Em termos de paridade do poder de compra (PPP), a China já ultrapassou os Estados Unidos há alguns anos. E é na PPP que vemos, na realidade, a riqueza de um país.

A ascensão da China transformará o mundo de duas maneiras fundamentais. Em primeiro lugar, por tratar-se de um país de mais de 1.3 bilhão de pessoas, que tem crescido substancialmente nos últimos trinta anos, com um poder de consumo em crescimento. Em segundo, porque, pela primeira vez na História Moderna, o principal país do sistema global será um subdesenvolvido e do Oriente, e não do Ocidente, com raízes civilizacionais diferentes daquelas que conhecemos. E a China não se ocidentalizará em razão de sua longa história, cultura e tradição.

A China é um estado-civilização, o que é refletido em seu culto aos valores ancestrais, relacionamentos sociais e o mérito do Confucionismo. A função do governo chinês é a preservação dessa civilização, que vive num país extremamente diversificado, pluralístico e descentralizado, apesar de a identidade Han, que constitui a maior parte da população, ser o cimento que mantém o país unificado.Impera no país, como seu valor político mais importante a unidade para a manutenção da civilização chinesa.Enquanto o Império Romano foi subdividido em vários pedaços, a China, apesar de todas as invasões e humilhações impostas por potências estrangeiras, manteve sua integridade e identidade preservadas.

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No Ocidente, a autoridade e legitimidade do Estado derivam da democracia, que, nos últimos anos, tem-se caracterizado mais pelo binômio "escolha e arrependimento" do que qualquer outro. O Estado chinês goza de maior legitimidade e autoridade do que qualquer outro país do Ocidente. Por mais de mil anos, o Estado chinês não tem sofrido nenhuma grande rivalidade. Enquanto no Ocidente, o Estado é um intruso, um estranho, cujos poderes precisam ser definidos e restritos, na China ele é um membro da família, o patriarca. O estado pavimenta para que o privado atue, posteriormente.

A China sempre acreditou no mercado e no Estado. No século XVIII, Adam Smith reconheceu que "o mercado chinês é maior, mais desenvolvido e sofisticado do que qualquer mercado na Europa." Enquanto na China se construíam grandes obras de infraestrutura, como a Muralha e o Grande Canal, na Europa se construíam castelos para a proteção no contínuo processo de guerras infindáveis. Enquanto, em 500 anos, a China teve uma guerra com o Vietnam e perdeu, no mesmo período o Reino Unido e França tiveram 142 guerras.

Nas últimas décadas, observamos um país que logrou tornar-se uma potência global e retomar, através de um processo de rejuvenescimento gradual e coletivo, a sua posição histórica de maior potência econômica global. A incorporação da China na economia global, com sua entrada na Organização Mundial de Comércio, e os benefícios que obteve decorrentes do processo de globalização que lhe advieram - ressalte-se - com um enorme custo tanto ao meio ambiente e o sacrifício do trabalho incansável de sua população, aliado a um crescente nível de poupança e ênfase na educação, incomparáveis a outros países em semelhantes condições, tornaram o país uma potência. Com isso, mais de 700 milhões de pessoas foram retiradas da pobreza. Neste processo, a China tem-se transformado no maior mercado consumidor global da História.

Obviamente, o país enfrenta os seus desafios que - enfatize-se - são muito maiores que os do Brasil. Afinal, todo governante chinês enfrenta, dentre outros inúmeros desafios, a questão diária do emprego e da segurança alimentar de uma enorme população num vasto território. Erros administrativos devem ser minimizados para evitar alterar o curso para atingir uma renda per capita de US$ 20 a 25 mil em 2049, quando a República Popular da China chegará ao seu centenário. Se este objetivo se concretizar, o efeito disruptivo será imenso e o aumento do consumo chinês impactará todos os cantos do globo. Nisto reside uma enorme oportunidade para o Brasil, se for um parceiro de primeira hora da China.

Esta é, de fato, a nova realidade global. Ignorar ou tentar freá-la é um equívoco. Infelizmente, alguns países acreditam equivocadamente que uma cruzada contra a China levará ao seu enfraquecimento. É um erro histórico. Desconhecem a enorme capacidade de um país, outrora de campesinos, que se transformou numa superpotência. Ao invés de criticar, é melhor aprender. A Napoleão Bonaparte se atribui a frase: "Deixe a China dormir. Porque quando ela acordar, o mundo vai tremer". Napoleão estava correto. A China acordou e comemora, em seu 73º aniversário, um futuro auspicioso.

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*Marcus Vinícius De Freitas, professor visitante, China Foreign Affairs  University. Senior Fellow, Policy Center for the New South

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