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Vídeo que mostra queima controlada para combater incêndios no Pantanal é tirado de contexto

Gravação mostra brigadistas do ICMBio em operação para evitar que chamas atingissem área preservada no Mato Grosso; fogo é usado para impedir que queimadas se alastrem

Por Alessandra Monnerat
Atualização:

Um vídeo em que brigadistas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) ateiam fogo em uma mata no Pantanal tem sido compartilhado fora de contexto nas redes sociais. Na realidade, a ação mostrada na gravação que viralizou é uma técnica de prevenção aos incêndios florestais, de queima controlada -- o objetivo é eliminar o mato seco, que pode servir de combustível para queimadas de difícil controle.

No Facebook, o vídeo tem sido compartilhado com legendas que acusam os brigadistas de alimentarem o fogo que tem consumido o Pantanal desde meados de julho. Apenas no Mato Grosso, 79 municípios e 1,4 milhão de hectares foram atingidos -- inclusive áreas de proteção ambiental e de preservação permanente. Ao menos 64,8% do Parque Estadual Encontro das Águas, lar de cerca de 80 onças pintadas, foi destruído.

 Foto: Estadão

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Na gravação que viralizou, funcionários do ICMBio colocam fogo em um mato seco. De acordo com a instituição, a ação ocorreu no município de Cáceres, no Mato Grosso, nos dias 12 e 13 de setembro. O vídeo foi feito na Estação Ecológica de Taiamã, onde os brigadistas fizeram uma manobra de combate indireto aos incêndios. O nome da técnica é "queima de expansão" e está descrita no manual de brigadistas da ICMBio (leia mais abaixo).

"O controle dessa técnica exige pessoal treinado e experiente, pontos de ancoragem muito bem definidos e condições meteorológicas favoráveis para que o fogo não se alastre e inicie um novo incêndio", informou o ICMBio, em nota. "Todas essas condições foram obedecidas e a queima foi considerada um sucesso. A Estação Ecológica de Taiamã continua protegida, sem incêndios no seu interior".

https://www.facebook.com/130716810329480/videos/259782961809233/

Além da Estação Ecológica de Taiamã, outras duas unidades de conservação federal se encontram ameaçadas pelo fogo: a Estação Ecológica da Serra das Araras e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Jubran. O ICMBio comunicou que realiza ações de combate aos incêndios florestais nessa área desde o sábado, 12 de agosto.

Queima controlada para combater incêndios florestais

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A queima controlada pode ser usada no manejo de unidades de conservação "para se evitar o acúmulo de combustível, evitando, assim, a ocorrência de incêndios com comportamento violento e de difícil controle". Essa orientação está no manual de formação de brigadistas da ICMBio, publicado em 2010.

Manual de formação de brigadistas

A apostila de formação descreve algumas formas pelas quais os combatentes de incêndios podem usar o próprio fogo como aliado. A técnica mostrada no vídeo analisado, de queima de expansão, é recomendada na página 56 -- faz parte de um sistema chamado linha de controle, em que se aplica o fogo em uma faixa determinada para que o incêndio florestal não ultrapasse essa barreira. A ideia é que, quando as chamas atingem uma parte previamente queimada, o fogo, sem combustível, não consegue se alastrar.

Em julho, por exemplo, o governo do Distrito Federal anunciou uma operação de queimadas controladas para prevenir incêndios em áreas preservadas. Na ocasião, brigadistas usaram equipamentos chamados pinga-fogos, que aplicam uma mistura de gasolina e óleo diesel para provocar pequenos focos de calor. Em seguida, caminhões-pipa controlam as chamas, para evitar que se alastrem para além da área desejada.

Outro vídeo de queima controlada já havia sido tirado de contexto nas redes sociais anteriormente. Em junho, o projeto Comprova mostrou que o Ibama realizou uma ação para combater focos de incêndio no Maranhão. A instituição lembrou que esse tipo de queima está previsto no Código Florestal.

 

 

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