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Vídeo mostra presidente eleito do Chile hostilizado por ter apoiado nova Constituição em 2019

Gravação foi editada e circula fora de contexto no Instagram e no TikTok; nas imagens, Gabriel Boric aparece molhado depois que manifestantes atiram líquidos contra ele

Por Alessandra Monnerat
Atualização:

Circula fora de contexto nas redes sociais um vídeo em que o presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, é hostilizado por um grupo de pessoas em um parque de Santiago. Ele aparece com o cabelo e a camisa molhados. A gravação foi feita em 2019, quando o chileno era deputado e foi atacado por ter assinado um acordo por uma nova Constituição, sem apoio de seu partido.

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Postagens recentes no Instagram e TikTok compartilham apenas um trecho do vídeo original, com a alegação de que Boric estaria sob efeito de drogas - mas não há provas disso. A gravação foi editada para omitir a parte em que manifestantes atiram líquidos contra o deputado, deixando-o encharcado. A assessoria de Boric afirmou ao Estadão Verifica que os posts são falsos.

O ataque a Boric ocorreu em dezembro de 2019 e foi registrado em vários meios de comunicação chilenos. Nas imagens, o deputado está sentado em um banco de praça; ele usa um boné azul e  conversa com uma mulher. Manifestantes o interpelam pelas costas, gritando ofensas. Eles jogam o chapéu no chão e atiram líquidos e uma lata contra ele. Boric não responde às agressões, até que eventualmente o grupo o expulsa do parque.

O vídeo não mostra em nenhum momento Boric consumindo drogas, e não encontramos nenhuma notícia da época que relacione a agressão a isso. Nas postagens mais recentes, a gravação foi editada para mostrar apenas o trecho em que o presidente eleito aparece já com a camisa e o cabelo molhados. 

O jornal chileno La Tercera informou que a agressão ocorreu no dia 20 de dezembro de 2019. Naquela época, Boric era deputado e assinou um acordo que abriria caminho uma nova Constituição para o Chile, aprovada em 2020. Isso fez com que seu partido, Convergência Social, decidisse suspender sua militância. Na tarde da agressão, um grupo de jovens o chamou de "traidor" e "vendido". 

Segundo a CNN chilena, Boric também era criticado por ter votado a favor de uma lei que foi usada para reprimir as manifestações que ocorriam no país naquela época - posteriormente, ele se arrependeu do posicionamento. Os protestos no Chile foram convocados inicialmente contra o aumento do preço de passagens de transporte público, mas eventualmente tiveram a pauta ampliada para incluir questões como saúde, educação, moradia e aposentadorias. Foram registrados vários episódios de violência durante as manifestações.

O canal de TV T13 informou que vários parlamentares repudiaram o ataque a Boric. Depois do episódio, ele escreveu no Twitter: "Que o medo nunca vença a esperança. Que a violência nunca intimide a convicção. Seguimos".

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Presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, em encontro com empresários em 13/01/2022. Foto: EFE/Alberto Valdés

Em nota enviada à AFP do Chile em 12 de janeiro de 2022, a equipe do presidente eleito afirmou: "Foi um ataque que o candidato recebeu em meio à convulsão social, onde se observa a humildade de Gabriel Boric. Como equipe acreditamos ser fundamental verificar os fatos, mas também os contextos e assim não contribuir para a divulgação de informações falsas".

A AFP mostrou que Boric foi relacionado ao consumo de drogas em outras ocasiões, inclusive pelo seu opositor durante a campanha presidencial, José Antonio Kast. Em um debate televisionado em 13 de dezembro de 2021, Kast defende que os dois candidatos se submetam a um teste de drogas. Boric então mostra um resultado negativo e afirma: "não sou consumidor de drogas". O presidente eleito publicou o exame em suas redes sociais. 

Além da AFP, o jornal peruano La Republica publicou uma checagem semelhante.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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